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Combatendo ódio com... ódio?

Este movimento coincide com a intenção divulgada pela administração federal de instituir instrumentos de controle das redes sociais

Money Report: a institucionalização do ódio (fhm/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2023 às 15h59.

O governo criou um grupo de trabalho, a ser coordenado pela ex-deputada Manuela D’Ávila, para combater o discurso de ódio e de extremismo. Essa comissão também terá a tarefa de propor ao ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, políticas públicas sobre o tema. Percebe-se, entre os 29 representantes da sociedade civil que integram a comissão, um forte alinhamento ideológico (ou pelo menos de apoio eleitoral) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A falta de representantes de direita e a escassez de participantes ligados ao Centro político é sintomática. Parece que a sociedade está dividida e que as manifestações de ódio estão restritas somente do lado conservador. É fato que a maioria das postagens raivosas nas redes parte da direita. Mas há direitistas e centristas que repudiam essa prática e que poderiam contribuir para uma discussão deste calibre.

Na prática, é como se o Fla-Flu fosse mediado por um árbitro que condena de antemão um dos lados – ou que torce deliberadamente para um time em particular.

Este movimento coincide com a intenção amplamente divulgada pela administração federal de instituir instrumentos de controle do conteúdo postado nas redes sociais (sem falar no interesse de Lula em “regular” a mídia). Por enquanto, o Supremo Tribunal Federal – em especial o ministro Alexandre de Moraes – está assumindo a função de controlador-mor de conteúdos nacionais. Mas, no que depender de Lula, essa tarefa deve ser repassada a alguma autoridade do Poder Executivo.

Controlar as mídias sociais, por mais nobre que seja essa intenção, é como enxugar gelo. Fecha-se uma conta que dissemina o ódio aqui, mas abre-se outra rapidamente, que vai ganhar milhares de seguidores quase que instantaneamente. Multa-se um influenciador e retira-se a sua capacidade de monetizar os conteúdos. Logo após isso, porém, outra pessoa é encarregada de ser o novo porta-voz de milhões de pessoas que desejam espalhar fake news e palavras raivosas.

A lógica para combater esse processo está invertida. O governo acha que existem influenciadores que insuflam multidões e criam ódio do nada. O que ocorre, no entanto, é o contrário: a cólera já existe e está incubada entre milhões de pessoas, esperando apenas um post que a catalise e a dissemine.

Muita dessa fúria coletiva surgiu na época da Lava-Jato, quando se descortinou um esquema de corrupção gigantesco na Petrobras, no qual vários partidos – com o PT à frente – usavam a estatal como uma central de propinas. Sete anos atrás, inclusive, um dos influenciadores deste grupo postou um vídeo, cheio de palavrões, que criticava os defensores do petismo. Ele gritava o seguinte: “Burro! Você é burro! Ou é burro ou é corrupto! Está recebendo dinheiro para fazer isso! Vocês são um atraso para o Brasil! Para todas as investigações, para todas as pessoas presas, não há vergonha em mudar de ideia. Você votou no PT […], não há vergonha em mudar de ideia agora. Pode assumir a m… que você fez. Mas, se mesmo assim, você achar que está certo, que o PT é a solução deste país, […] eu espero que você vá para a (palavrão)”.

Este vídeo, um exemplo combinado de rancor e enfurecimento, provavelmente cairia na malha fina do grupo que vai procurar combater os extremismos na rede. O que diria esse influenciador de 2016 se fosse censurado por ele mesmo, versão 2023?

Para discutirmos melhor o tema, precisamos de maior diversidade de opiniões e de ideias. Não adianta criarmos um consenso que combata apenas um lado do espectro ideológico, mesmo que este represente a maioria das postagens odiosas. E precisamos ir a fundo nas razões que movimentam essas massas cheias de fúria. Acreditar que elas são manipuladas por meia-dúzia de influenciadores é menosprezar uma grande parcela da população e buscar soluções ineficazes e inadequadas.

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O governo criou um grupo de trabalho, a ser coordenado pela ex-deputada Manuela D’Ávila, para combater o discurso de ódio e de extremismo. Essa comissão também terá a tarefa de propor ao ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, políticas públicas sobre o tema. Percebe-se, entre os 29 representantes da sociedade civil que integram a comissão, um forte alinhamento ideológico (ou pelo menos de apoio eleitoral) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A falta de representantes de direita e a escassez de participantes ligados ao Centro político é sintomática. Parece que a sociedade está dividida e que as manifestações de ódio estão restritas somente do lado conservador. É fato que a maioria das postagens raivosas nas redes parte da direita. Mas há direitistas e centristas que repudiam essa prática e que poderiam contribuir para uma discussão deste calibre.

Na prática, é como se o Fla-Flu fosse mediado por um árbitro que condena de antemão um dos lados – ou que torce deliberadamente para um time em particular.

Este movimento coincide com a intenção amplamente divulgada pela administração federal de instituir instrumentos de controle do conteúdo postado nas redes sociais (sem falar no interesse de Lula em “regular” a mídia). Por enquanto, o Supremo Tribunal Federal – em especial o ministro Alexandre de Moraes – está assumindo a função de controlador-mor de conteúdos nacionais. Mas, no que depender de Lula, essa tarefa deve ser repassada a alguma autoridade do Poder Executivo.

Controlar as mídias sociais, por mais nobre que seja essa intenção, é como enxugar gelo. Fecha-se uma conta que dissemina o ódio aqui, mas abre-se outra rapidamente, que vai ganhar milhares de seguidores quase que instantaneamente. Multa-se um influenciador e retira-se a sua capacidade de monetizar os conteúdos. Logo após isso, porém, outra pessoa é encarregada de ser o novo porta-voz de milhões de pessoas que desejam espalhar fake news e palavras raivosas.

A lógica para combater esse processo está invertida. O governo acha que existem influenciadores que insuflam multidões e criam ódio do nada. O que ocorre, no entanto, é o contrário: a cólera já existe e está incubada entre milhões de pessoas, esperando apenas um post que a catalise e a dissemine.

Muita dessa fúria coletiva surgiu na época da Lava-Jato, quando se descortinou um esquema de corrupção gigantesco na Petrobras, no qual vários partidos – com o PT à frente – usavam a estatal como uma central de propinas. Sete anos atrás, inclusive, um dos influenciadores deste grupo postou um vídeo, cheio de palavrões, que criticava os defensores do petismo. Ele gritava o seguinte: “Burro! Você é burro! Ou é burro ou é corrupto! Está recebendo dinheiro para fazer isso! Vocês são um atraso para o Brasil! Para todas as investigações, para todas as pessoas presas, não há vergonha em mudar de ideia. Você votou no PT […], não há vergonha em mudar de ideia agora. Pode assumir a m… que você fez. Mas, se mesmo assim, você achar que está certo, que o PT é a solução deste país, […] eu espero que você vá para a (palavrão)”.

Este vídeo, um exemplo combinado de rancor e enfurecimento, provavelmente cairia na malha fina do grupo que vai procurar combater os extremismos na rede. O que diria esse influenciador de 2016 se fosse censurado por ele mesmo, versão 2023?

Para discutirmos melhor o tema, precisamos de maior diversidade de opiniões e de ideias. Não adianta criarmos um consenso que combata apenas um lado do espectro ideológico, mesmo que este represente a maioria das postagens odiosas. E precisamos ir a fundo nas razões que movimentam essas massas cheias de fúria. Acreditar que elas são manipuladas por meia-dúzia de influenciadores é menosprezar uma grande parcela da população e buscar soluções ineficazes e inadequadas.

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