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Com ministros competentes, a vacinação já estaria em curso

Como Pazuello é um general da ativa, imagine se o Brasil estivesse em guerra com algum país vizinho. A chance de a infantaria ficar sem balas seria bastante grande

Eduardo Pazuello, Ministro da Saúde (Tony Winston/MS/Divulgação)
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isabelarovaroto

Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 10h47.

Última atualização em 21 de janeiro de 2021 às 11h57.

Quando se fala do ministério de Jair Bolsonaro , sempre há consenso (ou quase) de que há nomes de peso entre os titulares de pasta. Neste time estão Paulo Guedes (que já gozou de maior prestígio, diga-se), Tarcísio Gomes de Freitas e Tereza Cristina. Há também um grupo de ministros polêmicos, como Ricardo Salles e Damares Alves. E, finalmente, membros do governo que ganharam definitivamente o status de incompetentes. São eles Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo.

Se tivéssemos outros titulares nesses ministérios, a vacinação contra o coronavírus já estaria em curso.

Em primeiro lugar, Pazuello se perdeu ao insistir em uma barca furada – a de a cloroquina seria um substituto para a vacina, algo que jamais foi endossado por nenhuma autoridade sanitária. O ministro, agora, afirma que não falou o que disse, apelando para questões de léxico. No entanto, promoveu a cloroquina como uma panaceia, seguindo os passos de Bolsonaro, para ser desmentido pela Anvisa. A entidade foi bem clara ao registrar que a substância não tem efeito profilático.

Por fim, percebeu-se que o propalado talento do ministro – um especialista em logística – é bastante questionável. Episódios como o da falta de seringas descartáveis, discussões sobre preços de insumos quando a lei da oferta e da procura não está a favor do comprador e trapalhadas como ignorar a falta de suprimento de oxigênio mostram que o forte do general não é mesmo coordenar armazenamento, transporte e distribuição de suprimentos.

Como Pazuello é um general da ativa, imagine se o Brasil estivesse em guerra com algum país vizinho e precisasse de munição no front. Com o ministro da Saúde como responsável pela logística, a chance de a infantaria ficar sem balas seria bastante grande.

Quando tentou se justificar sobre suas declarações em favor da cloroquina, Pazuello disse que era um “leigo”, daí a dificuldade em se expressar corretamente. Neste ponto, é possível concordar com o ministro. Na condição de leigo, ele não tem a formação necessária para usar os termos corretos no campo da medicina e, também por isso, não tem capacidade para julgar a gravidade da situação. Para piorar a cenário, cercou-se de outros neófitos quando montou sua equipe no ministério. Suas primeiras nomeações foram 12 militares. Nenhum deles com formação em medicina.

Mas o que estava ruim pode piorar. Ontem, o ministro anunciou a contratação de um novo assessor, Marcos Eraldo Arnaud. Conhecido nas redes sociais como Markinhos Show, ele se apresenta como palestrante motivacional, master coach, analista em neuromarketing, hipnólogo e mentalista, entre outras, digamos, habilidades.

No caso de Ernesto Araújo, seu alinhamento com o escritor Olavo de Carvalho o influenciou a ponto de fustigar dois países que hoje são importantíssimos na distribuição mundial de vacinas, a China e a Índia. Araújo, inclusive, foi o responsável direto pelo fiasco passado pelo Brasil dias atrás, quando mandamos um avião à Índia para buscar 2 milhões de doses de vacinas indianas e demos com os burros n’água.

Impressionante foi a falta de sensibilidade com a qual tratou a Índia nas discussões envolvendo o conjunto de países que compõem o BRIC. Foi o mesmo Araújo que criou o desconforto entre as nações e não conseguiu reverter o mal estar. O troco veio a galope quando o Brasil mais precisou da ajuda de Nova Delhi.

A avaliação dos diplomatas indianos sobre o chanceler brasileiro é a pior possível. Araújo é definido com uma única palavra por seus interlocutores da Índia: arrogante. Ao ignorar que o Brasil estava em uma posição de desvantagem nessa negociação, disse às autoridades do outro país que seria um privilégio para a Índia fornecer vacinas ao Brasil. Resultado: seremos a última nação da região a receber imunizantes indianos.

A conclusão de tudo isso é óbvia: se tivéssemos ministros competentes nessas áreas, teríamos ganho pelo menos 30 dias no processo de vacinação que iniciamos no domingo. Ministros competentes alertam o presidente quando ele insiste em um conceito errado. Já vimos isso ocorrer em outras ocasiões, quando Bolsonaro voltou atrás em declarações bombásticas após ser alertado por auxiliares com preparação técnica. Mas o compromisso de Pazuello e de Araújo não parece ser com o Brasil – e sim fazer o de realizar as vontades do presidente, mesmo que o chefe esteja redondamente enganado.

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Quando se fala do ministério de Jair Bolsonaro , sempre há consenso (ou quase) de que há nomes de peso entre os titulares de pasta. Neste time estão Paulo Guedes (que já gozou de maior prestígio, diga-se), Tarcísio Gomes de Freitas e Tereza Cristina. Há também um grupo de ministros polêmicos, como Ricardo Salles e Damares Alves. E, finalmente, membros do governo que ganharam definitivamente o status de incompetentes. São eles Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo.

Se tivéssemos outros titulares nesses ministérios, a vacinação contra o coronavírus já estaria em curso.

Em primeiro lugar, Pazuello se perdeu ao insistir em uma barca furada – a de a cloroquina seria um substituto para a vacina, algo que jamais foi endossado por nenhuma autoridade sanitária. O ministro, agora, afirma que não falou o que disse, apelando para questões de léxico. No entanto, promoveu a cloroquina como uma panaceia, seguindo os passos de Bolsonaro, para ser desmentido pela Anvisa. A entidade foi bem clara ao registrar que a substância não tem efeito profilático.

Por fim, percebeu-se que o propalado talento do ministro – um especialista em logística – é bastante questionável. Episódios como o da falta de seringas descartáveis, discussões sobre preços de insumos quando a lei da oferta e da procura não está a favor do comprador e trapalhadas como ignorar a falta de suprimento de oxigênio mostram que o forte do general não é mesmo coordenar armazenamento, transporte e distribuição de suprimentos.

Como Pazuello é um general da ativa, imagine se o Brasil estivesse em guerra com algum país vizinho e precisasse de munição no front. Com o ministro da Saúde como responsável pela logística, a chance de a infantaria ficar sem balas seria bastante grande.

Quando tentou se justificar sobre suas declarações em favor da cloroquina, Pazuello disse que era um “leigo”, daí a dificuldade em se expressar corretamente. Neste ponto, é possível concordar com o ministro. Na condição de leigo, ele não tem a formação necessária para usar os termos corretos no campo da medicina e, também por isso, não tem capacidade para julgar a gravidade da situação. Para piorar a cenário, cercou-se de outros neófitos quando montou sua equipe no ministério. Suas primeiras nomeações foram 12 militares. Nenhum deles com formação em medicina.

Mas o que estava ruim pode piorar. Ontem, o ministro anunciou a contratação de um novo assessor, Marcos Eraldo Arnaud. Conhecido nas redes sociais como Markinhos Show, ele se apresenta como palestrante motivacional, master coach, analista em neuromarketing, hipnólogo e mentalista, entre outras, digamos, habilidades.

No caso de Ernesto Araújo, seu alinhamento com o escritor Olavo de Carvalho o influenciou a ponto de fustigar dois países que hoje são importantíssimos na distribuição mundial de vacinas, a China e a Índia. Araújo, inclusive, foi o responsável direto pelo fiasco passado pelo Brasil dias atrás, quando mandamos um avião à Índia para buscar 2 milhões de doses de vacinas indianas e demos com os burros n’água.

Impressionante foi a falta de sensibilidade com a qual tratou a Índia nas discussões envolvendo o conjunto de países que compõem o BRIC. Foi o mesmo Araújo que criou o desconforto entre as nações e não conseguiu reverter o mal estar. O troco veio a galope quando o Brasil mais precisou da ajuda de Nova Delhi.

A avaliação dos diplomatas indianos sobre o chanceler brasileiro é a pior possível. Araújo é definido com uma única palavra por seus interlocutores da Índia: arrogante. Ao ignorar que o Brasil estava em uma posição de desvantagem nessa negociação, disse às autoridades do outro país que seria um privilégio para a Índia fornecer vacinas ao Brasil. Resultado: seremos a última nação da região a receber imunizantes indianos.

A conclusão de tudo isso é óbvia: se tivéssemos ministros competentes nessas áreas, teríamos ganho pelo menos 30 dias no processo de vacinação que iniciamos no domingo. Ministros competentes alertam o presidente quando ele insiste em um conceito errado. Já vimos isso ocorrer em outras ocasiões, quando Bolsonaro voltou atrás em declarações bombásticas após ser alertado por auxiliares com preparação técnica. Mas o compromisso de Pazuello e de Araújo não parece ser com o Brasil – e sim fazer o de realizar as vontades do presidente, mesmo que o chefe esteja redondamente enganado.

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