Carro popular: outra ideia que mostra como Lula ficou ultrapassado
Ideia pode até acontecer, mas há uma mudança significativa no comportamento do consumidor; entenda os principais pontos
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Publicado em 22 de maio de 2023 às 16h54.
Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que vai recuperar o programa de carros populares no Brasil, pois mesmo os automóveis mais baratos são vendidos na faixa de R$ 80.000, um preço considerado muito alto pelo mandatário. Esse programa, para quem não se lembra, surgiu no governo de Itamar Franco, mais de 30 anos atrás, e fez ressurgir das cinzas o Fusca, que já havia sido aposentado. Além disso, introduziu no mercado os carros com motores de mil cilindradas. Todos gozavam de um benefício fiscal que reduzia em muitos seus preços e isso atraiu muitos consumidores, que normalmente não poderiam comprar um carro zero-quilômetro.
Um estudo feito pela Federação Nacional de Distribuição de Veículos e publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra, porém, que o mercado mudou muito nos últimos anos – e que talvez esses automóveis baratos não tenham exatamente um grande apelo aos jovens motoristas. Em 2012, por exemplo, o segmento dos chamados carros de entrada (onde estariam esses populares que Lula quer ressuscitar) respondia por 31,3% de todas as vendas brasileiras. Os chamados SUVs, nessa mesma época, eram responsáveis por 8,8% das transações.
Hoje, no entanto, o mercado é completamente diferente: os SUVs são a categoria mais vendida no Brasil, com 46,6% do mercado. E os carros populares têm uma venda consolidada de 9,3%. Lula acredita que o lançamento de um veículo mais barato vai reaquecer esse mercado e atender as classes mais baixas, que poderão comprar um carro a preços mais módicos.
Isso pode até acontecer, mas há uma mudança significativa no comportamento do consumidor. Em primeiro lugar, o carro popular não tem mais tanto apelo. As pessoas, hoje, preferem SUVs: mais altos, mais seguros e mais espaçosos. Os números mostram isso.
Ainda nesse aspecto, a população mais jovem não tem tanto interesse em possuir um carro. Prefere se deslocar através do transporte público, seja ônibus, metrô, táxi ou aplicativos de mobilidade. Para essa geração, a posse de um bem não é tão importante. Por isso, tanto faz o preço do automóvel que ele utiliza.
Preço dos carros só aumentou nos últimos tempos
Além disso, há três explicações para que o preço dos carros tenha aumentado tanto nos últimos tempos. Como as leis de segurança mudaram no país da década de 1990 para cá, os veículos ficaram mais caros porque incorporaram itens que antes eram opcionais, como airbags. Isso eleva os custos de produção e o preço final. O mesmo ocorre com a constante automação dos veículos, com chips que controlam todo o funcionamento dos veículos – também um fator que eleva os valores finais. Por fim, nos últimos trinta anos, o brasileiro deixou de comprar carros com duas portas e câmbio manual. Quase todos os modelos à venda hoje têm quatro portas e marcha automática. Some-se tudo isso a uma cotação de dólar alta (a moeda americana é a base de boa parte da matéria-prima automobilística) e termos um preço bem mais alto que os de outrora.
O que chama atenção em tudo isso é a visão ultrapassada de Lula sobre o assunto e a intenção de adotar soluções que funcionaram no passado – mas que não necessariamente terão sucesso agora. O presidente da República precisa se reciclar em relação a esse assunto e a muitos outros. O Brasil de hoje é completamente diferente daquele que ele conheceu em seus dois primeiros mandatos.
Entender as necessidades dos cidadãos e oferecer soluções para os problemas atuais é prioridade do presidente da República. Mas, para isso, ele não pode olhar o presente com o olhar do passado. Lula precisa se cercar de gente que traduza esse novo mundo para ele – incluindo um cenário político no qual ele não pode mais radicalizar o discurso e continuar a cutucar o empresariado. O Brasil de hoje quer abraçar a modernidade e crescer. Só poderá fazer isso com um ambiente de negócios produtivo e leve, sem sobressaltos.
Esperemos que os conselheiros mais próximos do presidente entendam as transformações pelas quais o Brasil passou nos últimos tempos e produzam ideias que possam ser realmente frutíferas e sintonizadas com o que a população brasileira realmente precisa.
Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que vai recuperar o programa de carros populares no Brasil, pois mesmo os automóveis mais baratos são vendidos na faixa de R$ 80.000, um preço considerado muito alto pelo mandatário. Esse programa, para quem não se lembra, surgiu no governo de Itamar Franco, mais de 30 anos atrás, e fez ressurgir das cinzas o Fusca, que já havia sido aposentado. Além disso, introduziu no mercado os carros com motores de mil cilindradas. Todos gozavam de um benefício fiscal que reduzia em muitos seus preços e isso atraiu muitos consumidores, que normalmente não poderiam comprar um carro zero-quilômetro.
Um estudo feito pela Federação Nacional de Distribuição de Veículos e publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra, porém, que o mercado mudou muito nos últimos anos – e que talvez esses automóveis baratos não tenham exatamente um grande apelo aos jovens motoristas. Em 2012, por exemplo, o segmento dos chamados carros de entrada (onde estariam esses populares que Lula quer ressuscitar) respondia por 31,3% de todas as vendas brasileiras. Os chamados SUVs, nessa mesma época, eram responsáveis por 8,8% das transações.
Hoje, no entanto, o mercado é completamente diferente: os SUVs são a categoria mais vendida no Brasil, com 46,6% do mercado. E os carros populares têm uma venda consolidada de 9,3%. Lula acredita que o lançamento de um veículo mais barato vai reaquecer esse mercado e atender as classes mais baixas, que poderão comprar um carro a preços mais módicos.
Isso pode até acontecer, mas há uma mudança significativa no comportamento do consumidor. Em primeiro lugar, o carro popular não tem mais tanto apelo. As pessoas, hoje, preferem SUVs: mais altos, mais seguros e mais espaçosos. Os números mostram isso.
Ainda nesse aspecto, a população mais jovem não tem tanto interesse em possuir um carro. Prefere se deslocar através do transporte público, seja ônibus, metrô, táxi ou aplicativos de mobilidade. Para essa geração, a posse de um bem não é tão importante. Por isso, tanto faz o preço do automóvel que ele utiliza.
Preço dos carros só aumentou nos últimos tempos
Além disso, há três explicações para que o preço dos carros tenha aumentado tanto nos últimos tempos. Como as leis de segurança mudaram no país da década de 1990 para cá, os veículos ficaram mais caros porque incorporaram itens que antes eram opcionais, como airbags. Isso eleva os custos de produção e o preço final. O mesmo ocorre com a constante automação dos veículos, com chips que controlam todo o funcionamento dos veículos – também um fator que eleva os valores finais. Por fim, nos últimos trinta anos, o brasileiro deixou de comprar carros com duas portas e câmbio manual. Quase todos os modelos à venda hoje têm quatro portas e marcha automática. Some-se tudo isso a uma cotação de dólar alta (a moeda americana é a base de boa parte da matéria-prima automobilística) e termos um preço bem mais alto que os de outrora.
O que chama atenção em tudo isso é a visão ultrapassada de Lula sobre o assunto e a intenção de adotar soluções que funcionaram no passado – mas que não necessariamente terão sucesso agora. O presidente da República precisa se reciclar em relação a esse assunto e a muitos outros. O Brasil de hoje é completamente diferente daquele que ele conheceu em seus dois primeiros mandatos.
Entender as necessidades dos cidadãos e oferecer soluções para os problemas atuais é prioridade do presidente da República. Mas, para isso, ele não pode olhar o presente com o olhar do passado. Lula precisa se cercar de gente que traduza esse novo mundo para ele – incluindo um cenário político no qual ele não pode mais radicalizar o discurso e continuar a cutucar o empresariado. O Brasil de hoje quer abraçar a modernidade e crescer. Só poderá fazer isso com um ambiente de negócios produtivo e leve, sem sobressaltos.
Esperemos que os conselheiros mais próximos do presidente entendam as transformações pelas quais o Brasil passou nos últimos tempos e produzam ideias que possam ser realmente frutíferas e sintonizadas com o que a população brasileira realmente precisa.