Brasil, o país em que impera a irresponsabilidade
O último exemplo deste esporte nacional foi o balão que caiu em pleno aeroporto de Guarulhos
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2022 às 13h56.
Aluizio Falcão Filho
A irresponsabilidade em altíssimo grau é algo tão grave que deveria estar na lista dos sete pecados capitais. Como tudo na vida, este tipo de comportamento se apresenta em intensidades diferentes. Nos estágios iniciais, a falta de responsabilidade – como a do estudante que não faz uma lição de casa – é quase inofensiva. Mas, conforme, vai escalando níveis mais sofisticados, torna-se um perigo para aquele que a pratica e para a sociedade. Nesta semana, tivemos um exemplo assustador – um balão gigante que caiu em cima de um avião em pleno aeroporto de Guarulhos. Uma tragédia poderia ter ocorrido caso as chamas do artefato tivessem aterrissado em cima de uma mangueira de combustível (existem várias nos pátios de Cumbica).
Todos sabem – crianças inclusive – os perigos que envolvem essa atividade.
Centenas de incêndios, por exemplo, ocorrem por conta de balões. O pior é que por trás dessa prática não está um “lobo solitário” – um maluco que resolveu sozinho desafiar a lei e colocar a vida dos outros em risco. Atrás de cada balão está sempre um grupo de pessoas. Esses bandos podem ajuntar até 300 indivíduos.
Irresponsáveis se dedicam com afinco à confecção desses balões e saem em sua perseguição após soltá-los. Além do risco de incêndio, podem também causar acidentes de trânsito em busca de recuperar o dispositivo, que pode ter vários elementos reaproveitados. Por isso, é o caso de se perguntar: o que se passa na cabeça de alguém que faz uma coisa dessas?
Não existe explicação lógica para este comportamento. Mas é possível arriscar alguns palpites para tentar explicar tamanha imprudência. Um deles é torrente de emoções que toma o corpo de alguém que desafia o perigo – algo que, nem de longe, pode valer arriscar vidas humanas. O que se viu no aeroporto, neste final de semana, foi lamentável: muita gente poderia ter morrido ou ficado ferida.
Casos como esse lembram o do influenciador que botou a vida de seguidores em risco ao tentar escalar uma montanha no interior de São Paulo sem ter conhecimento técnico para isso ou experiência na região. São pessoas que não pensam nos outros ou no resultado de suas ações. Vivem em uma adolescência eterna e em busca de emoções fugazes, que servem apenas para atenuar frustrações e eventuais traumas psicológicos.
Mas há outro tipo de irresponsabilidade. Trata-se daquela em que há apenas o descaso e seu autor não sente nenhum arrepio. Esse é o tipo exercido pelo influenciador que abriu a boca para falar de nazismo sem nenhum pingo de empatia no raciocínio. Ou do deputado que foi em sua cola e corroborou o pensamento irresponsável.
Também temos a irresponsabilidade econômica – uma que vem sendo praticada nesses meses que antecedem a eleição. Em nome do pleito que se aproxima, o governo tenta promulgar projetos e emendas constitucionais que podem inflar o déficit público de forma preocupante. Brincar com o fogo fiscal é algo perigosíssimo, pois pode gerar inflação e retração nos investimentos produtivos. Mas temos certos políticos que desejam apenas ganhar as eleições, nem que tenham de criar um pepino gigantesco para o país nos próximos anos.
“Estamos no limite da irresponsabilidade”. Alguém se lembra dessa frase? Foi proferida por Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor do Banco do Brasil responsável pelas privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, ao explicar uma carta de fiança de valor gigantesco dada ao um consórcio que desejava arrematar a Telemar (operadora de telefonia que atuaria no Rio de Janeiro e no Norte do Brasil). Esta frase, revelada pela imprensa em um grampo, se tornou célebre e acabou virando um dos símbolos daquilo que se chamou de “privataria” da era FHC.
Muito acham que a corrupção é o maior problema brasileiro. Mas a irresponsabilidade também é uma endemia a ser combatida. Decisões desatinadas são tomadas sem que se pense nas consequências porque, como se diz por aí, “os fins justificam os meios”. É hora de recuperarmos a responsabilidade, em nome do futuro do país. Chega de pensar somente no que acontece aqui e agora. Se não olharmos para o amanhã, seremos sempre uma promessa que não conseguiu ser materializada – um jovem inteligente e talentoso que se transforma, aos poucos, em um velho ranzinza, rancoroso e sem realizações na vida.
Aluizio Falcão Filho
A irresponsabilidade em altíssimo grau é algo tão grave que deveria estar na lista dos sete pecados capitais. Como tudo na vida, este tipo de comportamento se apresenta em intensidades diferentes. Nos estágios iniciais, a falta de responsabilidade – como a do estudante que não faz uma lição de casa – é quase inofensiva. Mas, conforme, vai escalando níveis mais sofisticados, torna-se um perigo para aquele que a pratica e para a sociedade. Nesta semana, tivemos um exemplo assustador – um balão gigante que caiu em cima de um avião em pleno aeroporto de Guarulhos. Uma tragédia poderia ter ocorrido caso as chamas do artefato tivessem aterrissado em cima de uma mangueira de combustível (existem várias nos pátios de Cumbica).
Todos sabem – crianças inclusive – os perigos que envolvem essa atividade.
Centenas de incêndios, por exemplo, ocorrem por conta de balões. O pior é que por trás dessa prática não está um “lobo solitário” – um maluco que resolveu sozinho desafiar a lei e colocar a vida dos outros em risco. Atrás de cada balão está sempre um grupo de pessoas. Esses bandos podem ajuntar até 300 indivíduos.
Irresponsáveis se dedicam com afinco à confecção desses balões e saem em sua perseguição após soltá-los. Além do risco de incêndio, podem também causar acidentes de trânsito em busca de recuperar o dispositivo, que pode ter vários elementos reaproveitados. Por isso, é o caso de se perguntar: o que se passa na cabeça de alguém que faz uma coisa dessas?
Não existe explicação lógica para este comportamento. Mas é possível arriscar alguns palpites para tentar explicar tamanha imprudência. Um deles é torrente de emoções que toma o corpo de alguém que desafia o perigo – algo que, nem de longe, pode valer arriscar vidas humanas. O que se viu no aeroporto, neste final de semana, foi lamentável: muita gente poderia ter morrido ou ficado ferida.
Casos como esse lembram o do influenciador que botou a vida de seguidores em risco ao tentar escalar uma montanha no interior de São Paulo sem ter conhecimento técnico para isso ou experiência na região. São pessoas que não pensam nos outros ou no resultado de suas ações. Vivem em uma adolescência eterna e em busca de emoções fugazes, que servem apenas para atenuar frustrações e eventuais traumas psicológicos.
Mas há outro tipo de irresponsabilidade. Trata-se daquela em que há apenas o descaso e seu autor não sente nenhum arrepio. Esse é o tipo exercido pelo influenciador que abriu a boca para falar de nazismo sem nenhum pingo de empatia no raciocínio. Ou do deputado que foi em sua cola e corroborou o pensamento irresponsável.
Também temos a irresponsabilidade econômica – uma que vem sendo praticada nesses meses que antecedem a eleição. Em nome do pleito que se aproxima, o governo tenta promulgar projetos e emendas constitucionais que podem inflar o déficit público de forma preocupante. Brincar com o fogo fiscal é algo perigosíssimo, pois pode gerar inflação e retração nos investimentos produtivos. Mas temos certos políticos que desejam apenas ganhar as eleições, nem que tenham de criar um pepino gigantesco para o país nos próximos anos.
“Estamos no limite da irresponsabilidade”. Alguém se lembra dessa frase? Foi proferida por Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor do Banco do Brasil responsável pelas privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, ao explicar uma carta de fiança de valor gigantesco dada ao um consórcio que desejava arrematar a Telemar (operadora de telefonia que atuaria no Rio de Janeiro e no Norte do Brasil). Esta frase, revelada pela imprensa em um grampo, se tornou célebre e acabou virando um dos símbolos daquilo que se chamou de “privataria” da era FHC.
Muito acham que a corrupção é o maior problema brasileiro. Mas a irresponsabilidade também é uma endemia a ser combatida. Decisões desatinadas são tomadas sem que se pense nas consequências porque, como se diz por aí, “os fins justificam os meios”. É hora de recuperarmos a responsabilidade, em nome do futuro do país. Chega de pensar somente no que acontece aqui e agora. Se não olharmos para o amanhã, seremos sempre uma promessa que não conseguiu ser materializada – um jovem inteligente e talentoso que se transforma, aos poucos, em um velho ranzinza, rancoroso e sem realizações na vida.