Bolsonaro vai se controlar nos debates?
A pergunta que fica é: qual Bolsonaro comparecerá ao debate? O controlado ou o colérico?
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2022 às 14h09.
Última atualização em 10 de outubro de 2022 às 14h28.
Aluizio Falcão Filho
Logo depois que os resultados do primeiro turno tinham sido divulgados, o presidente Jair Bolsonaro entrou ao vivo nas emissoras de TV para uma entrevista coletiva. Estava comedido, usando tom moderado e sem as lacrações de sempre – ou seja, não parecia do Bolsonaro velho de guerra. Essa atitude animou muitos aliados do presidente, que sempre o aconselharam a conquistar o voto dos eleitores de centro através do comedimento. Logo na última sexta-feira, porém, o mandatário deu outra entrevista. E, nessa, voltou a ser o personagem habitual. Chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “pinguço” e novamente falou, falou e falou sobre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. As fotos da coletiva, divulgadas pelos principais jornais e disseminadas pela internet, mostram um Bolsonaro tomado pela cólera.
No próximo domingo, teremos o primeiro debate entre os candidatos à presidência. E, até o dia 28, teremos mais quatro embates. A pergunta que fica é: qual Bolsonaro comparecerá ao debate? O controlado ou o colérico?
A dinâmica dos debates de segundo turno é completamente diferente daqueles realizados na primeira etapa das eleições. Nesses, em função do grande número de candidatos, é possível utilizar alguém da bancada para alavancar críticas a seu principal oponente. Tanto é que o presidente evitou o quanto pôde um conflito direto com Lula. A partir de 16 de outubro, entretanto, não há outra saída a não ser o tête-à-tête com o inimigo.
A audiência, igualmente, está em outra sintonia. Os eleitores de Bolsonaro e Lula querem escutar propostas e, principalmente, estudar a postura dos candidatos. Neste cenário, quem se descontrolar emocionalmente sairá em desvantagem.
O presidente Jair Bolsonaro tem aversão a qualquer tipo de treinamento para programas de televisão deste tipo. Essa providência não resolve tudo, obviamente, mas boa parte dos assuntos polêmicos pode ser tratada antecipadamente e, com isso, suavizar o impacto emocional das perguntas e críticas feitas ao vivo.
Mas há outra questão em jogo: a linguagem corporal e as expressões faciais que os candidatos farão durante a transmissão. Esses são elementos importantes, capturados pelo subconsciente dos telespectadores, que podem levar à vitória ou à derrota.
O controle emocional, assim, é crucial neste momento. Trata-se de uma questão que precisa ser levada em consideração por Bolsonaro, que se sente confortável em um clima belicoso. Mas é um ponto significativo também para Lula. Recentemente, em momentos de improvisação, o candidato do PT cometeu gafes e criticou, por exemplo, os eleitores interioranos. A irritação de Lula com o Padre Kelmon, ainda no primeiro turno, também mostra que ele está sujeito a provocações.
Um exemplo clássico de como as imagens em um debate podem ser importantíssimas para uma eleição é o programa de TV que reuniu John F. Kennedy e Richard Nixon, em setembro de 1961. Para quem acompanhou a discussão entre os dois candidatos pelo rádio, Nixon foi o vencedor; já para que acompanhou o programa na televisão, JFK foi muito superior. A diferença ficou por conta justamente na linguagem corporal de Nixon, que estava intimidado pelas câmaras e distribuía sorrisos tímidos, além de suar bastante. Kennedy, ao contrário, estava à vontade no estúdio e seu semblante passava confiança e segurança.
Kennedy e Nixon não são Lula e Bolsonaro. São situações diferentes, com personagens totalmente diversos. Mas o exemplo de 1961 é importante mesmo assim, pois mostra que o conteúdo do debate não é a única coisa percebida pelo eleitorado. Portanto, se o presidente optar pela lacração agressiva, elevando a voz e tornando seu tom áspero, como fez na entrevista de sexta-feira, poderá estar em maus lençóis junto aos eleitores de centro que precisa arregimentar para vencer no segundo turno.
Aluizio Falcão Filho
Logo depois que os resultados do primeiro turno tinham sido divulgados, o presidente Jair Bolsonaro entrou ao vivo nas emissoras de TV para uma entrevista coletiva. Estava comedido, usando tom moderado e sem as lacrações de sempre – ou seja, não parecia do Bolsonaro velho de guerra. Essa atitude animou muitos aliados do presidente, que sempre o aconselharam a conquistar o voto dos eleitores de centro através do comedimento. Logo na última sexta-feira, porém, o mandatário deu outra entrevista. E, nessa, voltou a ser o personagem habitual. Chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “pinguço” e novamente falou, falou e falou sobre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. As fotos da coletiva, divulgadas pelos principais jornais e disseminadas pela internet, mostram um Bolsonaro tomado pela cólera.
No próximo domingo, teremos o primeiro debate entre os candidatos à presidência. E, até o dia 28, teremos mais quatro embates. A pergunta que fica é: qual Bolsonaro comparecerá ao debate? O controlado ou o colérico?
A dinâmica dos debates de segundo turno é completamente diferente daqueles realizados na primeira etapa das eleições. Nesses, em função do grande número de candidatos, é possível utilizar alguém da bancada para alavancar críticas a seu principal oponente. Tanto é que o presidente evitou o quanto pôde um conflito direto com Lula. A partir de 16 de outubro, entretanto, não há outra saída a não ser o tête-à-tête com o inimigo.
A audiência, igualmente, está em outra sintonia. Os eleitores de Bolsonaro e Lula querem escutar propostas e, principalmente, estudar a postura dos candidatos. Neste cenário, quem se descontrolar emocionalmente sairá em desvantagem.
O presidente Jair Bolsonaro tem aversão a qualquer tipo de treinamento para programas de televisão deste tipo. Essa providência não resolve tudo, obviamente, mas boa parte dos assuntos polêmicos pode ser tratada antecipadamente e, com isso, suavizar o impacto emocional das perguntas e críticas feitas ao vivo.
Mas há outra questão em jogo: a linguagem corporal e as expressões faciais que os candidatos farão durante a transmissão. Esses são elementos importantes, capturados pelo subconsciente dos telespectadores, que podem levar à vitória ou à derrota.
O controle emocional, assim, é crucial neste momento. Trata-se de uma questão que precisa ser levada em consideração por Bolsonaro, que se sente confortável em um clima belicoso. Mas é um ponto significativo também para Lula. Recentemente, em momentos de improvisação, o candidato do PT cometeu gafes e criticou, por exemplo, os eleitores interioranos. A irritação de Lula com o Padre Kelmon, ainda no primeiro turno, também mostra que ele está sujeito a provocações.
Um exemplo clássico de como as imagens em um debate podem ser importantíssimas para uma eleição é o programa de TV que reuniu John F. Kennedy e Richard Nixon, em setembro de 1961. Para quem acompanhou a discussão entre os dois candidatos pelo rádio, Nixon foi o vencedor; já para que acompanhou o programa na televisão, JFK foi muito superior. A diferença ficou por conta justamente na linguagem corporal de Nixon, que estava intimidado pelas câmaras e distribuía sorrisos tímidos, além de suar bastante. Kennedy, ao contrário, estava à vontade no estúdio e seu semblante passava confiança e segurança.
Kennedy e Nixon não são Lula e Bolsonaro. São situações diferentes, com personagens totalmente diversos. Mas o exemplo de 1961 é importante mesmo assim, pois mostra que o conteúdo do debate não é a única coisa percebida pelo eleitorado. Portanto, se o presidente optar pela lacração agressiva, elevando a voz e tornando seu tom áspero, como fez na entrevista de sexta-feira, poderá estar em maus lençóis junto aos eleitores de centro que precisa arregimentar para vencer no segundo turno.