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Bolsonaro talvez torça em segredo para ter Lula como oponente em 2022

Caso o PT obtenha condições de lançar Lula como candidato daqui a dois anos, Jair Bolsonaro terá diante de si a reedição do antagonismo esquerda-direita que o ajudou em 2018

O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (Amanda Perobelli/Reuters)
BG

Bibiana Guaraldi

Publicado em 17 de fevereiro de 2021 às 14h46.

Jair Bolsonaro foi eleito presidente em cima da plataforma que privilegiava o antipetismo e a cruzada contra a corrupção, com uma aparente defesa inquebrantável da Operação Lava-Jato. Por isso, o presidente, em tese, seria um inimigo do cancelamento da sentença que condenou em duas instâncias o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva .

A vida, no entanto, é cheia de dilemas morais. Bolsonaro é antipetista e, em tese, contrário à corrupção, o motivo principal para a condenação do maior representante do Partido dos Trabalhadores. Mas, para ele, o melhor cenário para 2022 talvez seja a anulação da sentença imputada a Lula.

Caso o PT obtenha condições de lançar o ex-presidente como candidato daqui a dois anos, Jair Bolsonaro terá diante de si a reedição do antagonismo esquerda-direita que o ajudou em 2018. Se isso ocorrer, as chances de termos um segundo turno entre Bolsonaro e Lula seriam bastante razoáveis.

Por que esta composição seria benéfica para o presidente Bolsonaro? A ressaca dos 14 anos de poder petista ainda não passou e deve chegar a 2022 com bastante força. Neste caso, muitos eleitores que hoje criticam Bolsonaro podem sufragar o presidente para barrar a volta do PT ao poder.

Lula, ao mesmo tempo, pode atrair eleitores que votariam em Luciano Huck ou outro candidato que personificasse o antibolsonarismo. O ex-presidente reagruparia a esquerda, de um lado, e traria uma parcela de votos centristas para sua chapa.

Ao apostar em um segundo turno turbinado por extremos ideológicos, é de se esperar que Bolsonaro passe a trazer de volta ao palco o fantasma do comunismo, como forma de amedrontar a classe média e angariar mais votos. Trata-se, no entanto, de um balela. Governos comunistas estão em extinção no mundo todo e o próprio PT, em 14 anos de gestão, conviveu bem até demais com o capitalismo.

Boa parte da classe média que hoje insufla os números de desaprovação presidencial nas pesquisas poderia, por falta de opções concretas à direita, votar em Bolsonaro no próximo pleito. Com Lula candidato, as chances de isso ocorrer podem se concretizar.

Neste caso, como será o discurso do PT? Quando Lula foi preso, o partido elevou a octanagem das declarações de seus principais representantes – alguns deles insinuaram que haveria um levante popular contra o encarceramento do ex-presidente. O próprio petista, ao ser solto, também proferiu algumas frases que lembravam mais o líder sindical do que aquele que governou o Brasil de 2003 a 2011. Portanto, permanece a dúvida: teremos um candidato com discurso esquerdista clássico ou teremos uma versão 2.0 do “Lulinha Paz e Amor”?

Caso enverede pelo radicalismo, Lula se mostrará totalmente diferente de Bolsonaro, mas deverá elevar seu índice de rejeição junto ao eleitor médio. Entretanto, se rumar em direção ao centro, promovendo um entendimento nacional, corre o risco de ter seu discurso desconstruído nas redes sociais. Um impasse que pode ser amenizado com uma tropa de choque digital – mas não totalmente resolvido.

Caso o processo contra Lula seja anulado, haverá um bônus para Bolsonaro: esta invalidação pode fustigar o ex-juiz Sergio Moro, sempre apontado como um candidato em potencial para 2022.

Se Moro pleitear o Planalto, sofrerá com a revogação da condenação do presidente de honra do PT e será atacado nas redes sociais por bolsonaristas e lulistas. Para entrar nessa briga para valer precisa reforçar sua presença nas redes digitais e não apenas se defender – mas também atacar os adversários. É sempre bom lembrar que, entre os candidatos atuais, Moro é o único com números que conseguem incomodar o presidente da República.

Não deixa de ser um paradoxo: para ter mais chances, Bolsonaro terá de trabalhar em silêncio para liberar seu principal adversário para a briga eleitoral. Como esse dilema moral vai cair na consciência do general Eduardo Villas Boas, que advertiu o STF em 2018 sobre a votação que poderia libertar Lula? Em abril de 2018, ele escreveu o seguinte: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”. A mensagem original, sabe-se agora, era bem mais veemente e foi suavizada.

Como Villas-Boas reagiria agora, em 17 de fevereiro de 2021, ao cancelamento da sentença de Lula? Seria pragmático ou manteria seu idealismo? A cabeça do general deve estar fervilhando neste exato momento.

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Jair Bolsonaro foi eleito presidente em cima da plataforma que privilegiava o antipetismo e a cruzada contra a corrupção, com uma aparente defesa inquebrantável da Operação Lava-Jato. Por isso, o presidente, em tese, seria um inimigo do cancelamento da sentença que condenou em duas instâncias o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva .

A vida, no entanto, é cheia de dilemas morais. Bolsonaro é antipetista e, em tese, contrário à corrupção, o motivo principal para a condenação do maior representante do Partido dos Trabalhadores. Mas, para ele, o melhor cenário para 2022 talvez seja a anulação da sentença imputada a Lula.

Caso o PT obtenha condições de lançar o ex-presidente como candidato daqui a dois anos, Jair Bolsonaro terá diante de si a reedição do antagonismo esquerda-direita que o ajudou em 2018. Se isso ocorrer, as chances de termos um segundo turno entre Bolsonaro e Lula seriam bastante razoáveis.

Por que esta composição seria benéfica para o presidente Bolsonaro? A ressaca dos 14 anos de poder petista ainda não passou e deve chegar a 2022 com bastante força. Neste caso, muitos eleitores que hoje criticam Bolsonaro podem sufragar o presidente para barrar a volta do PT ao poder.

Lula, ao mesmo tempo, pode atrair eleitores que votariam em Luciano Huck ou outro candidato que personificasse o antibolsonarismo. O ex-presidente reagruparia a esquerda, de um lado, e traria uma parcela de votos centristas para sua chapa.

Ao apostar em um segundo turno turbinado por extremos ideológicos, é de se esperar que Bolsonaro passe a trazer de volta ao palco o fantasma do comunismo, como forma de amedrontar a classe média e angariar mais votos. Trata-se, no entanto, de um balela. Governos comunistas estão em extinção no mundo todo e o próprio PT, em 14 anos de gestão, conviveu bem até demais com o capitalismo.

Boa parte da classe média que hoje insufla os números de desaprovação presidencial nas pesquisas poderia, por falta de opções concretas à direita, votar em Bolsonaro no próximo pleito. Com Lula candidato, as chances de isso ocorrer podem se concretizar.

Neste caso, como será o discurso do PT? Quando Lula foi preso, o partido elevou a octanagem das declarações de seus principais representantes – alguns deles insinuaram que haveria um levante popular contra o encarceramento do ex-presidente. O próprio petista, ao ser solto, também proferiu algumas frases que lembravam mais o líder sindical do que aquele que governou o Brasil de 2003 a 2011. Portanto, permanece a dúvida: teremos um candidato com discurso esquerdista clássico ou teremos uma versão 2.0 do “Lulinha Paz e Amor”?

Caso enverede pelo radicalismo, Lula se mostrará totalmente diferente de Bolsonaro, mas deverá elevar seu índice de rejeição junto ao eleitor médio. Entretanto, se rumar em direção ao centro, promovendo um entendimento nacional, corre o risco de ter seu discurso desconstruído nas redes sociais. Um impasse que pode ser amenizado com uma tropa de choque digital – mas não totalmente resolvido.

Caso o processo contra Lula seja anulado, haverá um bônus para Bolsonaro: esta invalidação pode fustigar o ex-juiz Sergio Moro, sempre apontado como um candidato em potencial para 2022.

Se Moro pleitear o Planalto, sofrerá com a revogação da condenação do presidente de honra do PT e será atacado nas redes sociais por bolsonaristas e lulistas. Para entrar nessa briga para valer precisa reforçar sua presença nas redes digitais e não apenas se defender – mas também atacar os adversários. É sempre bom lembrar que, entre os candidatos atuais, Moro é o único com números que conseguem incomodar o presidente da República.

Não deixa de ser um paradoxo: para ter mais chances, Bolsonaro terá de trabalhar em silêncio para liberar seu principal adversário para a briga eleitoral. Como esse dilema moral vai cair na consciência do general Eduardo Villas Boas, que advertiu o STF em 2018 sobre a votação que poderia libertar Lula? Em abril de 2018, ele escreveu o seguinte: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”. A mensagem original, sabe-se agora, era bem mais veemente e foi suavizada.

Como Villas-Boas reagiria agora, em 17 de fevereiro de 2021, ao cancelamento da sentença de Lula? Seria pragmático ou manteria seu idealismo? A cabeça do general deve estar fervilhando neste exato momento.

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