As razões que dão vitória a Bolsonaro na pesquisa de EXAME
Pesquisa Exame/IDEIA mostra que presidente seria reeleito com grande vantagem se a eleição de 2022 fosse hoje
carolinaingizza
Publicado em 5 de setembro de 2020 às 12h50.
A pesquisa divulgada ontem pelo site da revista EXAME mostra que o presidente Jair Bolsonaro seria reeleito com grande vantagem se a eleição fosse realizada hoje. O estudo, realizado pela Exame Research , braço de análise de investimentos da revista, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, atesta que a nova fase do presidente, combinando discrição no embate com os demais poderes e uma boa dose de populismo, caiu no gosto dos eleitores.
Ao mesmo tempo, a pesquisa mostra que vivemos em um país dividido. Ao contrário do que experimentamos em 2018, não há exatamente uma divisão entre direita e esquerda ou entre bolsonaristas e lulistas. Não temos mais uma dicotomia, ou apenas dois blocos dominantes. O estudo de EXAME mostra que a Nação está dividida em três grupos. Os números apurados em relação às intenções de voto no segundo turno mostram claramente essa repartição.
Numa primeira simulação, Bolsonaro enfrentaria Luiz Inácio Lula da Silva . Neste caso, ele ganharia com 42% dos sufrágios e Lula chegaria a 31%; aqueles que não souberam responder são 6%. Brancos e nulos atingiram a marca de 21%. Na segunda hipótese, Sérgio Moro seria o adversário no segundo turno. O placar, neste caso, seria 38% para Bolsonaro e 31% para Moro. Indecisos somam 8 % enquanto brancos e nulos chegam a 23%.
O consórcio EXAME/IDEIA também fez um exercício com João Doria no segundo turno, mas o governador de São Paulo obteve apenas 17%, enquanto Bolsonaro ficou com 41%. Neste cenário, indecisos, nulos e brancos, somados, chegam a 42%.
Percebe-se, assim, que temos um grupo claramente satisfeito com o governo. Dependendo das opções, o tamanho deste eleitorado vai de 38% a 42% do total. Há, de outro lado, os que votariam contra o presidente, qualquer que fosse o opositor – as três simulações utilizam nomes completamente diferentes entre si, sendo que dois deles (Lula e Moro) são notórios inimigos.
Neste ajuntamento de oposicionistas, há eleitores de esquerda, quando Lula é candidato. Mas também existem os de direita, apoiadores da Operação Lava-Jato, prontos a sufragar Moro quando o ex-ministro é o candidato contra Bolsonaro. Neste caso, temos claramente a uma metamorfose ambulante na parcela de indecisos, nulos e brancos. Quando o candidato é Lula, os eleitores de direita de oposição ficam sem alternativa; quando o opositor a Bolsonaro é Moro, no entanto, os esquerdistas não querem votar em nenhum dos candidatos.
Por fim, há um grupo que não está satisfeito com nenhuma das opções: Bolsonaro, Lula, Moro ou Doria. Esses eleitores não confiam nesses candidatos por razões diversas e talvez estejam na espera de um novo nome. Talvez estejam nesta congregação eleitores de Luciano Huck (que obteve 5% na enquete em relação ao primeiro turno) e de João Amoêdo (3% entre as intenções na primeira etapa de votação).
Outra conclusão que se pode tirar deste estudo EXAME/IDEIA é o encolhimento do eleitorado de esquerda. Nas intenções de voto do primeiro turno, os candidatos que representam tradicionalmente o voto esquerdista aglutinam 26% (Lula, Ciro Gomes, Marina Silva e Flávio Dino). Temos 1% da soma de candidatos nanicos e 14% de indecisos, brancos e nulos (onde se concentram os insatisfeitos).
A soma de candidaturas de centro e de direita totalizam 59%. Há um detalhe, porém. Desses 59%, 31% são de Bolsonaro e os 28% restantes são de candidatos que fazem oposição ao presidente (Moro, Doria, Huck, Luiz Henrique Mandetta e Amoêdo). É importante ressaltar, porém, que neste grupo de centro-direitistas apenas um nome tem palanque garantido até 2020 – o governador João Doria. Os demais precisam ficar cavando espaço, uma hora aqui e a outra ali, para ficar em evidência. Neste aspecto, o recall de Sergio Moro, que está fora do governo há pouco mais de quatro meses, é digno de registro. Mas o ex-ministro terá o mesmo desempenho daqui para frente? A ver.
Por fim, esses números revelam que boa parte dos votos de Lula e Dilma Rousseff em suas reeleições devem ter sido consequência das ações sociais do PT, em especial o Bolsa Família. Nos primeiros turnos de 2006 e 2014, Lula cravou 48% e Dilma 41%—muito acima dos 17% que o PT obteria hoje na etapa inicial do pleito. Essa revoada de eleitores passou para o lado de Bolsonaro e a resposta para isso está em outra pesquisa, também realizada pela dupla EXAME/IDEIA. Este outro estudo mostra que 65% dos brasileiros acreditam ser o presidente o principal responsável pelo auxílio emergencial distribuído pelo governo.
Ao assumir-se mais populista, Bolsonaro tomou votos de Lula até no Nordeste. Mas há uma pegadinha: eleitores não ideológicos são notoriamente infiéis, especialmente aqueles que são fisgados pelo assistencialismo. Estes podem mudar de lado político do mesmo jeito que trocam de sapatos. Este será um desafio importante para Huck e Doria. Ambos têm um pé em ações sociais, mas nada de uma maneira tão desbragada como Bolsonaro, que ainda não descobriu o tamanho exato dos cofres públicos e quanto pode gastar. Ele poderá promover uma gastança do dinheiro público durante dois anos? Dificilmente. Diante de várias incertezas que se descortinam no futuro próximo, duas coisas são certas: o presidente manterá o Nordeste no foco de sua atuação e fará tudo para deixar as torneiras públicas abertas.
A pesquisa divulgada ontem pelo site da revista EXAME mostra que o presidente Jair Bolsonaro seria reeleito com grande vantagem se a eleição fosse realizada hoje. O estudo, realizado pela Exame Research , braço de análise de investimentos da revista, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, atesta que a nova fase do presidente, combinando discrição no embate com os demais poderes e uma boa dose de populismo, caiu no gosto dos eleitores.
Ao mesmo tempo, a pesquisa mostra que vivemos em um país dividido. Ao contrário do que experimentamos em 2018, não há exatamente uma divisão entre direita e esquerda ou entre bolsonaristas e lulistas. Não temos mais uma dicotomia, ou apenas dois blocos dominantes. O estudo de EXAME mostra que a Nação está dividida em três grupos. Os números apurados em relação às intenções de voto no segundo turno mostram claramente essa repartição.
Numa primeira simulação, Bolsonaro enfrentaria Luiz Inácio Lula da Silva . Neste caso, ele ganharia com 42% dos sufrágios e Lula chegaria a 31%; aqueles que não souberam responder são 6%. Brancos e nulos atingiram a marca de 21%. Na segunda hipótese, Sérgio Moro seria o adversário no segundo turno. O placar, neste caso, seria 38% para Bolsonaro e 31% para Moro. Indecisos somam 8 % enquanto brancos e nulos chegam a 23%.
O consórcio EXAME/IDEIA também fez um exercício com João Doria no segundo turno, mas o governador de São Paulo obteve apenas 17%, enquanto Bolsonaro ficou com 41%. Neste cenário, indecisos, nulos e brancos, somados, chegam a 42%.
Percebe-se, assim, que temos um grupo claramente satisfeito com o governo. Dependendo das opções, o tamanho deste eleitorado vai de 38% a 42% do total. Há, de outro lado, os que votariam contra o presidente, qualquer que fosse o opositor – as três simulações utilizam nomes completamente diferentes entre si, sendo que dois deles (Lula e Moro) são notórios inimigos.
Neste ajuntamento de oposicionistas, há eleitores de esquerda, quando Lula é candidato. Mas também existem os de direita, apoiadores da Operação Lava-Jato, prontos a sufragar Moro quando o ex-ministro é o candidato contra Bolsonaro. Neste caso, temos claramente a uma metamorfose ambulante na parcela de indecisos, nulos e brancos. Quando o candidato é Lula, os eleitores de direita de oposição ficam sem alternativa; quando o opositor a Bolsonaro é Moro, no entanto, os esquerdistas não querem votar em nenhum dos candidatos.
Por fim, há um grupo que não está satisfeito com nenhuma das opções: Bolsonaro, Lula, Moro ou Doria. Esses eleitores não confiam nesses candidatos por razões diversas e talvez estejam na espera de um novo nome. Talvez estejam nesta congregação eleitores de Luciano Huck (que obteve 5% na enquete em relação ao primeiro turno) e de João Amoêdo (3% entre as intenções na primeira etapa de votação).
Outra conclusão que se pode tirar deste estudo EXAME/IDEIA é o encolhimento do eleitorado de esquerda. Nas intenções de voto do primeiro turno, os candidatos que representam tradicionalmente o voto esquerdista aglutinam 26% (Lula, Ciro Gomes, Marina Silva e Flávio Dino). Temos 1% da soma de candidatos nanicos e 14% de indecisos, brancos e nulos (onde se concentram os insatisfeitos).
A soma de candidaturas de centro e de direita totalizam 59%. Há um detalhe, porém. Desses 59%, 31% são de Bolsonaro e os 28% restantes são de candidatos que fazem oposição ao presidente (Moro, Doria, Huck, Luiz Henrique Mandetta e Amoêdo). É importante ressaltar, porém, que neste grupo de centro-direitistas apenas um nome tem palanque garantido até 2020 – o governador João Doria. Os demais precisam ficar cavando espaço, uma hora aqui e a outra ali, para ficar em evidência. Neste aspecto, o recall de Sergio Moro, que está fora do governo há pouco mais de quatro meses, é digno de registro. Mas o ex-ministro terá o mesmo desempenho daqui para frente? A ver.
Por fim, esses números revelam que boa parte dos votos de Lula e Dilma Rousseff em suas reeleições devem ter sido consequência das ações sociais do PT, em especial o Bolsa Família. Nos primeiros turnos de 2006 e 2014, Lula cravou 48% e Dilma 41%—muito acima dos 17% que o PT obteria hoje na etapa inicial do pleito. Essa revoada de eleitores passou para o lado de Bolsonaro e a resposta para isso está em outra pesquisa, também realizada pela dupla EXAME/IDEIA. Este outro estudo mostra que 65% dos brasileiros acreditam ser o presidente o principal responsável pelo auxílio emergencial distribuído pelo governo.
Ao assumir-se mais populista, Bolsonaro tomou votos de Lula até no Nordeste. Mas há uma pegadinha: eleitores não ideológicos são notoriamente infiéis, especialmente aqueles que são fisgados pelo assistencialismo. Estes podem mudar de lado político do mesmo jeito que trocam de sapatos. Este será um desafio importante para Huck e Doria. Ambos têm um pé em ações sociais, mas nada de uma maneira tão desbragada como Bolsonaro, que ainda não descobriu o tamanho exato dos cofres públicos e quanto pode gastar. Ele poderá promover uma gastança do dinheiro público durante dois anos? Dificilmente. Diante de várias incertezas que se descortinam no futuro próximo, duas coisas são certas: o presidente manterá o Nordeste no foco de sua atuação e fará tudo para deixar as torneiras públicas abertas.