As cinco vezes em que Bolsonaro comprou briga à toa
Voltar atrás em decisões, no governo federal, é algo que provoca desgastes políticos e desperdício de talentos.
Victor Sena
Publicado em 28 de setembro de 2020 às 09h30.
Nos últimos dias, os analistas políticos passaram a reportar que o ministro da Economia, Paulo Guedes, recebeu a autorização do presidente Jair Bolsonaro para estudar a introdução de um tributo cujo mecanismo é igual ao da antiga CPMF – um sonho antigo de Guedes. Mas, caso essa versão seja de fato verdadeira, o ex-secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, que deixou o governo em setembro do ano passado, foi demitido à toa. O motivo para a exoneração foi justamente a insistência em que o então secretário defendeu a introdução deste encargo, algo que já tinha sido rechaçado por Bolsonaro inúmeras vezes.
Guedes, aparentemente, não desistiu da ideia e continuou sua campanha em favor da nova taxa. Caso o novo tributo de fato seja implementado, Cintra poderá se sentir vingado. À revista Veja, neste final de semana, o ex-titular da Receita afirmou: “Vejo no fato de o Bolsonaro aceitar a CPMF como uma vitória pessoal minha. Não tenho apego a cargo, se estou ou não no governo é indiferente. Estava lá para ajudar o país. Fui vitimado por um ato intempestivo por parte do presidente contra isso. Do meu ponto de vista, de forma equivocada.”
Além desse, há pelo menos outros quatro casos em que Bolsonaro insistiu em um caminho que resultou em pelo menos uma exoneração inútil.
Em junho de 2019, o general Carlos Alberto Santos Cruz foi demitido da Secretaria de Governo por ter supostamente utilizado uma mensagem de WhatsApp para criticar o presidente, dois de seus filhos e também o secretário de Comunicação, Fábio Wajgarten. O diálogo, que vazou, foi negado por Santos Cruz que, naquele exato momento, estava em um voo e sem acesso à internet. Mesmo assim, o presidente acreditou na versão e exonerou o general. Em janeiro deste ano, a Polícia Federal divulgou que as mensagens eram falsas e que Santos Cruz jamais teria atacado nenhum dos personagens do círculo do presidente daquela forma.
Logo no início de sua administração, Bolsonaro também criou uma quizumba danada em relação ao Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, porque ele teria marcado uma reunião com representantes da TV Globo. Deste episódio teve início um desentendimento que provocou a saída de Bebianno do governo (ele morreria, de infarto, em março de 2020). Só que, alguns meses atrás, o ministro Fabio Faria tomou pose na pasta das Comunicações justamente com a missão de aplainar as relações entre o governo e os veículos de imprensa, incluindo aqueles pertencentes à família Marinho.
Em abril deste ano, ainda no início da pandemia, o presidente Bolsonaro usou o microfone da rede CNN para desancar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Uma das frases usadas pelo mandatário foi a seguinte: “Quando você fala em diálogo, a gente sabe qual é o teu diálogo, então esse tipo de diálogo não vai ter comigo".
u seja, houve uma clara insinuação de que Maia queria algum tipo de vantagem indevida para conversar com o Executivo. O presidente da Câmara não ligou para a provocação e deixou a crise política perder tração. Dias depois, o Executivo firmou um acordo com o Centrão para garantir os votos no Congresso e entregou inúmeros cargos na mão do grupo político. Se era para entregar cargos na mão de políticos adeptos do fisiologismo, por que brigar com Maia dizendo que não iria fazer nenhum tipo de negociação espúria?
Por fim, em agosto último, o governo deixou bem claro ao então secretário Paulo Uebel que deixaria a reforma administrativa apenas para o ano que vem. A reação de Uebel, assim, foi justamente pedir o boné, o que aconteceu em seguida. Três semanas depois, no entanto, o Executivo mudou de ideia e encaminhou uma proposta de Reforma Administrativa ao Congresso. Por que, então se permitiu um quadro como Uebel deixar a Esplanada dos Ministérios?
Voltar atrás em decisões, no governo federal, é algo que provoca desgastes políticos e desperdício de talentos. O ideal é não criar marolas desnecessárias, como as descritas acima. Mas apostar em uma solução como a CPMF trará algum tipo de ônus político ao governo, especialmente porque há várias gravações com o presidente afirmando taxativamente que esse tipo de tributo não seria utilizado novamente. Se o Executivo não criar uma campanha de comunicação eficaz e mostrar por que a nova CPMF pode ser algo benéfico para o país, o Planalto terá de lidar com o pior dos mundos – uma população insatisfeita, uma economia ainda longe da recuperação e uma proximidade perigosa com a reeleição.
Nos últimos dias, os analistas políticos passaram a reportar que o ministro da Economia, Paulo Guedes, recebeu a autorização do presidente Jair Bolsonaro para estudar a introdução de um tributo cujo mecanismo é igual ao da antiga CPMF – um sonho antigo de Guedes. Mas, caso essa versão seja de fato verdadeira, o ex-secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, que deixou o governo em setembro do ano passado, foi demitido à toa. O motivo para a exoneração foi justamente a insistência em que o então secretário defendeu a introdução deste encargo, algo que já tinha sido rechaçado por Bolsonaro inúmeras vezes.
Guedes, aparentemente, não desistiu da ideia e continuou sua campanha em favor da nova taxa. Caso o novo tributo de fato seja implementado, Cintra poderá se sentir vingado. À revista Veja, neste final de semana, o ex-titular da Receita afirmou: “Vejo no fato de o Bolsonaro aceitar a CPMF como uma vitória pessoal minha. Não tenho apego a cargo, se estou ou não no governo é indiferente. Estava lá para ajudar o país. Fui vitimado por um ato intempestivo por parte do presidente contra isso. Do meu ponto de vista, de forma equivocada.”
Além desse, há pelo menos outros quatro casos em que Bolsonaro insistiu em um caminho que resultou em pelo menos uma exoneração inútil.
Em junho de 2019, o general Carlos Alberto Santos Cruz foi demitido da Secretaria de Governo por ter supostamente utilizado uma mensagem de WhatsApp para criticar o presidente, dois de seus filhos e também o secretário de Comunicação, Fábio Wajgarten. O diálogo, que vazou, foi negado por Santos Cruz que, naquele exato momento, estava em um voo e sem acesso à internet. Mesmo assim, o presidente acreditou na versão e exonerou o general. Em janeiro deste ano, a Polícia Federal divulgou que as mensagens eram falsas e que Santos Cruz jamais teria atacado nenhum dos personagens do círculo do presidente daquela forma.
Logo no início de sua administração, Bolsonaro também criou uma quizumba danada em relação ao Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, porque ele teria marcado uma reunião com representantes da TV Globo. Deste episódio teve início um desentendimento que provocou a saída de Bebianno do governo (ele morreria, de infarto, em março de 2020). Só que, alguns meses atrás, o ministro Fabio Faria tomou pose na pasta das Comunicações justamente com a missão de aplainar as relações entre o governo e os veículos de imprensa, incluindo aqueles pertencentes à família Marinho.
Em abril deste ano, ainda no início da pandemia, o presidente Bolsonaro usou o microfone da rede CNN para desancar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Uma das frases usadas pelo mandatário foi a seguinte: “Quando você fala em diálogo, a gente sabe qual é o teu diálogo, então esse tipo de diálogo não vai ter comigo".
u seja, houve uma clara insinuação de que Maia queria algum tipo de vantagem indevida para conversar com o Executivo. O presidente da Câmara não ligou para a provocação e deixou a crise política perder tração. Dias depois, o Executivo firmou um acordo com o Centrão para garantir os votos no Congresso e entregou inúmeros cargos na mão do grupo político. Se era para entregar cargos na mão de políticos adeptos do fisiologismo, por que brigar com Maia dizendo que não iria fazer nenhum tipo de negociação espúria?
Por fim, em agosto último, o governo deixou bem claro ao então secretário Paulo Uebel que deixaria a reforma administrativa apenas para o ano que vem. A reação de Uebel, assim, foi justamente pedir o boné, o que aconteceu em seguida. Três semanas depois, no entanto, o Executivo mudou de ideia e encaminhou uma proposta de Reforma Administrativa ao Congresso. Por que, então se permitiu um quadro como Uebel deixar a Esplanada dos Ministérios?
Voltar atrás em decisões, no governo federal, é algo que provoca desgastes políticos e desperdício de talentos. O ideal é não criar marolas desnecessárias, como as descritas acima. Mas apostar em uma solução como a CPMF trará algum tipo de ônus político ao governo, especialmente porque há várias gravações com o presidente afirmando taxativamente que esse tipo de tributo não seria utilizado novamente. Se o Executivo não criar uma campanha de comunicação eficaz e mostrar por que a nova CPMF pode ser algo benéfico para o país, o Planalto terá de lidar com o pior dos mundos – uma população insatisfeita, uma economia ainda longe da recuperação e uma proximidade perigosa com a reeleição.