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Ambição: se você não tem, está morto e não sabe

Pesquisa mostra que somente 38% dos ouvidos (pertencentes à chamada geração Z) tinham interesse em cargos de chefia

Jovem desmotivado: encarar os desafios é algo dolorido. Mas essa dor nos faz crescer em todos os aspectos (Getty Images/Getty Images)

Publicado em 26 de março de 2024 às 15h17.

Gordon Gekko, o cínico personagem vivido por Michael Douglas no filme “Wall Street”, tem uma alma feita de pedra. Uma de suas frases mais emblemáticas é: “Se você precisa de um amigo, compre um cachorro”. Nesta película, há uma cena que chama a atenção e serve de contraponto para uma tendência da atualidade: a falta de ambição (“quiet ambition”). Em uma assembleia de acionistas, Gekko diz: “Meu ponto é, senhoras e senhores, que a ambição, na falta de uma palavra melhor, é uma coisa boa. Ambição funciona, clarifica, irrompe e captura a essência do espírito da evolução humana. Ambição em todas as suas formas: pela vida, por dinheiro, por amor, conhecimento. Isso é o que marcou a ascensão da humanidade”.

Esses argumentos vieram à mente quando li, pela décima vez neste ano, um texto sobre a tal “ quiet ambition ”, um termo cunhado há um ano em reportagem da revista Fortune. O texto, calcado em uma pesquisa, mostrava que somente 38 % dos ouvidos (pertencentes à chamada geração Z) tinham interesse em cargos de chefia, enquanto os 62 % restantes prefeririam ser subalternos de alguém.

Muitos analistas explicam o fenômeno de uma forma simplista: essa geração viu pais e avôs sendo consumidos pelo estresse e pressionados por resultados. Diante disso, o ideal seria uma vida mais pacata, sem amarras, priorizando o que acontece fora do expediente e com flexibilidade suficiente para viagens de lazer.

Talvez existam mais explicações. Uma delas é a criação que os pais (eu incluso) deram para esses jovens de hoje, pavimentando seus caminhos e reduzindo as dificuldades que surgiram à frente. Essa geração não consegue lidar direito com dificuldades – e ser chefe é, antes de mais nada, ter vários problemas para resolver.

O número de gente disposta a destrinchar questões espinhosas diminuiu substancialmente. Isso faz muitos indivíduos rejeitar um modelo de carreira que passa necessariamente por responsabilidades administrativas. Afinal, conforme se galgam os degraus da hierarquia profissional, há mais dinheiro – só que surgem várias coisas chatas que precisam ser feitas.

Durante uma entrevista recente com Natalie Klein, da NK Store, percebi duas coisas interessantes. Uma é que ela, herdeira de um dos maiores grupos de varejo do país, tinha uma motivação empreendedora nata e nunca pensou em colocar o burro na sombra. O outro ponto: quando sua empresa começou a crescer, ela percebeu que não era boa na área financeira, já que seu grande talento sempre foi trabalhar com moda. O que ela fez? Conquistou um mestrado em finanças.

Encarar os desafios é algo dolorido. Mas essa dor nos faz crescer em todos os aspectos.

Obtive meu primeiro cargo de chefia aos vinte e cinco anos. Meus colegas de chefia tinham ultrapassado os 35 anos de idade. Eu sabia que não tinha a mesma experiência que eles, mas tentei compensar essa desvantagem com trabalho duro. Comecei com apenas um subordinado e, depois, minha equipe foi crescendo.

Estava preparado para o desafio? Não. Mas era ambicioso: queria ser diretor de redação e, na sequência, Publisher. Apenas pelo dinheiro? Não. Meu desejo era moldar uma publicação, criar conteúdos diferentes e semear conhecimento entre os leitores. Tinha noção de que a pressão, durante essa trajetória e ao final dela, seria fortíssima – e foi. E que teria de lidar com aspectos administrativos que nunca foram o meu forte. Consegui encarar essas barreiras e posso dizer que tive uma carreira de sucesso. Teria construído esse legado sem ambição? Não.

Sempre que penso em ambição, lembro de duas frases que ouvi, ambas ditas por artistas fora do mundo corporativo. Um deles é Bono Vox, vocalista do U2. Ele diz que “é a letargia que mata você no final, não a ambição”. E o pintor Salvador Dali tem outra pérola: “inteligência sem ambição é como um pássaro sem asas”.

Tenho fé que essa geração ainda vai perceber que a ambição é uma parte importante na vida de qualquer um. E que não está relacionada apenas ao dinheiro. A pressão que vem com cargos de chefia é um preço a pagar. Mas a recompensa (intelectual, principalmente) vale muito esse sacrifício.

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Esses argumentos vieram à mente quando li, pela décima vez neste ano, um texto sobre a tal “ quiet ambition ”, um termo cunhado há um ano em reportagem da revista Fortune. O texto, calcado em uma pesquisa, mostrava que somente 38 % dos ouvidos (pertencentes à chamada geração Z) tinham interesse em cargos de chefia, enquanto os 62 % restantes prefeririam ser subalternos de alguém.

Muitos analistas explicam o fenômeno de uma forma simplista: essa geração viu pais e avôs sendo consumidos pelo estresse e pressionados por resultados. Diante disso, o ideal seria uma vida mais pacata, sem amarras, priorizando o que acontece fora do expediente e com flexibilidade suficiente para viagens de lazer.

Talvez existam mais explicações. Uma delas é a criação que os pais (eu incluso) deram para esses jovens de hoje, pavimentando seus caminhos e reduzindo as dificuldades que surgiram à frente. Essa geração não consegue lidar direito com dificuldades – e ser chefe é, antes de mais nada, ter vários problemas para resolver.

O número de gente disposta a destrinchar questões espinhosas diminuiu substancialmente. Isso faz muitos indivíduos rejeitar um modelo de carreira que passa necessariamente por responsabilidades administrativas. Afinal, conforme se galgam os degraus da hierarquia profissional, há mais dinheiro – só que surgem várias coisas chatas que precisam ser feitas.

Durante uma entrevista recente com Natalie Klein, da NK Store, percebi duas coisas interessantes. Uma é que ela, herdeira de um dos maiores grupos de varejo do país, tinha uma motivação empreendedora nata e nunca pensou em colocar o burro na sombra. O outro ponto: quando sua empresa começou a crescer, ela percebeu que não era boa na área financeira, já que seu grande talento sempre foi trabalhar com moda. O que ela fez? Conquistou um mestrado em finanças.

Encarar os desafios é algo dolorido. Mas essa dor nos faz crescer em todos os aspectos.

Obtive meu primeiro cargo de chefia aos vinte e cinco anos. Meus colegas de chefia tinham ultrapassado os 35 anos de idade. Eu sabia que não tinha a mesma experiência que eles, mas tentei compensar essa desvantagem com trabalho duro. Comecei com apenas um subordinado e, depois, minha equipe foi crescendo.

Estava preparado para o desafio? Não. Mas era ambicioso: queria ser diretor de redação e, na sequência, Publisher. Apenas pelo dinheiro? Não. Meu desejo era moldar uma publicação, criar conteúdos diferentes e semear conhecimento entre os leitores. Tinha noção de que a pressão, durante essa trajetória e ao final dela, seria fortíssima – e foi. E que teria de lidar com aspectos administrativos que nunca foram o meu forte. Consegui encarar essas barreiras e posso dizer que tive uma carreira de sucesso. Teria construído esse legado sem ambição? Não.

Sempre que penso em ambição, lembro de duas frases que ouvi, ambas ditas por artistas fora do mundo corporativo. Um deles é Bono Vox, vocalista do U2. Ele diz que “é a letargia que mata você no final, não a ambição”. E o pintor Salvador Dali tem outra pérola: “inteligência sem ambição é como um pássaro sem asas”.

Tenho fé que essa geração ainda vai perceber que a ambição é uma parte importante na vida de qualquer um. E que não está relacionada apenas ao dinheiro. A pressão que vem com cargos de chefia é um preço a pagar. Mas a recompensa (intelectual, principalmente) vale muito esse sacrifício.

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