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Algumas considerações sobre o futuro de Geraldo Alckmin

Alckmin está novamente jogando parado. Ele tem consciência de seu cacife político e, inerte, está obrigando o universo eleitoral se movimentar ao seu redor

Geraldo Alckmin (Andre Coelho/Bloomberg)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de novembro de 2021 às 10h00.

Aluizio Falcão Filho

O ex-ministro Nelson Jobim tem uma ótima definição sobre o estilo político do ex-governador Geraldo Alckmin . “Ele sabe jogar parado”, diz Jobim, referindo-se à habilidade que alguns futebolistas, como o eterno Ademir da Guia, têm de observar o jogo e, com pouco esforço, se colocar para receber um passe dos colegas.

Neste exato momento, Alckmin está novamente jogando parado. Ele tem consciência de seu cacife político e, inerte, está obrigando o universo eleitoral se movimentar ao seu redor. Ele fez, por enquanto, esforços mínimos na arena política – anunciou que deverá sair do PSDB, partido que ajudou a fundar, e teve alguns encontros com dirigentes de outras siglas.

Ele é uma noiva desejada entre as siglas, menos entre os tucanos paulistas, cujo diretório é controlado pelo ex-pupilo e atual desafeto, o governador João Doria Júnior. Doria quer lançar como sucessor seu vice, Rodrigo Garcia, e ofereceu a legenda para que Alckmin disputasse o Senado. Mas o ex-governador, aparentemente, quer voltar ao Palácio dos Bandeirantes e preferiu sair do PSDB para se candidatar por outra sigla em 2022.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viu, neste cenário, uma oportunidade e passou a cortejar Alckmin para ser seu vice. Com isso, mataria dois coelhos com uma só cajadada: daria um caráter mais conservador à sua chapa e, ao mesmo tempo, elevaria as chances de seu correligionário, Fernando Haddad, ao governo de São Paulo.

Ontem, pelo Twitter, Lula desconversou um pouco sobre o tema, mas rasgou seda para o ainda tucano. “Política é como futebol, você dá uma canelada no cara, ele cai chorando de dor, mas depois que termina o jogo, eles se encontram, se abraçam, vão tomar uma cerveja e discutir o próximo jogo. Política é assim. Nas divergências todo mundo joga bruto porque quer ganhar”, escreveu. “Eu disputei as eleições de 2006 com o Alckmin, mas tenho profundo respeito por ele. Mas eu não tô discutindo vice ainda porque não discuti a minha candidatura. Quando eu decidir, aí sim eu vou sair a campo pra procurar alguém pra ser vice”.

Em maio, durante uma live com o ex-prefeito Haddad, Alckmin foi convidado a firmar uma espécie de pacto com o PT contra o presidente Jair Bolsonaro. Como Lula fez agora, ele saiu pela tangente. “O PSDB terá candidato próprio. Nós trabalharemos pela terceira via. Temos divergências tanto em relação ao Bolsonaro quanto ao PT. Vamos acreditar e estar lá no segundo turno com a terceira via”, afirmou (em um momento em que já havia decidido deixar a agremiação tucana).

O que Alckmin ganharia ao aceitar a vice de Lula? Em caso de vitória, um cargo decorativo, sem muita influência na gestão direta (apesar das promessas feitas a todos os vices, eles nunca tiveram, de fato, uma posição de destaque em qualquer governo brasileiro, democrático ou não). Ao mesmo tempo, ele perderia boa parte de seu eleitor médio – o paulista do interior e o paulistano com vocações mais conservadoras.

O que Lula tem a ganhar com Alckmin? Não se pode dizer que o ex-governador teria como somar uma quantidade expressiva de votos no território nacional. Mas, quando foi candidato em 2002, o petista estava mais preocupado em aplacar as preocupações de empresários e banqueiros do que encontrar alguém que reforçasse sua posição junto aos eleitores. É por isso que o industrial José Alencar foi ungido como seu vice. Neste caso, portanto, haveria a expectativa de acalmar o mercado financeiro com o nome do ex-governador na chapa do PT.

Alckmin completará 70 anos em 2022. Ou seja, possivelmente ele concorrerá pela última vez em uma eleição. Talvez ele prefira lutar por uma posição na qual possa ser protagonista, como governador, do que ser coadjuvante de um político bastante carismático.

Há um elemento emocional também nessa escolha – embora o ex-governador seja uma pessoa controlada e racional. Ele nunca engoliu o comportamento de João Doria após a eleição municipal de 2016 e durante a campanha de 2018. Por isso, derrotar o candidato do atual mandatário paulista teria um sabor especial.

Mas Alckmin não se deixa levar pela raiva ou pela mágoa. Trata-se de um político experiente, que tomará decisões na hora certa – seja a saída do PSDB, a filiação a outro partido ou a definição de qual rumo eleitoral seguir. Ele é um exemplo vivo de que, em política, os cenários mudam quando menos se espera. Alguns anos atrás, Alckmin era chamado de anódino e sem carisma – no popular, um verdadeiro picolé de chuchu. Em 2021, no entanto, os caciques políticos conseguiram enxergar um tempero especial na personalidade do ex-governador. Suas decisões, assim, terão efeito imediato no pleito nacional e nas urnas de São Paulo. Nada como um dia após o outro.

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Ele é uma noiva desejada entre as siglas, menos entre os tucanos paulistas, cujo diretório é controlado pelo ex-pupilo e atual desafeto, o governador João Doria Júnior. Doria quer lançar como sucessor seu vice, Rodrigo Garcia, e ofereceu a legenda para que Alckmin disputasse o Senado. Mas o ex-governador, aparentemente, quer voltar ao Palácio dos Bandeirantes e preferiu sair do PSDB para se candidatar por outra sigla em 2022.

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Ontem, pelo Twitter, Lula desconversou um pouco sobre o tema, mas rasgou seda para o ainda tucano. “Política é como futebol, você dá uma canelada no cara, ele cai chorando de dor, mas depois que termina o jogo, eles se encontram, se abraçam, vão tomar uma cerveja e discutir o próximo jogo. Política é assim. Nas divergências todo mundo joga bruto porque quer ganhar”, escreveu. “Eu disputei as eleições de 2006 com o Alckmin, mas tenho profundo respeito por ele. Mas eu não tô discutindo vice ainda porque não discuti a minha candidatura. Quando eu decidir, aí sim eu vou sair a campo pra procurar alguém pra ser vice”.

Em maio, durante uma live com o ex-prefeito Haddad, Alckmin foi convidado a firmar uma espécie de pacto com o PT contra o presidente Jair Bolsonaro. Como Lula fez agora, ele saiu pela tangente. “O PSDB terá candidato próprio. Nós trabalharemos pela terceira via. Temos divergências tanto em relação ao Bolsonaro quanto ao PT. Vamos acreditar e estar lá no segundo turno com a terceira via”, afirmou (em um momento em que já havia decidido deixar a agremiação tucana).

O que Alckmin ganharia ao aceitar a vice de Lula? Em caso de vitória, um cargo decorativo, sem muita influência na gestão direta (apesar das promessas feitas a todos os vices, eles nunca tiveram, de fato, uma posição de destaque em qualquer governo brasileiro, democrático ou não). Ao mesmo tempo, ele perderia boa parte de seu eleitor médio – o paulista do interior e o paulistano com vocações mais conservadoras.

O que Lula tem a ganhar com Alckmin? Não se pode dizer que o ex-governador teria como somar uma quantidade expressiva de votos no território nacional. Mas, quando foi candidato em 2002, o petista estava mais preocupado em aplacar as preocupações de empresários e banqueiros do que encontrar alguém que reforçasse sua posição junto aos eleitores. É por isso que o industrial José Alencar foi ungido como seu vice. Neste caso, portanto, haveria a expectativa de acalmar o mercado financeiro com o nome do ex-governador na chapa do PT.

Alckmin completará 70 anos em 2022. Ou seja, possivelmente ele concorrerá pela última vez em uma eleição. Talvez ele prefira lutar por uma posição na qual possa ser protagonista, como governador, do que ser coadjuvante de um político bastante carismático.

Há um elemento emocional também nessa escolha – embora o ex-governador seja uma pessoa controlada e racional. Ele nunca engoliu o comportamento de João Doria após a eleição municipal de 2016 e durante a campanha de 2018. Por isso, derrotar o candidato do atual mandatário paulista teria um sabor especial.

Mas Alckmin não se deixa levar pela raiva ou pela mágoa. Trata-se de um político experiente, que tomará decisões na hora certa – seja a saída do PSDB, a filiação a outro partido ou a definição de qual rumo eleitoral seguir. Ele é um exemplo vivo de que, em política, os cenários mudam quando menos se espera. Alguns anos atrás, Alckmin era chamado de anódino e sem carisma – no popular, um verdadeiro picolé de chuchu. Em 2021, no entanto, os caciques políticos conseguiram enxergar um tempero especial na personalidade do ex-governador. Suas decisões, assim, terão efeito imediato no pleito nacional e nas urnas de São Paulo. Nada como um dia após o outro.

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