O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e o presidente, Michel Temer (Beto Barata/PR/Reprodução)
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Publicado em 5 de agosto de 2025 às 15h18.
Última atualização em 5 de agosto de 2025 às 15h18.
Na confusão que se avizinha com as sanções aplicadas por Donald Trump ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, há dois personagens principais. Um deles é o próprio ministro; o outro é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O temor que ronda a iniciativa privada é que o STF, na figura do juiz sancionado, pressione o sistema financeiro para não cumprir a Lei Magnitsky – e que Lula oriente o Banco do Brasil no sentido de partir para a insubordinação.
Os dois são conhecidos por não se preocuparem com os efeitos de suas decisões na economia nacional. O presidente, por motivos ideológicos; já o ministro tem outras razões: convicções que parecem estar acima dos efeitos nefastos que suas decisões possam causar ao ambiente econômico.
No meio da tormenta, no entanto, há três coadjuvantes que terão papel preponderante no destino do Brasil, pelo menos no curtíssimo prazo. Um deles é o vice-presidente Geraldo Alckmin, que vem tentando costurar acordos em relação ao tarifaço, agindo com racionalidade e cabeça fria.
Alckmin, por enquanto, não foi acionado para trabalhar as questões em torno da Lei Magnitsky. Uma eventual desobediência dos bancos brasileiros – ou mesmo de uma instituição de peso, como o BB – pode desencadear uma crise sem precedentes no mercado financeiro. Para costurar uma solução que passe pela gestão do banimento de Alexandre de Moraes, o vice será uma figura importante, pela sua ponderação e calma e também pelo fato de estar no epicentro do poder, embora não tenha a caneta que assine os decretos do governo.
Ele ainda pode contar com a colaboração de outra figura secundária nesta trama: o ex-presidente Michel Temer. Conhecido por ser uma espécie de bombeiro de plantão no cenário político nacional, Temer é um negociador nato e, neste caso, tem um algo que poucos possuem – um relacionamento próximo com Alexandre de Moraes, que está sentado no plenário do Supremo por indicação do ex-presidente.
Essa dupla pode convencer Moraes e Lula a não partirem para um confronto que seria extremamente danoso para o país. Vamos deixar de lado, por enquanto, se Trump está ou não interferindo na soberania nacional ao impor sanções para tentar ajudar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Por enquanto, empresários e banqueiros preferem ter uma visão pragmática e evitar que o país entre em um colapso financeiro por desobediência à Lei Magnitsky. Aparentemente, Alckmin e Temer compartilham deste entendimento e querem ganhar tempo para encontrarem uma solução diplomática. Para isso, o melhor é fazer os bancos aceitarem o banimento de Moraes, que pode usar aplicativos de pagamento que aparentemente estão fora das sanções e não ter sua “morte financeira” decretada.
Mas o perigo está no que pode fazer um terceiro coadjuvante: a primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida por suas posições políticas mais radicais e por um suposto antiamericanismo. Teme-se que Janja possa influenciar Lula a partir para uma briga aberta com os Estados Unidos.
Neste momento, é melhor esquecer a discussão de o tarifaço e a Lei Magnitsky são medidas justas ou não – ou se têm uma raiz ideológica que faz ou não sentido. O que está em jogo é a economia nacional. Por isso, é preciso ter cautela e calma, coisa que Alckmin e Temer têm de sobra.
Caso parta para a briga descarada e isso cause uma fratura econômica, a popularidade de Lula, que tinha parado de cair, pode sofrer um novo revés. Um recuo eventual, para o Planalto, não será visto necessariamente pela sociedade como uma derrota para o bolsonarismo. Mas se o confronto gerar desconforto para a população, seja pela paralisação do sistema financeiro ou por uma recessão, a reeleição de Lula estará totalmente perdida – com polarização política ou não.
Neste conflito, quem vai vencer? A cabeça fria da dupla Alckmin-Temer ou a impetuosidade de Janja? Saberemos do desfecho desta trama ainda nesta semana.