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Alckmin e o expurgo dos militares em seu gabinete

Desde o início do ano, Geraldo Alckmin despachou 11 militares de volta à caserna

O plano de Alckmin é ampliar o enxugamento dos funcionários de sua equipe, que já foi reduzida em 40 % (Diogo Zacarias/ Palácio do Planalto/Flickr)

Publicado em 12 de junho de 2023 às 12h46.

A polarização política que assola o país nos faz, geralmente, fechar os olhos para os erros cometidos pelo nosso lado ideológico: a direita ignora ou diminui as bobagens feitas durante o governo Jair Bolsonaro; a esquerda, por sua vez, exulta a maioria das iniciativas de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para a direita, os militares se tornaram uma importante peça de apoio nos últimos tempos – especialmente para os mais radicais que pediam a intervenção dos fardados para impedir a posse de Lula e fechar o Supremo Tribunal Federal. O fato de Bolsonaro – um capitão de exército – ter colocado vários oficiais no governo ajudou a elevar essa percepção.

Especialmente no início de 2019, o Planalto vendeu a imagem de que oficiais das Forças Armadas viviam em uma espécie de ilha de excelência e que poderiam exercer qualquer função dentro do Executivo. Tivemos, porém, alguns exemplos que mostram o contrário, como o general Eduardo Pazuello, que ocupou o ministério da Saúde, em uma gestão criticada por praticamente todos os especialistas no tema.

Hoje, percebe-se que o governo Bolsonaro utilizou o Executivo como uma espécie de cabide de empregos para militares próximos. De janeiro para cá, mais de cem oficiais foram exonerados. Mas um caso em particular chama atenção: o gabinete da vice-presidência da República. Desde o início do ano, Geraldo Alckmin despachou 11 militares de volta à caserna. O plano de Alckmin é ampliar o enxugamento dos funcionários de sua equipe, que já foi reduzida em 40 %.

O plano do vice-presidente, inclusive, é extinguir o cargo de ajudante-de-ordens, mantendo apenas um oficial de cada Força para resolver questões de logística e deslocamento (um capitão da Polícia Militar também permanecerá no gabinete, lotado em São Paulo).

Questões

A pergunta é óbvia: um vice-presidente precisa de tantos militares ao seu redor? O general Hamilton Mourão, o antecessor de Alckmin, nomearia tantos oficiais para seu grupo de apoio se não tivesse passado pelo Exército?

Antes de responder a essas perguntas, é preciso entender a mente dos militares. Talvez neste universo exista a maior concentração daquilo que se convencionou a chamar de “espírito de corpo”. Existe entre soldados um sentimento de proteção mútua e união que são típicos de quem é treinado para guerrear. Uma batalha só é vencida com coesão e entrosamento. Esse tipo de compromisso somente surge quando alguém confia cegamente no outro para protegê-lo, sabendo que seu colega fará o mesmo.

Dessa forma, oficiais andam em grupos. E vão ocupando os espaços necessários para manter uma panelinha intacta.

Quando falamos em dinheiro público, porém, esse espírito de corpo é problemático. Afinal, contratações desnecessárias no Executivo significam custos adicionais para o governo. Um dos estandartes da direita (o quadrante ideológico ao qual pertencem os militares) é justamente diminuir o Estado e suas despesas. Nesse sentido, há duas contradições por parte dos fardados.

A primeira, evidentemente, é inflar com o déficit público. A segunda é justamente confrontar o caráter espartano das Forças Armadas, que privilegiam a importância utilitária de suas funções e desprezam luxos desnecessários.

Não deixa de ser irônico que o expurgo de militares que exerciam funções supérfluas ocorra justamente em um governo do PT, conhecido por inflar suas estruturas em prefeituras, governos estaduais e nas administrações federais. Isso talvez mostre mais os valores austeros do vice-presidente Alckmin do que um conceito petista de administração. Mesmo assim, qualquer corte de despesas públicas, a essa altura do campeonato, é bem-vinda – até porque dificilmente teremos outras no futuro próximo.

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A polarização política que assola o país nos faz, geralmente, fechar os olhos para os erros cometidos pelo nosso lado ideológico: a direita ignora ou diminui as bobagens feitas durante o governo Jair Bolsonaro; a esquerda, por sua vez, exulta a maioria das iniciativas de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para a direita, os militares se tornaram uma importante peça de apoio nos últimos tempos – especialmente para os mais radicais que pediam a intervenção dos fardados para impedir a posse de Lula e fechar o Supremo Tribunal Federal. O fato de Bolsonaro – um capitão de exército – ter colocado vários oficiais no governo ajudou a elevar essa percepção.

Especialmente no início de 2019, o Planalto vendeu a imagem de que oficiais das Forças Armadas viviam em uma espécie de ilha de excelência e que poderiam exercer qualquer função dentro do Executivo. Tivemos, porém, alguns exemplos que mostram o contrário, como o general Eduardo Pazuello, que ocupou o ministério da Saúde, em uma gestão criticada por praticamente todos os especialistas no tema.

Hoje, percebe-se que o governo Bolsonaro utilizou o Executivo como uma espécie de cabide de empregos para militares próximos. De janeiro para cá, mais de cem oficiais foram exonerados. Mas um caso em particular chama atenção: o gabinete da vice-presidência da República. Desde o início do ano, Geraldo Alckmin despachou 11 militares de volta à caserna. O plano de Alckmin é ampliar o enxugamento dos funcionários de sua equipe, que já foi reduzida em 40 %.

O plano do vice-presidente, inclusive, é extinguir o cargo de ajudante-de-ordens, mantendo apenas um oficial de cada Força para resolver questões de logística e deslocamento (um capitão da Polícia Militar também permanecerá no gabinete, lotado em São Paulo).

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A pergunta é óbvia: um vice-presidente precisa de tantos militares ao seu redor? O general Hamilton Mourão, o antecessor de Alckmin, nomearia tantos oficiais para seu grupo de apoio se não tivesse passado pelo Exército?

Antes de responder a essas perguntas, é preciso entender a mente dos militares. Talvez neste universo exista a maior concentração daquilo que se convencionou a chamar de “espírito de corpo”. Existe entre soldados um sentimento de proteção mútua e união que são típicos de quem é treinado para guerrear. Uma batalha só é vencida com coesão e entrosamento. Esse tipo de compromisso somente surge quando alguém confia cegamente no outro para protegê-lo, sabendo que seu colega fará o mesmo.

Dessa forma, oficiais andam em grupos. E vão ocupando os espaços necessários para manter uma panelinha intacta.

Quando falamos em dinheiro público, porém, esse espírito de corpo é problemático. Afinal, contratações desnecessárias no Executivo significam custos adicionais para o governo. Um dos estandartes da direita (o quadrante ideológico ao qual pertencem os militares) é justamente diminuir o Estado e suas despesas. Nesse sentido, há duas contradições por parte dos fardados.

A primeira, evidentemente, é inflar com o déficit público. A segunda é justamente confrontar o caráter espartano das Forças Armadas, que privilegiam a importância utilitária de suas funções e desprezam luxos desnecessários.

Não deixa de ser irônico que o expurgo de militares que exerciam funções supérfluas ocorra justamente em um governo do PT, conhecido por inflar suas estruturas em prefeituras, governos estaduais e nas administrações federais. Isso talvez mostre mais os valores austeros do vice-presidente Alckmin do que um conceito petista de administração. Mesmo assim, qualquer corte de despesas públicas, a essa altura do campeonato, é bem-vinda – até porque dificilmente teremos outras no futuro próximo.

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