Agora, Bolsonaro diz que o voto eletrônico “vai ser confiável”
"A frase do presidente é muito bem-vinda, pois coloca um ponto final em uma discussão que passou da conta"
Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2021 às 09h18.
Por Aluizio Falcão Filho
Aconteceu no último final de semana. O presidente Jair Bolsonaro , em evento realizado em Ponta Grossa, no Paraná, afirmou que o voto eletrônico será confiável em 2022. “Tenham tranquilidade porque o voto eletrônico, calma, fiquem tranquilos, vai ser confiável ano que vem. Por quê? Por que vai ser confiável? Porque tem uma portaria lá do presidente do TSE, o [ministro Luís Roberto] Barroso, convidando entidades para participar das eleições, entre elas as nossas, as suas, Forças Armadas”, afirmou. “E eu determinei ao ministro da Defesa, general Braga Neto, que já que fomos convidados, aceitamos. E passamos a acreditar no voto eletrônico”.
É praxe do Tribunal Superior Eleitoral convidar entidades extrapartidárias a acompanhar os pleitos nacionais. Em 2018, por exemplo, participaram deste processo o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, a Controladoria-Geral da União, a Polícia Federal, a Sociedade Brasileira de Computação, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia e três universidades.
A frase do presidente é muito bem-vinda, pois coloca um ponto final em uma discussão que passou da conta, gerou discussões desnecessárias e colocou em dúvida a lisura de nosso processo eleitoral – sem contar os recursos públicos que foram mobilizados para que se estudasse e votasse um projeto que instituiria a impressão dos sufrágios. A explicação para a existência desta proposta é que o voto eletrônico não poderia ser auditado, algo longe de ser verdadeiro. As urnas mostram o mapa de votação e, uma a uma, as escolhas dos eleitores. Apenas preservam a identidade de quem votou, já que a Constituição garante o sigilo eleitoral.
Essa discussão fica para trás, depois de uma exaustiva discussão no Congresso e na sociedade. No primeiro semestre deste ano, gastamos um tempo precioso para debater este assunto, com direito à proliferação de teorias da conspiração que vieram de todos os lados – incluindo o Palácio do Planalto (segundo esta versão, Aécio Neves teria vencido Dilma Rousseff, mas foi roubado na compilação eletrônica dos votos – uma tese na qual nem o próprio Aécio acredita).
Foi mais um debate inútil, como tantos outros que enfrentamos nos últimos anos, que se arrastou mais do que deveria. Mas finalmente Bolsonaro entendeu o que lhes disseram seus interlocutores próximos. Foi a primeira vez que ele admitiu isso em público, mas desde que defendeu a aquisição de urnas de última geração, entre julho e agosto, já tinha sido convencido por seus conselheiros sobre a insuspeição do sistema eleitoral brasileiro.
Há, porém, um evidente exagero em apontar as Forças Armadas como a única instituição brasileira confiável para supervisionar o processo eleitoral do país. Exército, Marinha e Aeronáutica merecem o respeito dos cidadãos por conta de sua seriedade, mas não se pode dizer que essas sejam as últimas reservas morais do país. Contamos com várias instituições sérias que tranquilamente poderiam zelar para integridade do sistema usado nas eleições.
Uma delas é a Polícia Federal, que tem atuado com bastante eficácia na luta contra a corrupção e outros crimes severos, como o tráfico de drogas – e foi uma das entidades que supervisionou as últimas eleições presidenciais. Por sinal, em uma pesquisa de dois anos atrás, realizada pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, a PF ficou no topo da lista das instituições mais confiáveis do Brasil (33% dos entrevistados afirmaram “confiar muito” nos policiais federais). As Forças Armadas, inclusive, estão atrás da Polícia Federal neste estudo, com um índice de 29% (no fim da lista estão os partidos políticos, com 1 %).
Depois de tanto nos desgastarmos com esse assunto, minha torcida vai agora para que o presidente acabe com sua picuinha em relação à vacina e se dirija a um posto de imunização. Quem sabe, deste jeito, encerraremos mais um debate infrutífero e desnecessário?
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Por Aluizio Falcão Filho
Aconteceu no último final de semana. O presidente Jair Bolsonaro , em evento realizado em Ponta Grossa, no Paraná, afirmou que o voto eletrônico será confiável em 2022. “Tenham tranquilidade porque o voto eletrônico, calma, fiquem tranquilos, vai ser confiável ano que vem. Por quê? Por que vai ser confiável? Porque tem uma portaria lá do presidente do TSE, o [ministro Luís Roberto] Barroso, convidando entidades para participar das eleições, entre elas as nossas, as suas, Forças Armadas”, afirmou. “E eu determinei ao ministro da Defesa, general Braga Neto, que já que fomos convidados, aceitamos. E passamos a acreditar no voto eletrônico”.
É praxe do Tribunal Superior Eleitoral convidar entidades extrapartidárias a acompanhar os pleitos nacionais. Em 2018, por exemplo, participaram deste processo o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, a Controladoria-Geral da União, a Polícia Federal, a Sociedade Brasileira de Computação, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia e três universidades.
A frase do presidente é muito bem-vinda, pois coloca um ponto final em uma discussão que passou da conta, gerou discussões desnecessárias e colocou em dúvida a lisura de nosso processo eleitoral – sem contar os recursos públicos que foram mobilizados para que se estudasse e votasse um projeto que instituiria a impressão dos sufrágios. A explicação para a existência desta proposta é que o voto eletrônico não poderia ser auditado, algo longe de ser verdadeiro. As urnas mostram o mapa de votação e, uma a uma, as escolhas dos eleitores. Apenas preservam a identidade de quem votou, já que a Constituição garante o sigilo eleitoral.
Essa discussão fica para trás, depois de uma exaustiva discussão no Congresso e na sociedade. No primeiro semestre deste ano, gastamos um tempo precioso para debater este assunto, com direito à proliferação de teorias da conspiração que vieram de todos os lados – incluindo o Palácio do Planalto (segundo esta versão, Aécio Neves teria vencido Dilma Rousseff, mas foi roubado na compilação eletrônica dos votos – uma tese na qual nem o próprio Aécio acredita).
Foi mais um debate inútil, como tantos outros que enfrentamos nos últimos anos, que se arrastou mais do que deveria. Mas finalmente Bolsonaro entendeu o que lhes disseram seus interlocutores próximos. Foi a primeira vez que ele admitiu isso em público, mas desde que defendeu a aquisição de urnas de última geração, entre julho e agosto, já tinha sido convencido por seus conselheiros sobre a insuspeição do sistema eleitoral brasileiro.
Há, porém, um evidente exagero em apontar as Forças Armadas como a única instituição brasileira confiável para supervisionar o processo eleitoral do país. Exército, Marinha e Aeronáutica merecem o respeito dos cidadãos por conta de sua seriedade, mas não se pode dizer que essas sejam as últimas reservas morais do país. Contamos com várias instituições sérias que tranquilamente poderiam zelar para integridade do sistema usado nas eleições.
Uma delas é a Polícia Federal, que tem atuado com bastante eficácia na luta contra a corrupção e outros crimes severos, como o tráfico de drogas – e foi uma das entidades que supervisionou as últimas eleições presidenciais. Por sinal, em uma pesquisa de dois anos atrás, realizada pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, a PF ficou no topo da lista das instituições mais confiáveis do Brasil (33% dos entrevistados afirmaram “confiar muito” nos policiais federais). As Forças Armadas, inclusive, estão atrás da Polícia Federal neste estudo, com um índice de 29% (no fim da lista estão os partidos políticos, com 1 %).
Depois de tanto nos desgastarmos com esse assunto, minha torcida vai agora para que o presidente acabe com sua picuinha em relação à vacina e se dirija a um posto de imunização. Quem sabe, deste jeito, encerraremos mais um debate infrutífero e desnecessário?
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