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Afinal, a Direita está em crise ou se fortalecendo?

Ela está tentando reagrupar forças para ressurgir nas eleições municipais deste ano e se preparar para 2026

Jair Bolsonaro: ex-presidente disse que o PL poderia ser implodido por conta das declarações do dirigente Valdemar da Costa Neto (Myke Sena/Getty Images)
Jair Bolsonaro: ex-presidente disse que o PL poderia ser implodido por conta das declarações do dirigente Valdemar da Costa Neto (Myke Sena/Getty Images)

Nesta semana, vimos o ex-presidente Jair Bolsonaro dizer que seu partido, o PL, poderia ser implodido por conta das declarações do dirigente Valdemar da Costa Neto (que elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma entrevista ao jornal “O Diário”, de Mogi das Cruzes). No dia seguinte, o ex-deputado José Dirceu disse, em podcast do PT da Bahia, que a Direita tem dominado o cenário político e cultural do país.

Afinal, a Direita está em crise (em função dos problemas enfrentados pela sua maior sigla partidária) ou se fortalecendo?

Vejamos o que disse Dirceu, um dos maiores ideólogos petistas: “Nesses anos, no Brasil houve uma mudança social e cultural enorme, por causa do neopentecostal, por causa do fundamentalismo religioso, e por causa da ocupação dos territórios pelas forças dos partidos de Direita, e dos vereadores, dos deputados, prefeitos. E nós recuamos, a esquerda como um todo.”

O ex-ministro da Casa Civil constatou uma realidade. O avanço das igrejas evangélicas, de fato, fincou bandeira em um espaço ocupado por muitos padres católicos nas décadas de 1970 e 1980. De orientação conservadora, os pastores evangélicos ajudaram a expandir o eleitorado de Direita.

Portanto, o espaço ocupado por direitistas cresceu – e houve também uma grande expansão deste eleitorado por conta do desgaste da Esquerda com a corrupção revelada durante a Operação Lava-Jato. As pesquisas mostram que aqueles que se declaram direitistas estão em maior número. Um estudo do IPEC, por exemplo, afirma que há 35 % de eleitores de Direita contra 26 % de Esquerda; já outra enquete, do Instituto PoderData, tem o seguinte placar: 28 % de direitistas contra 21 % de esquerdistas.

O processo comentado por Dirceu, porém, ocorre há anos – e, nesse ínterim, o PT chegou ao Planalto cinco vezes.

Do lado de Bolsonaro, houve um incômodo enorme com as declarações de Valdemar. E o ex-presidente agiu como sempre: colocando fogo no parquinho, dizendo que tais afirmações poderiam fazer o PL implodir.

No fundo, o ex-mandatário quis fabricar uma crise para ganhar holofotes e enquadrar Valdemar da Costa Neto. Daqui a uma semana, ninguém mais lembrará disso. Mas existe uma preocupação nas hostes bolsonaristas, a de que Lula consiga cooptar Valdemar (ou parte dos membros do PL) para sua órbita. Se isso ocorrer, será um grande revés para a Direita. Mas o próprio Valdemar sabe que se fizer isso vai ganhar um atestado de um suicida político.

Diante disso, a Direita está em crise? Não exatamente. Essa força política está tentando reagrupar forças para ressurgir nas eleições municipais deste ano e se preparar para 2026. A chave da questão é: como aproveitar o crescimento do eleitorado conservador e, ao mesmo tempo, se aproximar do Centro?

No final das contas, quem ganha a eleição é o eleitor centrista. Segundo o IPEC, ele representa 37 % dos votos; já o PoderData estima que 20 % dos eleitores brasileiros tenham essa orientação política. A conclusão é óbvia: se o discurso for extremista, irá afastar aquele que poderá decidir um pleito.

O maior líder da Direita, porém, é Jair Bolsonaro, que hoje segue inelegível. Ele conseguiria trazer seus eleitores para o terreno da moderação? Dificilmente. O destino dos eleitores conservadores, entretanto, vai depender de dois fatores. O primeiro é o desempenho nas eleições municipais, que pode indicar o grau de satisfação dos eleitores com a performance do PT. O segundo fator tem a ver com a escolha dos candidatos que vão disputar a eleição presidencial. Se a polarização produzir um extremista de direita para disputar com o PT em 2026, deveremos repetir a performance de 2022: eleições agressivas e margens de vitórias diminutas.