Confesso minha irritação com certos assuntos – e com a insistência de algumas pessoas em discuti-los. Alguns tópicos da política , ultimamente, se tornaram estopins de discussões desagradáveis, intermináveis e irritantes. Mas as polêmicas exasperantes extrapolam o universo político e ganham novos ringues, em uma espécie de bangue-bangue intelectual que antagoniza pessoas com visões e experiências diferentes de mundo.
Além de irritantes, essas pendengas são inúteis. Desde a criação das redes sociais e dos grupos de WhatsApp, não presenciei nenhum caso em que alguém disse: “estou errado, concordo com você e mudarei de opinião”. Esses debates lembram aquelas discussões em que são-paulinos tentam convencer corintianos que seu time é melhor – ou vice-versa. Um lado vai retrucar eternamente as argumentações do outro. E ninguém vai mudar seu ponto de vista.
Em matéria de contendas, estamos aproveitando todas as chances que a ribalta das redes sociais oferece. Antes, tínhamos poucas ocasiões para exercer nossa veia debatedora. Temas que poderiam ser discutidos surgiam nos intervalos de almoço, em mesas de bares ou em reuniões de amigos. Essas oportunidades eram escassas e dependiam da presença física das pessoas. Hoje, porém, temos inúmeras brigas à disposição dentro de nossos smartphones. Enquanto você leu esses parágrafos, deu vontade de discutir com alguém? É só entrar em algum grupo e ler as mensagens. Com certeza, vai encontrar uma brecha para responder algum post com um coice ou uma lacrada.
Essa democratização dos debates, de um lado, provoca irritação em meros mortais como eu. Mas, ao mesmo tempo, oferece a todos debatedores uma possibilidade de melhorar a argumentação e os fundamentos de suas opiniões.
Como isso acaba? Em algum momento, haverá quem deixe de levar adiante debates tão prolongados, agressivos e infrutíferos? Se há uma luz ao final deste túnel, ela está tão longe que parece ser quase inexistente.
Bem, sem mais delongas, vamos à lista das discussões que mais me irritam – e que terminam sempre empatadas:
VOTO IMPRESSO X VOTO ELETRÔNICO – Aparentemente, a discussão acabou oficialmente ontem, quando a Câmara enterrou a possibilidade de volta do voto impresso. Mesmo assim, a conversa corre solta nas redes e o assunto não está acabado. Os adeptos da teoria conspiratória das fraudes eleitorais nunca vão se dar por vencidos e aqueles que acreditam na inviolabilidade do sistema digital de consolidação de sufrágios continuarão com a mesma opinião.
VACINAR OU NÃO VACINAR– Ao contrário de outras discussões, essa não polariza necessariamente direita e esquerda. Há pessoas com estilo de vida ultra alternativo que são contrárias à vacinação, o mesmo ocorrendo com indivíduos conservadores. Esses grupos contrários à vacina não conseguem convencer seus opositores de suas opiniões e vice-versa.
CONTRA OU A FAVOR DEJAIR BOLSONARO – O presidente da República traz consigo um rastro de discussões em torno de seu nome. Talvez seja o político mais comentado, criticado e defendido desde Carlos Lacerda. Opositores passarão séculos tentando convencer os apoiadores do governo a abandonar o barco bolsonarista e não conseguirão.
GOLPE OU REVOLUÇÃO DE 1964 – Bolsonaro já se manifestou a respeito, dizendo que não houve golpe, pois a presidência foi declarada vaga. Só que, quando isso ocorreu, João Goulart ainda estava em solo brasileiro, no Rio Grande do Sul, e o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, era o substituto de plantão e podia ser encontrado em Brasília. Tem tudo para ser classificado como aquilo que os franceses chamam de “coup d’état”. Mas, a essa altura do campeonato, faz alguma diferença se foi golpe ou revolução?
GLOBOLIXO – Há pessoas que criticam a Globo, mas assistem a programas como Big Brother Brasil; outros adeptos da campanha “Globolixo” costumam postar reportagens da própria Globo nas redes sociais quando precisam detonar algum político da oposição. Essa discussão, porém, é chatíssima. Não gosta da Globo? Não assista. Se a audiência cair, a publicidade vai diminuir e a emissora terá de mudar. Este é outro debate que nos leva do nada ao lugar nenhum.
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