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A ladainha do BC politizado

O comportamento do dólar, aliado a uma atividade econômica forte, pode provocar uma elevação nos juros

(Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Publicado em 1 de agosto de 2024 às 17h32.

Ontem, o assunto do dia ainda era a evidente manipulação de resultados na eleição venezuelana e suas consequências. Mas outro tema ganhou bastante espaço na imprensa e foi alvo de diversas notas, reportagens e especulações: a taxa de juros. Como era a data da reunião do Copom que definiria a Selic, essa discussão ganhou destaque – inflada pelas análises que mostravam a alta do dólar e do IPCA-15 como fatores que poderiam motivar uma elevação das taxas. Além disso, os dados que mostram um mercado de trabalho aquecido também trazem preocupação sobre o crescimento dos preços e isso influenciaria os votos no encontro do Comitê de Política Monetária. No final, os juros foram mantidos em votação unânime no patamar de 10,5% ao ano.

Para deixar esse debate mais apimentado, o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, “politiza” a autarquia. E aproveitou para enaltecer a figura de seu pai, vice de Luiz Inácio Lula da Silva em seus dois mandatos iniciais (que sempre criticou os juros estabelecidos pelo BC na gestão de Henrique Meirelles). “Falta um José de Alencar ao lado do presidente Lula”, afirmou.

E qual seria a grande manifestação de politização de Campos Neto? Segundo Gomes da Silva, a homenagem feita pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao presidente do Banco Central em junho. Ao aceitar o convite de um adversário político de Lula, ele teria demonstrado que tem afinidades com a oposição.

Ora, Campos Neto foi indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Seria necessário esperar uma homenagem de Tarcísio para que soubéssemos qual é sua posição política? Claro que não.
Lembremos ainda que a decisão de aumentar ou baixar a Selic não é exclusiva de Campos. O comitê é formado por nove pessoas, das quais duas foram indicadas por Lula. Na votação de ontem, novamente, todos escolheram manter a taxa e não a baixar.

O fato de Gabriel Galípolo e Aílton de Aquino Santos terem votado como seus colegas mostra que – pelo menos nessa esfera – não há viés ideológico na hora de decidir o destino dos juros. Pode-se dizer que a estratégia do BC é conservadora. Mas, diante dos sinais macroeconômicos, não se pode dizer que há algum tipo de fundamento político por trás das decisões.

O comportamento do dólar, aliado a uma atividade econômica forte (índices de desemprego caindo e massa salarial subindo), pode provocar uma elevação nos juros, o que seria um verdadeiro pesadelo para Lula. Mas o Copom deixou essa possibilidade aberta no comunicado divulgado ao mercado financeiro: “A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta. O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

Uma única coisa é certa: os juros não vão cair tão cedo. Com ou sem politização.

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Ontem, o assunto do dia ainda era a evidente manipulação de resultados na eleição venezuelana e suas consequências. Mas outro tema ganhou bastante espaço na imprensa e foi alvo de diversas notas, reportagens e especulações: a taxa de juros. Como era a data da reunião do Copom que definiria a Selic, essa discussão ganhou destaque – inflada pelas análises que mostravam a alta do dólar e do IPCA-15 como fatores que poderiam motivar uma elevação das taxas. Além disso, os dados que mostram um mercado de trabalho aquecido também trazem preocupação sobre o crescimento dos preços e isso influenciaria os votos no encontro do Comitê de Política Monetária. No final, os juros foram mantidos em votação unânime no patamar de 10,5% ao ano.

Para deixar esse debate mais apimentado, o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, “politiza” a autarquia. E aproveitou para enaltecer a figura de seu pai, vice de Luiz Inácio Lula da Silva em seus dois mandatos iniciais (que sempre criticou os juros estabelecidos pelo BC na gestão de Henrique Meirelles). “Falta um José de Alencar ao lado do presidente Lula”, afirmou.

E qual seria a grande manifestação de politização de Campos Neto? Segundo Gomes da Silva, a homenagem feita pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao presidente do Banco Central em junho. Ao aceitar o convite de um adversário político de Lula, ele teria demonstrado que tem afinidades com a oposição.

Ora, Campos Neto foi indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Seria necessário esperar uma homenagem de Tarcísio para que soubéssemos qual é sua posição política? Claro que não.
Lembremos ainda que a decisão de aumentar ou baixar a Selic não é exclusiva de Campos. O comitê é formado por nove pessoas, das quais duas foram indicadas por Lula. Na votação de ontem, novamente, todos escolheram manter a taxa e não a baixar.

O fato de Gabriel Galípolo e Aílton de Aquino Santos terem votado como seus colegas mostra que – pelo menos nessa esfera – não há viés ideológico na hora de decidir o destino dos juros. Pode-se dizer que a estratégia do BC é conservadora. Mas, diante dos sinais macroeconômicos, não se pode dizer que há algum tipo de fundamento político por trás das decisões.

O comportamento do dólar, aliado a uma atividade econômica forte (índices de desemprego caindo e massa salarial subindo), pode provocar uma elevação nos juros, o que seria um verdadeiro pesadelo para Lula. Mas o Copom deixou essa possibilidade aberta no comunicado divulgado ao mercado financeiro: “A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta. O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

Uma única coisa é certa: os juros não vão cair tão cedo. Com ou sem politização.

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