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A estratégia de Doria para virar o jogo nas prévias tucanas

Na semana passada, Doria conseguiu filiar 41 prefeitos e 24 vice-prefeitos ao PSDB. São 65 votos em seu favor

Governador de São Paulo, João Doria. (Governo do Estado de São Paulo/Flickr)
DR

Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2021 às 09h34.

Aluizio Falcão Filho

O governador de São Paulo , João Doria , não é uma unanimidade. Pelo contrário. Trata-se de um político que angariou antipatias desde o início de sua vida pública e é alvo de críticas dentro de seu partido. Apesar disso, é preciso reconhecer sua capacidade de articulação, seu inconformismo e seu senso de competitividade.

No mês passado, a cúpula do PSDB criou o modelo de votação para as prévias que escolherá o candidato da agremiação à presidência da República. Doria queria que as eleições internas fossem decididas pelo voto direto dos filiados. Os tucanos de alta plumagem, no entanto, resolveram que a soma dos sufrágios dos associados vai valer 25 % do total que decidirá o nome ungido. Os 75 % restantes serão definidos em cima da escolha de políticos com mandato e dirigentes partidários. Na prática, quem decidirá o candidato será o andar de cima, não o de baixo.

Essa decisão foi interpretada pelos analistas de Brasília como um balde de água fria em cima do governador paulista, que contava com o apoio dos filiados para obter a indicação. Além disso, seria um método que favoreceria o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o senador Tasso Jereissati (o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio corre por fora com poucas chances).

Tasso já deu declarações simpáticas a Leite, afirmando que ele seria o futuro do partido, e deve se retirar do páreo. Assim, com o apoio do senador cearense, o governador gaúcho teria maiores chances com o sistema de prévias definido pelos tucanos.

Mas João Doria não se conformou com o cenário adverso que se desenhava à frente.

Na semana passada, ele conseguiu filiar 41 prefeitos e 24 vice-prefeitos ao PSDB. São 65 votos em seu favor. Além disso, o governador tem uma lista com mais 50 prefeitos que pretende trazer para debaixo de sua asa. Somados aos vices que podem aderir ao barco dorista, trata-se de um número razoável de sufrágios à candidatura vinda do Palácio dos Bandeirantes.

Esse movimento ocorreu um pouco antes que o presidente do partido, Bruno Araújo, viesse a público para questionar se o PSDB poderia desistir de ter candidato próprio e apoiar algum representante de outra sigla. Foi desautorizado pelos pré-candidatos e seus aliados.

Voltando a Doria. Ele está jogando dentro das regras. Segundo o estatuto do PSDB, o prazo mínimo de filiação para que o voto de políticos com cargos eletivos tenha validade nas prévias é de um mês. Ou seja, o governador tem até o final de agosto para atrair mais apoiadores para sua sigla.

Dias atrás, esteve em Mato Grosso e Goiás, atrás de votos. Seu discurso é o de que foi o tucano que mais antagonizou com o presidente Jair Bolsonaro e que tem uma história concreta para contar: a vacina CoronaVac, que deu o primeiro impulso à imunização no Brasil.

Isso não quer dizer que ele esteja sozinho na disputa. Eduardo Leite se reuniu com vários tucanos na cidade de Salvador no último final de semana, em um jantar que contou com a presença de um cacique do DEM, sangue azul da política baiana – ACM Neto, que desponta com uma barbada para conquistar o governo de seu estado no ano que vem. Como todos sabem, ACM é desafeto de Doria e pretende turbinar a indicação de Leite. Está gastando boa parte de seu tempo trabalhando pelo gaúcho.

Neste jantar, o governador fez um speech de uma hora, seguido por perguntas e respostas. Na primeira parte, deixou a desejar e não empolgou. Nestes 60 minutos de exposição, não foi interrompido por palmas uma só vez – algo que seria bastante comum para este tipo de situação. No pinga-fogo, porém, entusiasmou a plateia, que reagiu com palmas a várias respostas. Resta saber, agora, se Leite terá o mesmo empenho que Doria em trazer mais votos favoráveis através da filiação de políticos com mandato.

Apesar de já ser visto por alguns como favorito à indicação tucana, João Doria ainda patina nas pesquisas e mostra de 2 % a 5 % das intenções de voto, dependendo da enquete. Ao lado disso, ainda tem de lidar com uma rejeição em seu próprio estado, que vem dos eleitores que se sentiram prejudicados pela queda da atividade econômica durante o fechamento do comércio em plena pandemia.

Estudo do Instituto Paraná Pesquisas de junho, por exemplo, mostra que o governador é reprovado por 59,9% da população paulista – um índice negativo muito alto para quem almeja vencer as eleições presidenciais.

O governador Doria, no entanto, prefere ignorar essas avaliações nefastas. Trabalha, agora, para obter sua indicação, em um tipo de obstinação que lembra o do ex-governador Paulo Maluf, que obteve nomeações para prefeito e governador de São Paulo durante o governo militar quando ninguém apostava nele.

Neste pormenor, tanto Maluf como Doria mostram uma disposição idêntica para o trabalho árduo, com poucas horas de sono. Com uma grande diferença (além das acusações de corrupção enfrentadas pelo dono da Eucatex): Paulo Maluf sempre gostou de vinhos estrelados e gastou boa parte de suas noites desfrutando dos prazeres do álcool. Já Doria é abstêmio e passa longe de qualquer bebida alcóolica.

É sempre bom repetir: não se pode menosprezar o governador Doria. Enquanto os adversários dormem, ele trabalha.

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Aluizio Falcão Filho

O governador de São Paulo , João Doria , não é uma unanimidade. Pelo contrário. Trata-se de um político que angariou antipatias desde o início de sua vida pública e é alvo de críticas dentro de seu partido. Apesar disso, é preciso reconhecer sua capacidade de articulação, seu inconformismo e seu senso de competitividade.

No mês passado, a cúpula do PSDB criou o modelo de votação para as prévias que escolherá o candidato da agremiação à presidência da República. Doria queria que as eleições internas fossem decididas pelo voto direto dos filiados. Os tucanos de alta plumagem, no entanto, resolveram que a soma dos sufrágios dos associados vai valer 25 % do total que decidirá o nome ungido. Os 75 % restantes serão definidos em cima da escolha de políticos com mandato e dirigentes partidários. Na prática, quem decidirá o candidato será o andar de cima, não o de baixo.

Essa decisão foi interpretada pelos analistas de Brasília como um balde de água fria em cima do governador paulista, que contava com o apoio dos filiados para obter a indicação. Além disso, seria um método que favoreceria o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o senador Tasso Jereissati (o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio corre por fora com poucas chances).

Tasso já deu declarações simpáticas a Leite, afirmando que ele seria o futuro do partido, e deve se retirar do páreo. Assim, com o apoio do senador cearense, o governador gaúcho teria maiores chances com o sistema de prévias definido pelos tucanos.

Mas João Doria não se conformou com o cenário adverso que se desenhava à frente.

Na semana passada, ele conseguiu filiar 41 prefeitos e 24 vice-prefeitos ao PSDB. São 65 votos em seu favor. Além disso, o governador tem uma lista com mais 50 prefeitos que pretende trazer para debaixo de sua asa. Somados aos vices que podem aderir ao barco dorista, trata-se de um número razoável de sufrágios à candidatura vinda do Palácio dos Bandeirantes.

Esse movimento ocorreu um pouco antes que o presidente do partido, Bruno Araújo, viesse a público para questionar se o PSDB poderia desistir de ter candidato próprio e apoiar algum representante de outra sigla. Foi desautorizado pelos pré-candidatos e seus aliados.

Voltando a Doria. Ele está jogando dentro das regras. Segundo o estatuto do PSDB, o prazo mínimo de filiação para que o voto de políticos com cargos eletivos tenha validade nas prévias é de um mês. Ou seja, o governador tem até o final de agosto para atrair mais apoiadores para sua sigla.

Dias atrás, esteve em Mato Grosso e Goiás, atrás de votos. Seu discurso é o de que foi o tucano que mais antagonizou com o presidente Jair Bolsonaro e que tem uma história concreta para contar: a vacina CoronaVac, que deu o primeiro impulso à imunização no Brasil.

Isso não quer dizer que ele esteja sozinho na disputa. Eduardo Leite se reuniu com vários tucanos na cidade de Salvador no último final de semana, em um jantar que contou com a presença de um cacique do DEM, sangue azul da política baiana – ACM Neto, que desponta com uma barbada para conquistar o governo de seu estado no ano que vem. Como todos sabem, ACM é desafeto de Doria e pretende turbinar a indicação de Leite. Está gastando boa parte de seu tempo trabalhando pelo gaúcho.

Neste jantar, o governador fez um speech de uma hora, seguido por perguntas e respostas. Na primeira parte, deixou a desejar e não empolgou. Nestes 60 minutos de exposição, não foi interrompido por palmas uma só vez – algo que seria bastante comum para este tipo de situação. No pinga-fogo, porém, entusiasmou a plateia, que reagiu com palmas a várias respostas. Resta saber, agora, se Leite terá o mesmo empenho que Doria em trazer mais votos favoráveis através da filiação de políticos com mandato.

Apesar de já ser visto por alguns como favorito à indicação tucana, João Doria ainda patina nas pesquisas e mostra de 2 % a 5 % das intenções de voto, dependendo da enquete. Ao lado disso, ainda tem de lidar com uma rejeição em seu próprio estado, que vem dos eleitores que se sentiram prejudicados pela queda da atividade econômica durante o fechamento do comércio em plena pandemia.

Estudo do Instituto Paraná Pesquisas de junho, por exemplo, mostra que o governador é reprovado por 59,9% da população paulista – um índice negativo muito alto para quem almeja vencer as eleições presidenciais.

O governador Doria, no entanto, prefere ignorar essas avaliações nefastas. Trabalha, agora, para obter sua indicação, em um tipo de obstinação que lembra o do ex-governador Paulo Maluf, que obteve nomeações para prefeito e governador de São Paulo durante o governo militar quando ninguém apostava nele.

Neste pormenor, tanto Maluf como Doria mostram uma disposição idêntica para o trabalho árduo, com poucas horas de sono. Com uma grande diferença (além das acusações de corrupção enfrentadas pelo dono da Eucatex): Paulo Maluf sempre gostou de vinhos estrelados e gastou boa parte de suas noites desfrutando dos prazeres do álcool. Já Doria é abstêmio e passa longe de qualquer bebida alcóolica.

É sempre bom repetir: não se pode menosprezar o governador Doria. Enquanto os adversários dormem, ele trabalha.

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