A desonestidade silenciosa que está no meio de nós
Infelizmente, há entre nós muitas pessoas desonestas. Mas não imaginemos que esse é um problema exclusivo do Brasil
Publisher
Publicado em 17 de agosto de 2023 às 13h08.
O Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), uma iniciativa fundada por André Esteves e Roberto Saloutti, do BTG Pactual, abrigou recentemente uma experiência involuntária e, no mínimo, interessante. Os alunos não queriam ter apenas como opção de lanches a cafeteria da escola, considerada muito natureba. A administração, então, resolveu criar um “honest bar” – algo que já vi em pelo menos dois prédios corporativos e é uma tendência que cresce no mundo todo.
Neste bar honesto, não há nenhum vendedor ou pessoa controlando o consumo. O cliente escolhe o que quer e faz seu pagamento através de cartão, pix ou dinheiro. Mas os gestores do Inteli sempre avisaram: se o caixa estivesse menor do que deveria (ou seja, alguém pegou um produto e não pagou), o bar seria fechado.
No primeiro mês, os alunos foram chamados para ouvir o primeiro resultado do “honest bar”. Mas, antes, foram perguntados sobre o resultado: o caixa estava zerado ou negativo? Metade dos alunos apostou que haveria um buraco nas contas; a outra previu que todos os clientes tinham pago suas despesas. No final, houve até uma sobra no caixa. Mas, curiosamente, uma parcela grande do público apostou na desonestidade alheia.
Um ano depois, porém, o bar honesto foi vítima da desonestidade – e apresentou um rombo. Como prometido, suas atividades foram encerradas. Mas uma negociação entre escola e estudantes fez com ele reabrisse em novas bases de funcionamento: agora, quem assume o risco são alguns dos alunos, que vendem doces e salgadinhos caseiros em prateleiras decoradas com cartazetes mostrando instruções de pagamento.
Infelizmente, há entre nós muitas pessoas desonestas. Mas não imaginemos que esse é um problema exclusivo do Brasil.
Dois anos atrás, participei de uma palestra do psicólogo Dan Airely, professor da Duke University e ex-titular do MIT (Massachusetts Institute of Technology), cujo tema era o comportamento das pessoas em relação às regras ditadas pela ética.
Ele começou sua palestra com meia hora de atraso, pois boa parte da plateia demorou para chegar. Airely, então, perguntou quantos já tinham dito que haviam se atrasado por conta do trânsito – quando na verdade a culpa do atraso era outra qualquer. Todos foram sinceros e levantaram a mão.
Em um de seus experimentos, o professor colocou uma “vending machine” em local de alta circulação, na qual todas as guloseimas custavam um dólar. Mas a máquina estava programada para entregar os doces ou salgados escolhidos e devolver o dinheiro ao comprador.
Em letras garrafais, na parte da frente da máquina, havia uma placa pedindo ao consumidor que ligasse para um número de telefone se verificasse algo de errado com o funcionamento da engenhoca (esse número, por sinal, era o celular de Ariely). A experiência durou três semanas. Quantas vezes o celular do professor tocou para avisar que a máquina tinha algum problema? Nenhuma.
Enquanto pensarmos que a ética é algo que se aplica somente a grandes temas, teremos enormes dificuldades para evoluir enquanto nação. Se praticarmos pequenos delitos em nosso dia a dia, como subornar um guarda de trânsito ou pegar um produto sem pagar, teremos enorme dificuldade para condenar alguém que cometa um grave crime de corrupção. E estaremos sempre nos perguntando por que o nosso país não vai para frente.
O Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), uma iniciativa fundada por André Esteves e Roberto Saloutti, do BTG Pactual, abrigou recentemente uma experiência involuntária e, no mínimo, interessante. Os alunos não queriam ter apenas como opção de lanches a cafeteria da escola, considerada muito natureba. A administração, então, resolveu criar um “honest bar” – algo que já vi em pelo menos dois prédios corporativos e é uma tendência que cresce no mundo todo.
Neste bar honesto, não há nenhum vendedor ou pessoa controlando o consumo. O cliente escolhe o que quer e faz seu pagamento através de cartão, pix ou dinheiro. Mas os gestores do Inteli sempre avisaram: se o caixa estivesse menor do que deveria (ou seja, alguém pegou um produto e não pagou), o bar seria fechado.
No primeiro mês, os alunos foram chamados para ouvir o primeiro resultado do “honest bar”. Mas, antes, foram perguntados sobre o resultado: o caixa estava zerado ou negativo? Metade dos alunos apostou que haveria um buraco nas contas; a outra previu que todos os clientes tinham pago suas despesas. No final, houve até uma sobra no caixa. Mas, curiosamente, uma parcela grande do público apostou na desonestidade alheia.
Um ano depois, porém, o bar honesto foi vítima da desonestidade – e apresentou um rombo. Como prometido, suas atividades foram encerradas. Mas uma negociação entre escola e estudantes fez com ele reabrisse em novas bases de funcionamento: agora, quem assume o risco são alguns dos alunos, que vendem doces e salgadinhos caseiros em prateleiras decoradas com cartazetes mostrando instruções de pagamento.
Infelizmente, há entre nós muitas pessoas desonestas. Mas não imaginemos que esse é um problema exclusivo do Brasil.
Dois anos atrás, participei de uma palestra do psicólogo Dan Airely, professor da Duke University e ex-titular do MIT (Massachusetts Institute of Technology), cujo tema era o comportamento das pessoas em relação às regras ditadas pela ética.
Ele começou sua palestra com meia hora de atraso, pois boa parte da plateia demorou para chegar. Airely, então, perguntou quantos já tinham dito que haviam se atrasado por conta do trânsito – quando na verdade a culpa do atraso era outra qualquer. Todos foram sinceros e levantaram a mão.
Em um de seus experimentos, o professor colocou uma “vending machine” em local de alta circulação, na qual todas as guloseimas custavam um dólar. Mas a máquina estava programada para entregar os doces ou salgados escolhidos e devolver o dinheiro ao comprador.
Em letras garrafais, na parte da frente da máquina, havia uma placa pedindo ao consumidor que ligasse para um número de telefone se verificasse algo de errado com o funcionamento da engenhoca (esse número, por sinal, era o celular de Ariely). A experiência durou três semanas. Quantas vezes o celular do professor tocou para avisar que a máquina tinha algum problema? Nenhuma.
Enquanto pensarmos que a ética é algo que se aplica somente a grandes temas, teremos enormes dificuldades para evoluir enquanto nação. Se praticarmos pequenos delitos em nosso dia a dia, como subornar um guarda de trânsito ou pegar um produto sem pagar, teremos enorme dificuldade para condenar alguém que cometa um grave crime de corrupção. E estaremos sempre nos perguntando por que o nosso país não vai para frente.