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A crise nossa de cada dia: em 2021, tivemos uma por semana

É como se estivéssemos em um jogo de futebol e a condição mínima para bater uma bolinha fosse driblar como Pelé, Ronaldinho Gaúcho e Garrincha – juntos

Crise (Anton Petrus/Getty Images)
Crise (Anton Petrus/Getty Images)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 10 de março de 2021 às, 09h40.

Última atualização em 10 de março de 2021 às, 09h40.

Um das frases mais famosas de Antônio Carlos Jobim é aquela na qual o eterno maestro diz que o “Brasil não é para amadores”. Até aí, tudo bem. Assinamos embaixo. Mas, ultimamente, o país está exigindo de seus habitantes um nível de profissionalismo tipo ISO 9002. É como se estivéssemos em um jogo de futebol e a condição mínima para bater uma bolinha fosse driblar como Pelé, Ronaldinho Gaúcho e Garrincha – juntos.

Alguma dúvida?

Vamos elencar as crises que tivemos do início do ano para cá:

  • A decisão do ministro Edson Fachin de cancelar as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva.
  • A falta de um estoque de vacinas proporcional à demanda de um país com 220 milhões de pessoas.
  • Inúmeras aglomerações provocadas por Jair Bolsonaro e dezenas de declarações infelizes do presidente, incluindo várias de teor negacionista.
  • Suposta festa na casa do governador João Doria – e as especulações sobre se a residência era dele ou se havia de fato uma aglomeração no imóvel.
  • A fase vermelha no estado São Paulo, com lockdown total.
  • A compra da casa de Flávio Bolsonaro em Brasília por R$ 6 milhões.
  • Os sucessivos recordes de mortes em decorrência da pandemia.
  • A demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, seguida de declarações de Bolsonaro sobre a formação de preços de combustível e de sua disposição em “meter o dedo” nas tarifas de eletricidade.
  • A prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira, determinada pelo ministro Alexandre Moares, do Supremo Tribunal Federal, em decisão monocrática.
  • O crescimento exponencial de mortes na cidade de Manaus, onde surgiu uma nova cepa do coronavírus.
  • A briga de foice no escuro que cercou a eleição para as mesas diretoras do Congresso.
  • O fechamento das fábricas da Ford no Brasil
  • A discussão em torno da eficácia da CoronaVac e o debate insuflado pelos negacionistas sobre a segurança dos imunizantes.

Ufa!

Os treze itens listados acima ocorreram desde o início do ano. Como estamos no dia 10 de março, isso significa que a cada cinco dias, o Brasil enfrenta um assunto palpitante diferente. Na prática, é um perrengue por semana. Mal resolvemos um problema – ou não o resolvemos – e já vamos encarar um novo desafio.

Com isso, a Bolsa de Valores tem um comportamento errático e o dólar fica nas alturas. E a moeda americana insiste em ficar lá em cima, na faixa que precede a cotação em seis reais. No ano passado, por sinal, o dólar ultrapassou a barreira dos cinco reais em março e lá ficou. No dia 17, a moeda americana deverá completar um ano acima da cotação de R$ 5.

Há razões macroeconômicas para que o real seja uma das moedas mais desvalorizadas do mundo. Mas há, igualmente, um ceticismo generalizado em relação ao nosso país, o que ajuda a manter as cotações do dólar lá em cima.

Uma parte dessas crises foge ao nosso controle. São motivadas por diversos motivos, mas todos são conjunturais. Uma outra porção, no entanto, é produzida por nós mesmos. Veja o caso das treze crises de 2021. Se nossas autoridades tivessem falado menos ou pensassem duas vezes antes de agir, mais da metade da lista de nossas instabilidades não existiria.

Estamos lidando com problemas que são fabricados por quem quer brigar e fica provocando o oponente. Mas também temos situações nas quais seus criadores poderiam ter evitado a crise apenas pensando uma coisa: “Será que isso pode dar algum problema?”.

Como nada indica que essa loucura vá parar, a única saída é melhorar a habilidade, a concentração e o foco. Porque não são apenas os amadores que estão sucumbindo. Uma parte dos profissionais também não consegue se manter em pé. Só vão sobrar os craques. Mas e o resto do país, como fica?