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A claque dos presidentes – um portal para a realidade paralela

Presidente também tem sua claque particular, a exemplo de seu antecessor

Lula: presidente também tem sua claque particular, a exemplo de seu antecessor (Ricardo Stuckert/Divulgação)

Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 13h24.

Nesta semana, um evento no Palácio do Planalto mostrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tem sua claque particular, a exemplo de seu antecessor. A diferença está no formato. Enquanto Jair Bolsonaro se encontrava com admiradores no cercadinho montado na entrada da residência oficial da Presidência, Lula se aproveita dos eventos oficiais para reunir seguidores. Os bolsonaristas do cercadinho sempre aproveitavam qualquer oportunidade para intimidar os jornalistas que lá estavam para cobrir o cotidiano do ex-presidente. Com Lula, parece acontecer a mesma coisa – embora de forma diferente.

Ao final da apresentação de um programa da ministra Esther Dweck na sede do governo, os jornalistas foram convidados a fazer perguntas. Na mesa diretora, além de Dweck, estavam o ministro Rui Costa e Lula. Segundo a Secretaria de Comunicação, Lula não iria responder a eventuais questões, que deveriam ser dirigidas aos ministros presentes.

Acontece que jornalistas são jornalistas – e não podem perder a oportunidade de fazer perguntas. Diante disso, a repórter Lu Aiko Otta, do jornal Valor Econômico, inquiriu o presidente sobre qual seria a sua opinião sobre o evento realizado por Bolsonaro no domingo, que reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista.

Parte do público, composta por representantes de movimentos sociais, reagiu à pergunta com vaias. A questão, feita de forma neutra, é pertinente. Bolsonaro é o principal nome da oposição e juntou bastante gente para ouvi-lo, além de outros participantes que espinafraram o governo e o Judiciário. Nada mais natural, portanto, que tentar escutar o que o chefe do Executivo achou do ato público.

Lula preferiu ignorar a pergunta e foi embora antes do encerramento oficial do evento.

Jornalistas sempre foram pressionados por governantes. Afinal, ninguém gosta de ser colocado em uma saia justa, especialmente aqueles que têm poder. Mas é a imprensa livre que garante a transparência da administração pública e a confirmação dos valores democráticos. Todos, evidentemente, têm o direito de manifestar seu descontentamento com jornalistas. Mas a intenção de vaiar uma simples pergunta é intimidar repórteres e pressioná-los para que não repitam questionamentos indesejados pelas autoridades.

Isso acontecia com frequência no cercadinho do Alvorada. “Mídia golpista, comprada, cambada de safados. Não sei como vocês colocam a cabeça no travesseiro. Seus lixos”, gritou, por exemplo, um apoiador do ex-presidente em maio de 2020. Esse grito gerou uma algazarra enorme, que motivou vários simpatizantes de Bolsonaro a tentar agredir os repórteres presentes.

“Mídia golpista”, por sinal, é um termo que une lulistas e bolsonaristas. Os dois extremos do espectro ideológico enxergam a imprensa como um inimigo a ser confrontado. Quando digitamos essas duas palavras no Google, por exemplo, um artigo publicado no site do Partido dos Trabalhadores é o quinto tópico a aparecer.

Viver cercado por claques é uma das piores coisas que um governante pode experimentar. Essa bolha particular é como um portal para uma realidade paralela, na qual se tem a impressão de que tudo está bem e as eventuais perguntas incômodas são vistas como injustas e fora de propósito.

Foi por viver nesse cercadinho virtual que Bolsonaro foi subindo o tom de declarações polêmicas e desnecessárias, que lhe tiraram votos preciosos na campanha de 2022. Será que Lula trilhará o mesmo caminho, só que com o sinal trocado?

O exemplo da semana retrasada, com as afirmações sobre Israel e Hamas, mostra que essa possibilidade é bastante razoável.

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Nesta semana, um evento no Palácio do Planalto mostrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tem sua claque particular, a exemplo de seu antecessor. A diferença está no formato. Enquanto Jair Bolsonaro se encontrava com admiradores no cercadinho montado na entrada da residência oficial da Presidência, Lula se aproveita dos eventos oficiais para reunir seguidores. Os bolsonaristas do cercadinho sempre aproveitavam qualquer oportunidade para intimidar os jornalistas que lá estavam para cobrir o cotidiano do ex-presidente. Com Lula, parece acontecer a mesma coisa – embora de forma diferente.

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Acontece que jornalistas são jornalistas – e não podem perder a oportunidade de fazer perguntas. Diante disso, a repórter Lu Aiko Otta, do jornal Valor Econômico, inquiriu o presidente sobre qual seria a sua opinião sobre o evento realizado por Bolsonaro no domingo, que reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista.

Parte do público, composta por representantes de movimentos sociais, reagiu à pergunta com vaias. A questão, feita de forma neutra, é pertinente. Bolsonaro é o principal nome da oposição e juntou bastante gente para ouvi-lo, além de outros participantes que espinafraram o governo e o Judiciário. Nada mais natural, portanto, que tentar escutar o que o chefe do Executivo achou do ato público.

Lula preferiu ignorar a pergunta e foi embora antes do encerramento oficial do evento.

Jornalistas sempre foram pressionados por governantes. Afinal, ninguém gosta de ser colocado em uma saia justa, especialmente aqueles que têm poder. Mas é a imprensa livre que garante a transparência da administração pública e a confirmação dos valores democráticos. Todos, evidentemente, têm o direito de manifestar seu descontentamento com jornalistas. Mas a intenção de vaiar uma simples pergunta é intimidar repórteres e pressioná-los para que não repitam questionamentos indesejados pelas autoridades.

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“Mídia golpista”, por sinal, é um termo que une lulistas e bolsonaristas. Os dois extremos do espectro ideológico enxergam a imprensa como um inimigo a ser confrontado. Quando digitamos essas duas palavras no Google, por exemplo, um artigo publicado no site do Partido dos Trabalhadores é o quinto tópico a aparecer.

Viver cercado por claques é uma das piores coisas que um governante pode experimentar. Essa bolha particular é como um portal para uma realidade paralela, na qual se tem a impressão de que tudo está bem e as eventuais perguntas incômodas são vistas como injustas e fora de propósito.

Foi por viver nesse cercadinho virtual que Bolsonaro foi subindo o tom de declarações polêmicas e desnecessárias, que lhe tiraram votos preciosos na campanha de 2022. Será que Lula trilhará o mesmo caminho, só que com o sinal trocado?

O exemplo da semana retrasada, com as afirmações sobre Israel e Hamas, mostra que essa possibilidade é bastante razoável.

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