A aposta no caos econômico é um tiro no pé
Neste momento, as autoridades precisam agir diligentemente em duas direções
Publicado em 10 de janeiro de 2023 às, 13h26.
A invasão dos prédios da Praça dos Três Poderes, no último domingo em Brasília, fazia parte de uma estratégia mais ampla: o esquema era o de realizar bloqueios e gargalos para criar uma desordem generalizada. A ideia por trás disso tudo? Gerar um caos que forçasse a entrada das Forças Armadas no jogo. Mas, na mente distorcida desses terroristas, Exército, Aeronáutica e Marinha iriam depor o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e entregar o poder a Jair Bolsonaro.
Se conseguissem jogar o país na anarquia, esses golpistas causariam um pandemônio econômico sem precedentes, daqueles que faria a greve dos caminhoneiros parecer brincadeira de criança. O que o Brasil ganharia com isso? Nada. Pelo contrário. Teria muito a perder.
O fanatismo leva pessoas à irracionalidade sem freios. Por conta desse fenômeno, idiotas sem escrúpulos ou caráter matam pessoas por uma causa e não se importam em morrer em nome de um ideal. Por enquanto, o fanatismo do movimento golpista ainda não se traduziu em atos mais explícitos de violência. Mas a chance de termos atentados vindos desse núcleo de aloprados é razoável, pois é isso que os fanáticos fazem: dobrar a aposta quando perdem uma batalha.
A origem desse fanatismo é o sentimento antipetista, ainda bastante forte em milhões de indivíduos — e compreensível, em função dos escândalos que surgiram nas administrações pregressas de Lula e de Dilma Rousseff. Felizmente, a maioria esmagadora desse contingente é formada por pessoas pacíficas e com respeito à democracia. O problema, porém, está em uma minoria de maníacos que acredita poder fazer justiça eleitoral com as próprias mãos.
Desvairados não raciocinam, não pensam no futuro e não medem consequências de seus atos. Não importa que uma série de atentados contra a democracia paralise a economia ou desestimule investimentos estrangeiros no Brasil. Para esses amalucados, qualquer coisa é melhor que o PT no poder.
Durante muito tempo, a direita espalhou que os petistas eram aqueles que torciam para um cenário derrotista. Eles seriam os devotos da filosofia do “quanto pior, melhor”, pois criaria condições para a vitória da esquerda nas eleições. Pois bem. Agora, é possível ver que os extremistas de direita também pensam exatamente dessa forma, mas como uma forma de se criar um golpe de Estado.
Neste momento, as autoridades precisam agir diligentemente em duas direções. A primeira é investir nas áreas de inteligência, que estão órfãs. O apagão de domingo mostrou que ninguém pensou em um plano B para o caso de a polícia do GDF fazer corpo mole. É hora, portanto, de se criar planos, B, C D e E. Além disso, os profissionais de inteligência (seja da Polícia Federal, da Abin ou outro órgão) necessitam matar novas iniciativas dos golpistas no nascedouro.
A segunda diretriz, não menos importante, é o extremo rigor na punição de quem esteve nos atos terroristas de domingo – em especial aqueles que gravaram em vídeo suas façanhas, apostou na impunidade e debochou da lei.
Por fim, temos os policiais que deveriam ter reprimido a entrada dos manifestantes na Praça dos Três Poderes. O que pode ser feito com eles? De um lado, eles deveriam ter zelado pela integridade do patrimônio público e impedido a invasão da horda bolsonarista no local. Mas, por outro, o que eles poderiam ter feito após a invasão? Em número muito menor que o dos fanáticos, eles seriam agredidos barbaramente, como ocorreu com o agente que estava montando um cavalo e foi covardemente agredido.
É inadmissível, no entanto, o semblante de deboche de vários oficiais que observavam a confusão de longe – e que estavam mais preocupados em registrar o momento na câmera de seus smartphones do que botar a mão na massa e dispersar a multidão. Esses policiais devem ser punidos exemplarmente. Caso isso não aconteça, estaremos estimulando uma quebra na hierarquia das forças policiais, algo que nunca termina bem, não importa qual é a força política que comanda o país.