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18 de maio: hoje se dá, oficialmente, a implosão final da Terceira Via

A única esperança dos moderados, daqui para frente, é tentar influenciar os primeiros colocados nas pesquisas, algo que ainda parece ser difícil

Ex-governador de São Paulo, João Doria (Gilberto Marques/Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
Ex-governador de São Paulo, João Doria (Gilberto Marques/Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 18 de maio de 2022 às, 09h39.

Aluizio Falcão Filho

Hoje é o prazo final dado por União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania para definir uma candidatura única à presidência da República. Deste grupo inicial, que se reuniu em abril para estudar uma possível junção de forças, a União Brasil caiu fora e apenas o MDB e o PSDB continuam tendo conversas frequentes – mas mesmo entre emedebistas e tucanos, há mais desentendimento que consenso. Esses dois partidos encomendaram uma pesquisa para definir quem, entre os nomes das duas siglas, teria mais condições de vencer o pleito presidencial. Porém, os resultados deste estudo, que deve ser apreciado pelos dirigentes partidários hoje, vão gerar uma nova rodada de discussões.

O MDB sabe que tem poucas chances e entra na disputa como um time de futebol que escolhe a retranca como estratégia de jogo: quer manter uma bancada expressiva de congressistas e, para isso, deixou a eleição presidencial em segundo plano. Já os tucanos continuam sua briga interna. O ex-governador João Doria (imagem) disse que havia um golpe em curso dentro do partido para anular sua candidatura e sinalizou ontem sua estratégia de judicializar a questão. A argumentação para manter seu nome no páreo será baseada no artigo 152 do Estatuto do PSDB (um documento de 48 páginas), que diz o seguinte: “Os candidatos vencedores em eleições prévias terão seus nomes homologados nas Convenções convocadas para esse fim”. Ontem, uma reunião entre os tucanos foi convocada para discutir o destino da candidatura Doria. Bem ao estilo PSDB, falou-se por quase três horas e nada foi decidido.

O ex-governador construiu uma carreira meteórica na política, colecionando duas vitórias de peso nos primeiros pleitos que disputou: foi escolhido prefeito de São Paulo (no primeiro turno) e governador de seu estado. Talvez esse seja, na história recente, o maior caso de sucesso entre os políticos brasileiros.

No entanto, a ascensão fulminante de Doria foi interrompida pela conjugação de alguns fatores. O primeiro, evidentemente, foi a ciumeira histórica dentro do ninho tucano, uma tradição que passa de uma geração para outra. Mas não se pode isentar João Doria de responsabilidade neste processo de isolamento. Ele conseguiu cutucar alguns colegas de partido com vara curta, especialmente o deputado Aécio Neves, que ainda concentra muito poder na agremiação.

Vamos perder um parágrafo de nosso tempo para discutir este desentendimento. Muitos afirmam, em tom de crítica, que Doria errou ao peitar Aécio e subestimar o espírito de corpo que existe na agremiação peessedebista. Depois de patrocinar um pedido de expulsão do neto de Tancredo Neves do partido, enfrentou uma derrota fragorosa: dos 34 votos da Executiva tucana, apenas 4 apoiaram a expulsão. Essa seria uma deixa para entender que o comando da sigla não nutria simpatias por ele – mas o recado ou não foi entendido por Doria ou compreendido de forma errada pelo ex-governador.

Mesmo que consiga uma solução judicial que garanta a sua candidatura pelo PSDB, Doria não terá apoio do partido. Sem este apoio, dificilmente conseguiria crescer nas pesquisas para obter um resultado razoável.

A senadora Simone Tebet é o nome do MDB que vem sendo cogitado pela cúpula tucana. Embora Tebet seja vista com simpatia por vários parlamentares, ela tem tanto cacife eleitoral quanto Doria – talvez até menos. A diferença é que a senadora foi costurando o apoio ao seu nome de forma sutil e constante, em um estilo muito diferente daquele demonstrado por Doria.

Política é a arte de agregar apoios.

Mas a impressão que se tem do ex-governador é a de que ele conseguiu mais afastar políticos importantes de sua órbita do que os atrair. Além de Aécio, outros caciques têm um bonequinho de vodu vestido com calça apertada: Gilberto Kassab, Bruno Araújo e Eduardo Leite são alguns deles.

Mas ninguém guarda tanta mágoa de Doria como o ex-governador Geraldo Alckmin, que saiu do PSDB e se tornou candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva. O episódio que afastou os dois, inclusive, é lembrado pelos detratores de Doria como uma exemplo de traição. E uma das piores coisas que podem acontecer a um político é ser tachado de traidor.

Diante deste cenário, pode-se dizer que a Terceira Via, que nunca mostrou grande viabilidade, naufragou de vez. Aqueles que buscam uma proposta diferente de Jair Bolsonaro e de Lula deverão ficar pelo caminho com votações diminutas. O fenômeno da polarização está longe de se dissipar – e talvez até se repita em 2026.

A única esperança dos moderados, daqui para frente, é tentar influenciar os primeiros colocados nas pesquisas, algo que ainda parece ser difícil. Bolsonaro foi eleito em cima de uma plataforma de direita e aliou-se ao Centrão. Teoricamente, poderia fazer um governo voltado para o Centro – mas a personalidade do presidente e suas convicções pessoais o levam sempre para um comportamento que acaba insuflando os mais radicais. E Lula? Seus dois mandatos podem ser definidos como centristas (deixemos as acusações de corrupção de lado por um instante). Mas algumas declarações da versão 2022 do ex-presidente podem trazer preocupação, embora a nomeação de Alckmin como vice seja um aceno à moderação política e econômica.

Na prática, os centristas estão órfãos e terão de fazer uma escolha entre Lula e Bolsonaro no segundo turno. Alguns, porém, já estão desembarcando de outras candidaturas e abraçando os líderes das pesquisas ainda na primeira etapa eleitoral. Definitivamente, o Brasil não é um país para amadores – ou para moderados.