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Pregoeiros do caos, adiem por favor a data do fim do mundo. Mais uma vez.

Bolsonaro foi eleito pelo ódio. Mas ninguém é reeleito pela repulsa e sim pela admiração, pela simpatia.

VS

Victor Sena

Publicado em 6 de outubro de 2020 às 11h04.

Ai, ai...

É tão fácil apostar no fim do mundo. Agendar o apocalipse. Difícil é viver o dia seguinte. O fim do mundo nunca aconteceu. As histerias, sobretudo provocadas no mercado pela política, sempre passaram. A última prova disso foi o clima de romance protagonizado no jantar entre o ministro Paulo Guedes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Desculpas pra cá, desculpas pra lá, e o fundamental: as instituições estão acima das pessoas. E, acima das instituições, no curto prazo, está a correlação de forcas políticas.

Então, vamos pegar o copo mais uma vez. Tá na hora de desenhar: só existe uma transação no mercado da política. É a reeleição. O resto é troco. Vamos voltar no tempo então?

Um presidente no segundo ano do mandato, com uma agenda de austeridade fiscal, encaminha para o Congresso uma reforma da Constituição cujo objetivo central é garantir sua permanência e a de seu projeto no poder. Não, não estou falando do Renda Cidadã do presidente Jair Bolsonaro, que tanto eriçou a epiderme do mercado. Refiro-me ao projeto que instituiu a reeleição, no governo Fernando Henrique, em 1997. O que uma coisa tem a ver com a outra? Tudo. E para entender os raios que partem do Olimpo da economia, em Brasília, é preciso compreender em que capitulo está a Epopéia neste momento.

O capítulo é o mesmo de 1997: o presidente eleito com o apoio dos conservadores tinha de construir sua permanência no poder não pela via do voto, mas - antes - pela via da política, do Congresso. Naquela época, instituindo a reeleição.

Fernando Henrique, modesto como ele so, fez outro dia uma autocrítica contra a reeleição. Detalhe: não fez uma autocrítica contra o “reeleito”, ele mesmo. Criticou o processo criado por ele, mas não a si próprio. É uma autocrítica, digamos assim, em cima do muro.

O que Bolsonaro está fazendo agora é mais do mesmo, só que de outra forma. Esqueça “Renda Cidadã”. O que ele está pedindo ao Congresso é um passaporte para a reeleição, do mesmo modo, aliás, que o próprio arguto Fernando Henrique não estava pedindo a “aprovação” do plano Real quando ministro de Fazenda. Estava botando a mão na faixa presidencial, solicitando para isso o apoio de deputados e senadores. Bolsonaro tentará de tudo por isso. A cena de romance Guedes/Maia é uma prova disso. Ele vai ceder onde puder, mas não no essencial: a faixa.

Bolsonaro foi eleito pelo ódio. Mas ninguém é reeleito pela repulsa e sim pela admiração, pela simpatia. Dinheiro na veia gera sorrisos no rosto e aplausos nos palanques dos grotoes. Mas é imoral usar a política econômica para conseguir a reeleição a qualquer custo? Alto lá! Respeite o legado do presidente Fernando Henrique! Ele manteve a pavorosa paridade do real com o dólar durante todo o primeiro mandato, detonou-a assim que eleito e...bom...era melhor com Fernando Henrique do que sem ele. Ou não?

A reeleição do tucano era uma forma de ter um quadro competitivo em relação ao fantasma do “radicalismo” de Lula e do PT. Tolerou-se tudo, no “mercado”, em nome dessa premissa. A questão hoje é: tornar Bolsonaro inviável, impopular, seguindo uma política de ortodoxia liberal prussiana, será melhor ou pior para as ideias conservadoras na eleição de 2022? Esse é o cálculo a ser feito. Alem do que alguma flexibilização do teto de gastos será inevitável. A pandemia não existe só na tela dos operadores. É um fato da realidade. E a realidade afeta a política e a política determina a condução da economia. É o cachorro que balança o rabo e não o contrário.

Enfim, pense em tudo que você vir ou ouvir e leve em conta uma só variável: primeiro o poder. O resto é troco.

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Ai, ai...

É tão fácil apostar no fim do mundo. Agendar o apocalipse. Difícil é viver o dia seguinte. O fim do mundo nunca aconteceu. As histerias, sobretudo provocadas no mercado pela política, sempre passaram. A última prova disso foi o clima de romance protagonizado no jantar entre o ministro Paulo Guedes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Desculpas pra cá, desculpas pra lá, e o fundamental: as instituições estão acima das pessoas. E, acima das instituições, no curto prazo, está a correlação de forcas políticas.

Então, vamos pegar o copo mais uma vez. Tá na hora de desenhar: só existe uma transação no mercado da política. É a reeleição. O resto é troco. Vamos voltar no tempo então?

Um presidente no segundo ano do mandato, com uma agenda de austeridade fiscal, encaminha para o Congresso uma reforma da Constituição cujo objetivo central é garantir sua permanência e a de seu projeto no poder. Não, não estou falando do Renda Cidadã do presidente Jair Bolsonaro, que tanto eriçou a epiderme do mercado. Refiro-me ao projeto que instituiu a reeleição, no governo Fernando Henrique, em 1997. O que uma coisa tem a ver com a outra? Tudo. E para entender os raios que partem do Olimpo da economia, em Brasília, é preciso compreender em que capitulo está a Epopéia neste momento.

O capítulo é o mesmo de 1997: o presidente eleito com o apoio dos conservadores tinha de construir sua permanência no poder não pela via do voto, mas - antes - pela via da política, do Congresso. Naquela época, instituindo a reeleição.

Fernando Henrique, modesto como ele so, fez outro dia uma autocrítica contra a reeleição. Detalhe: não fez uma autocrítica contra o “reeleito”, ele mesmo. Criticou o processo criado por ele, mas não a si próprio. É uma autocrítica, digamos assim, em cima do muro.

O que Bolsonaro está fazendo agora é mais do mesmo, só que de outra forma. Esqueça “Renda Cidadã”. O que ele está pedindo ao Congresso é um passaporte para a reeleição, do mesmo modo, aliás, que o próprio arguto Fernando Henrique não estava pedindo a “aprovação” do plano Real quando ministro de Fazenda. Estava botando a mão na faixa presidencial, solicitando para isso o apoio de deputados e senadores. Bolsonaro tentará de tudo por isso. A cena de romance Guedes/Maia é uma prova disso. Ele vai ceder onde puder, mas não no essencial: a faixa.

Bolsonaro foi eleito pelo ódio. Mas ninguém é reeleito pela repulsa e sim pela admiração, pela simpatia. Dinheiro na veia gera sorrisos no rosto e aplausos nos palanques dos grotoes. Mas é imoral usar a política econômica para conseguir a reeleição a qualquer custo? Alto lá! Respeite o legado do presidente Fernando Henrique! Ele manteve a pavorosa paridade do real com o dólar durante todo o primeiro mandato, detonou-a assim que eleito e...bom...era melhor com Fernando Henrique do que sem ele. Ou não?

A reeleição do tucano era uma forma de ter um quadro competitivo em relação ao fantasma do “radicalismo” de Lula e do PT. Tolerou-se tudo, no “mercado”, em nome dessa premissa. A questão hoje é: tornar Bolsonaro inviável, impopular, seguindo uma política de ortodoxia liberal prussiana, será melhor ou pior para as ideias conservadoras na eleição de 2022? Esse é o cálculo a ser feito. Alem do que alguma flexibilização do teto de gastos será inevitável. A pandemia não existe só na tela dos operadores. É um fato da realidade. E a realidade afeta a política e a política determina a condução da economia. É o cachorro que balança o rabo e não o contrário.

Enfim, pense em tudo que você vir ou ouvir e leve em conta uma só variável: primeiro o poder. O resto é troco.

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