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Já reparou que os três poderes estão andando de lado? Por que? Entenda

"O poder é uma grande casa de apostas e, nas últimas semanas, já reparou que entrou numa espécie de hibernação?"

Brasília: "Não está acontecendo nada em Brasília porque tudo está acontecendo" (Ueslei Marcelino/Reuters)
Brasília: "Não está acontecendo nada em Brasília porque tudo está acontecendo" (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Mario Rosa

Publicado em 13 de outubro de 2020 às, 15h22.

O mercado sabe: quando não há uma tendência definida, anda de lado. Alguns ficam “casados” em suas posições. Melhor dormir vendido ou comprado do que se arriscar, não é mesmo? O poder é uma grande casa de apostas e, nas últimas semanas, já reparou que entrou numa espécie de hibernação? O que vou discutir aqui é que os Titãs estão dormindo sim, mas por sedação. Motivo: a eleição de 2022. Se você está em qualquer outro ano, não está no calendário de Brasília.

Vamos lá, então. O presidente da República aplicou uma dose cavalar de anestesia na política, ao decidir que só vai tratar de orçamento e de sua bomba atômica reeleitoral — o Renda Cidadã — lá pra o final da primeira quinzena de novembro! Política e futebol não é só questão de força. É o talento de decifrar o tempo do jogo. Empurrar tudo para frente, depois das eleições, tem um efeito prático imediato. Qual?

Ora, paralisa o Congresso Nacional. Na prática, o Executivo acertou um daqueles dardos certeiros de tranquilizante na alcateia com crachás das cúpulas côncava e convexa da Esplanada dos Três Poderes. Eleição, na prática, é uma due diligence política. O governo não negocia agora com quem pode estar nanico em novembro. E, para enfiar goela abaixo algum remédio amargo, melhor depois do pleito. Como sempre foi e sempre será.

Daí, os onze homens de toga fizeram um salto triplo carpado, na primeira coreografia do novo chefe do palco, ministro Luís Fux, trazendo de volta para o plenário todas as decisões que envolvem as acusações contra os políticos. Como no velho Oeste, o Congresso tem um revólver apontado para o Judiciário com a reforma administrativa (do Executivo) e o corte dos supersalários; o Executivo tem uma arma apontada para o Congresso, drenando o tempo e o poder do atual presidente da Câmara; e o Supremo, bem, o Supremo apontou sua metralhadora para todos os lados.

E? Na prática? Como quase sempre acontece... nenhum barulho de disparo. Uma guerra sem tiros. Guerra fria, perigo nuclear. E na falta de pressão nos gatilhos, nada melhor do que o tempo. Ou seja, não está acontecendo nada em Brasília porque tudo está acontecendo. A cidade engana só os turistas com sua plácida paisagem. E, afinal, por que tudo isso? Porque o que está em jogo é a reeleição, ora! Se o presidente estivesse morto, Brasília estava a mil por hora. Brasília com câimbra significa presidente em movimento.

Bom, a moldura é essa. É como vemos nós, ácaros de Palácio.