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Enquanto a midia fala de vacinas, o Brasil decide quem protege os dados

"Em Brasília, passou uma boiada inteira que interessa muito mais ao país e ao mundo dos negócios e quase ninguém falou nada"

"De um lado, o presidente Bolsonaro e, de outro, o governador João Doria. No meio, a vacina chinesa” (Carolina Antunes/PR/Flickr)
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marianamartucci

Publicado em 27 de outubro de 2020 às 15h22.

Última atualização em 27 de outubro de 2020 às 21h52.

A esquizofrenia política e do noticiário não é nova e provavelmente, incurável. Gastaram-se horas e horas de tempo inútil na batalha imunológica de Itararé colocando, de um lado, o presidente Bolsonaro e, de outro, o governador João Doria. No meio, a “vacina chinesa”.

Enquanto isso, em Brasília, passou uma boiada inteira que interessa muito mais ao país e ao mundo dos negócios e quase ninguém falou nada: foram definidos os nomes dos novos diretores da poderosa Autoridade de Proteção de Dados (6 anos de mandato). De quebra, o governo brasileiro ainda assinou um protocolo diplomático de alta sensibilidade na área de tecnologia. Como dizem os nerds: 5G.

Comecemos pelas vacinas. Ora, alguém aí acha que algum presidente da República em algum governo vai deixar de comprar alguma vacina que, comprovadamente, seja eficientissima para curar alguma pessoa de alguma uma pandemia e salvar milhões de vidas? Claro que... não, né? Então... o blá-blá-blá desse caso todo só serviu para uma coisa: Bolsonaro chamou Doria para dançar no salão sucessório. Escolheu seu par. E Doria e o presidente estão valsando na política, enquanto o resto do salão assiste parado. Noves fora, é isso.

Agora, no fundamental, a escolha dos novos titulares da Autoridade de Protecao de Dados, responsável por aplicar a LGPD, isso sim, é um fato concreto. E, pra variar, ficou encoberto pela fumaça das fofocas da capital. O presidente da nova agência é egresso do Exército. Foi presidente da Telebras. Há outro militar de prontidão na diretoria da agência, funcionários de carreira da Anatel. Um perfil predominantemente “servidor de Estado de raiz”.

E aí? Aí é que as empresas que lidam com dados, como por exemplo as de avaliação de risco e de compliance, vivem hoje numa terra de ninguém. Elas podem fazer o que querem, do jeito que querem, podem negativar quem quiser, usando os cruzamentos da forma que o algoritmo decidir que seja e - pior de tudo - nem os correntistas nem mesmo os bancos conhecem essas “fórmulas secretas”, que podem seguir fielmente todos os protocolos legais, podem ser absolutamente precisas. Mas podem também não ser.

Agora, com a Autoridade de Protecao de Dados, o jogo deixa de ser pelada de fim de semana e vira “padrão FIFA”. Tem juiz em campo, bandeirinha, cronômetro e VAR. Não vale carrinho por trás e por aí vai. O mercado que se prepare para uma nova era, ainda mais com um presidente candidato à reeleição. Qualquer coisa, clique no Google. E pesquise... Google! A empresa acaba de ser processada por acusação de abuso de práticas comerciais nos Estados Unidos.

Só pra terminar: o Brasil fez um balé em direção à América, assinando um acordo que sinaliza uma tendência (até aqui) pelo 5G ianque. Como se vê, enquanto discutem a vacina que ainda não existe, a agulha está sendo aplicada discretamente na área sensível da tecnologia.

No circo é assim mesmo: enquanto olham para o rosto, o prestidigitador engana com as mãos...

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A esquizofrenia política e do noticiário não é nova e provavelmente, incurável. Gastaram-se horas e horas de tempo inútil na batalha imunológica de Itararé colocando, de um lado, o presidente Bolsonaro e, de outro, o governador João Doria. No meio, a “vacina chinesa”.

Enquanto isso, em Brasília, passou uma boiada inteira que interessa muito mais ao país e ao mundo dos negócios e quase ninguém falou nada: foram definidos os nomes dos novos diretores da poderosa Autoridade de Proteção de Dados (6 anos de mandato). De quebra, o governo brasileiro ainda assinou um protocolo diplomático de alta sensibilidade na área de tecnologia. Como dizem os nerds: 5G.

Comecemos pelas vacinas. Ora, alguém aí acha que algum presidente da República em algum governo vai deixar de comprar alguma vacina que, comprovadamente, seja eficientissima para curar alguma pessoa de alguma uma pandemia e salvar milhões de vidas? Claro que... não, né? Então... o blá-blá-blá desse caso todo só serviu para uma coisa: Bolsonaro chamou Doria para dançar no salão sucessório. Escolheu seu par. E Doria e o presidente estão valsando na política, enquanto o resto do salão assiste parado. Noves fora, é isso.

Agora, no fundamental, a escolha dos novos titulares da Autoridade de Protecao de Dados, responsável por aplicar a LGPD, isso sim, é um fato concreto. E, pra variar, ficou encoberto pela fumaça das fofocas da capital. O presidente da nova agência é egresso do Exército. Foi presidente da Telebras. Há outro militar de prontidão na diretoria da agência, funcionários de carreira da Anatel. Um perfil predominantemente “servidor de Estado de raiz”.

E aí? Aí é que as empresas que lidam com dados, como por exemplo as de avaliação de risco e de compliance, vivem hoje numa terra de ninguém. Elas podem fazer o que querem, do jeito que querem, podem negativar quem quiser, usando os cruzamentos da forma que o algoritmo decidir que seja e - pior de tudo - nem os correntistas nem mesmo os bancos conhecem essas “fórmulas secretas”, que podem seguir fielmente todos os protocolos legais, podem ser absolutamente precisas. Mas podem também não ser.

Agora, com a Autoridade de Protecao de Dados, o jogo deixa de ser pelada de fim de semana e vira “padrão FIFA”. Tem juiz em campo, bandeirinha, cronômetro e VAR. Não vale carrinho por trás e por aí vai. O mercado que se prepare para uma nova era, ainda mais com um presidente candidato à reeleição. Qualquer coisa, clique no Google. E pesquise... Google! A empresa acaba de ser processada por acusação de abuso de práticas comerciais nos Estados Unidos.

Só pra terminar: o Brasil fez um balé em direção à América, assinando um acordo que sinaliza uma tendência (até aqui) pelo 5G ianque. Como se vê, enquanto discutem a vacina que ainda não existe, a agulha está sendo aplicada discretamente na área sensível da tecnologia.

No circo é assim mesmo: enquanto olham para o rosto, o prestidigitador engana com as mãos...

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