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Por que a inflação caiu no Brasil

Uma equipe econômica de altíssima qualidade e um governo comprometido com reformas estruturais acalmaram a ansiedade dos mercados

INFLAÇÃO: país registrou primeira deflação em onze anos / Germano Luders/Revista EXAME
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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2017 às 08h42.

Última atualização em 26 de setembro de 2017 às 15h28.

Apanhados de surpresa pela rapidez e intensidade da desinflação no Brasil analistas econômicos começam a refletir sobre as causas deste movimento inesperado. Não me lembro de que algo semelhante tenha ocorrido durante minha já longeva vida profissional. Pelo contrário, ela foi marcada em vários momentos por choques externos que sempre levavam a inflação a sair de controle. Somente em 1993, com o Plano Cruzado, é que recuperamos algum controle sobre a inflação, mas sem matar de vez a praga da indexação. Ela permaneceu em nosso sistema de preços, contida a fórceps por juros altos e constante ação do Banco Central para manter o crescimento econômico sob controle.

Em 2002 tivemos um novo ataque de indexação perversa na passagem do bastão de FHC a Lula. A crise de expectativas em relação ao primeiro governo do PT, ao levar a cotação do dólar às alturas, provocou o choque de preços que se espalhou pela economia apesar da recessão que vivíamos.

Mas este momento foi efêmero. A surpresa positiva com a equipe econômica de Lula fez com que a moeda brasileira se valorizasse rapidamente, acionando desta vez para o bem os mecanismos de indexação. Posteriormente, com a combinação do super ciclo das commodities e uma política econômica correta, a desinflação se instalou na economia até o fim do governo Lula em 2012.

Mas o dragão continuava presente na mente dos agentes econômicos e no ventre do sistema de preços. Quando a presidente Dilma, que havia herdado uma bolha de consumo de grandes proporções, resolveu mantê-la para enfrentar sua reeleição, o dragão voltou com toda sua força destrutiva. Quando em 1975 o novo ministro da Fazenda soltou as amarras dos controles de preços e corrigiu as tarifas de serviços públicos que estavam defasadas, a inflação explodiu jogando nossa economia no vazio e em uma recessão profunda.

A queda da atividade econômica entre 2015 e 2016 foi uma das maiores que já assisti em mais de 40 anos de atividade profissional. A chamada absorção interna levou um tombo de mais de 12%, enquanto que o PIB caiu um pouco menos. O desemprego disparou e os juros foram para a altura. Os mercados mais importantes, que viviam até então o problema da escassez de oferta, passaram a viver um hiato negativo de demanda. Nesta situação, os mecanismos de indexação passaram, pouco a pouco, a uma fase de menor excitação. Mas isto não foi suficiente para fazer com que os ajustes de preços refletissem o novo equilíbrio entre oferta e procura, e a inflação em 2015 e primeira metade de 2016 continuou elevada.

Mas este equilíbrio perverso começou a alterar-se com a posse de um novo presidente. Uma equipe econômica de altíssima qualidade e um governo comprometido com reformas estruturais acalmaram a ansiedade dos mercados e a taxa de câmbio começou a estabilizar-se. Ao mesmo tempo, a intensidade da recessão fez com que o setor industrial dirigisse seus produtos para o mercado externo estimulado pela queda abrupta na demanda interna e pelo real desvalorizado. E, last but not least, uma super safra de grãos consolidou este choque externo positivo, fazendo nossa moeda valorizar-se de forma continua e reforçar a queda dos preços em reais dos alimentos provocada pela super safra agrícola.

A combinação de uma moeda forte e uma demanda interna no chão, agindo simultaneamente, enfraqueceram no tempo os mecanismos de indexação no sistema de preços abrindo espaço para a desinflação que vivemos hoje. A partir de meados de 2017, o setor de serviços se curvou à conjuntura e passou a reduzir seus aumentos de preços também, curvando-se finalmente aos novos tempos. Foi o momento em que a dispersão da inflação no sistema de preços saiu do patamar de mais de 70% em que tinha se estabilizado anteriormente, para um número na ordem de 45%. O dragão da indexação jogava finalmente a toalha no centro do ringue e voltava a hibernar.

Agora, com a credibilidade em alta e a eficiência da política monetária em uma economia sem grandes desequilíbrios de demanda reforçada, o Banco Central ganhou condições de projetar para os próximos anos as expectativas de inflação na meta. E o mercado está aceitando esta novidade, apesar do ranger dos dentes dos céticos de sempre.

É assim que entendo o que está acontecendo no campo da inflação hoje.

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Apanhados de surpresa pela rapidez e intensidade da desinflação no Brasil analistas econômicos começam a refletir sobre as causas deste movimento inesperado. Não me lembro de que algo semelhante tenha ocorrido durante minha já longeva vida profissional. Pelo contrário, ela foi marcada em vários momentos por choques externos que sempre levavam a inflação a sair de controle. Somente em 1993, com o Plano Cruzado, é que recuperamos algum controle sobre a inflação, mas sem matar de vez a praga da indexação. Ela permaneceu em nosso sistema de preços, contida a fórceps por juros altos e constante ação do Banco Central para manter o crescimento econômico sob controle.

Em 2002 tivemos um novo ataque de indexação perversa na passagem do bastão de FHC a Lula. A crise de expectativas em relação ao primeiro governo do PT, ao levar a cotação do dólar às alturas, provocou o choque de preços que se espalhou pela economia apesar da recessão que vivíamos.

Mas este momento foi efêmero. A surpresa positiva com a equipe econômica de Lula fez com que a moeda brasileira se valorizasse rapidamente, acionando desta vez para o bem os mecanismos de indexação. Posteriormente, com a combinação do super ciclo das commodities e uma política econômica correta, a desinflação se instalou na economia até o fim do governo Lula em 2012.

Mas o dragão continuava presente na mente dos agentes econômicos e no ventre do sistema de preços. Quando a presidente Dilma, que havia herdado uma bolha de consumo de grandes proporções, resolveu mantê-la para enfrentar sua reeleição, o dragão voltou com toda sua força destrutiva. Quando em 1975 o novo ministro da Fazenda soltou as amarras dos controles de preços e corrigiu as tarifas de serviços públicos que estavam defasadas, a inflação explodiu jogando nossa economia no vazio e em uma recessão profunda.

A queda da atividade econômica entre 2015 e 2016 foi uma das maiores que já assisti em mais de 40 anos de atividade profissional. A chamada absorção interna levou um tombo de mais de 12%, enquanto que o PIB caiu um pouco menos. O desemprego disparou e os juros foram para a altura. Os mercados mais importantes, que viviam até então o problema da escassez de oferta, passaram a viver um hiato negativo de demanda. Nesta situação, os mecanismos de indexação passaram, pouco a pouco, a uma fase de menor excitação. Mas isto não foi suficiente para fazer com que os ajustes de preços refletissem o novo equilíbrio entre oferta e procura, e a inflação em 2015 e primeira metade de 2016 continuou elevada.

Mas este equilíbrio perverso começou a alterar-se com a posse de um novo presidente. Uma equipe econômica de altíssima qualidade e um governo comprometido com reformas estruturais acalmaram a ansiedade dos mercados e a taxa de câmbio começou a estabilizar-se. Ao mesmo tempo, a intensidade da recessão fez com que o setor industrial dirigisse seus produtos para o mercado externo estimulado pela queda abrupta na demanda interna e pelo real desvalorizado. E, last but not least, uma super safra de grãos consolidou este choque externo positivo, fazendo nossa moeda valorizar-se de forma continua e reforçar a queda dos preços em reais dos alimentos provocada pela super safra agrícola.

A combinação de uma moeda forte e uma demanda interna no chão, agindo simultaneamente, enfraqueceram no tempo os mecanismos de indexação no sistema de preços abrindo espaço para a desinflação que vivemos hoje. A partir de meados de 2017, o setor de serviços se curvou à conjuntura e passou a reduzir seus aumentos de preços também, curvando-se finalmente aos novos tempos. Foi o momento em que a dispersão da inflação no sistema de preços saiu do patamar de mais de 70% em que tinha se estabilizado anteriormente, para um número na ordem de 45%. O dragão da indexação jogava finalmente a toalha no centro do ringue e voltava a hibernar.

Agora, com a credibilidade em alta e a eficiência da política monetária em uma economia sem grandes desequilíbrios de demanda reforçada, o Banco Central ganhou condições de projetar para os próximos anos as expectativas de inflação na meta. E o mercado está aceitando esta novidade, apesar do ranger dos dentes dos céticos de sempre.

É assim que entendo o que está acontecendo no campo da inflação hoje.

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