O mercado erra mais uma vez
O IPCA do mês de setembro fez a grande maioria dos analistas de mercado errar mais uma vez. E o erro não foi apenas no número divulgado pelo IBGE, mas sim na tendência da inflação neste final de 2016. No meu entendimento ele foi motivado por três fatores que os chamados especialistas não poderiam desconhecer. […]
Publicado em 10 de outubro de 2016 às, 11h49.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h16.
O IPCA do mês de setembro fez a grande maioria dos analistas de mercado errar mais uma vez. E o erro não foi apenas no número divulgado pelo IBGE, mas sim na tendência da inflação neste final de 2016. No meu entendimento ele foi motivado por três fatores que os chamados especialistas não poderiam desconhecer.
O primeiro deles está associado a uma certa preguiça de seguir apenas o IPCA cheio, eleito número oficial da inflação pelo Banco Central para balizar seu sistema de metas de inflação. Existem outros indicadores que são calculados semanalmente pela FIPE e pelo próprio IBGE – o chamado IPC-S – e que anteciparam os movimentos discretos de queda da inflação de alguns grupos importantes no sistema de preços. O índice da FIPE tem ainda a vantagem de medir a inflação do consumidor na cidade de São Paulo que é considerado o mercado que responde de maneira mais rápida a mudanças na conjuntura econômica.
Outra característica importante dos números semanais é que permite uma visualização mais fácil de mudanças de tendências na evolução da inflação. Eu mesmo publiquei recentemente nesta coluna um gráfico com os números quadrissemanais da FIPE e no qual ficava claro que a velocidade da desinflação em 2016 vinha se acelerando. E aqui temos outra causa importante para o vexame nas previsões pelo mercado financeiro da inflação para este ano: usar as taxas acumuladas em 12 meses quando a inflação está mudando rapidamente de dinâmica no período mais recente. Mais um sinal de preguiça mental pois a taxa de 12 meses é muito mais fácil de se obter.
Outra fonte de erro em relação à inflação neste momento no Brasil deriva da utilização sem critério das chamadas expectativa racionais para a construção da conjuntura econômica no futuro. Aliás esta é uma armadilha contemporânea que atinge a toda a comunidade financeira internacional e tem provocado questionamentos sobre sua credibilidade no mundo de hoje. Ao ancorar — sem o devido questionamento — o comportamento das variáveis econômicas mais importantes à visão dos chamados agentes financeiros reduz-se a importância do quadro analítico macro e microeconômico que ocorre no mundo real.
Tomemos o caso brasileiro de hoje. Ao vincular de forma inquestionável o comportamento da economia às dificuldades gravíssimas com o equilíbrio fiscal no futuro o analista mais radical perde de vista variáveis importantes que acabam tendo influência no cenário de curto prazo. E, no que tange à inflação nesta segunda metade do ano corrente, esta posição foi mortal para os seguidores de um radicalismo sem qualificações. Ao deixarem de lado a influência que a recessão advinda de uma queda no PIB de mais 7% nos dois últimos anos sobre preços importantes — como o de serviços e outros — muitos analistas de mercado estão comprometendo suas previsões para 2016. A desculpa de que a indexação não deixa as forças de mercado prevalecerem sobre a cultura nacional de corrigir os preços pela inflação passada, não é verdade. Já vimos este filme antes e o que sabemos é que a indexação torna mais lenta as correções, mas elas sempre ocorrem quando a política econômica é correta e consistente.
Finalmente o terceiro erro primário cometido foi a leitura equivocada do comportamento da taxa de câmbio a partir do momento que a equipe do ministro Meirelles tomou conta da gestão da economia. Mais uma falha no conhecimento do metabolismo da economia brasileira quando a gestão da economia é correta.
Nos gráficos abaixo mostro um cenário possível para o IPCA em 2016 e, usando uma média móvel trimestral, a aceleração da desinflação que já tomou conta do sistema de preços nestes últimos meses. Os números falam por si, pelo menos para uma grande maioria de leitores do app da EXAME.