Exame.com
Continua após a publicidade

O COPOM provocou uma mudança de humor

A inesperada decisão do COPOM de aumentar para 75 pontos a dose mensal da queda dos juros SELIC provocou uma reação inesperada no mercado financeiro. Nos dias que seguiram esta decisão vários analistas – tanto na mídia como nas instituições financeiras – expressaram um sensível aumento de seu otimismo sobre o ano de 2017. Vários cenários […]

ILAN GOLDFAJN, PRESIDENTE DO BC: impor um juro real altíssimo em uma economia em profunda recessão como é o caso do Brasil hoje, como defesa sobre eventuais impactos políticos de futuros vazamentos da Lava-Jato não faz o menor sentido econômico / Evaristo Sá/AFP
ILAN GOLDFAJN, PRESIDENTE DO BC: impor um juro real altíssimo em uma economia em profunda recessão como é o caso do Brasil hoje, como defesa sobre eventuais impactos políticos de futuros vazamentos da Lava-Jato não faz o menor sentido econômico / Evaristo Sá/AFP
L
Luiz Carlos Mendonça de Barros

Publicado em 16 de janeiro de 2017 às, 11h59.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h25.

A inesperada decisão do COPOM de aumentar para 75 pontos a dose mensal da queda dos juros SELIC provocou uma reação inesperada no mercado financeiro. Nos dias que seguiram esta decisão vários analistas – tanto na mídia como nas instituições financeiras – expressaram um sensível aumento de seu otimismo sobre o ano de 2017. Vários cenários que apareceram na mídia já preveem uma taxa Selic de apenas um digito ao final de 2017 e um leve movimento de olhar para o crescimento do PIB neste ano com mais otimismo.

Apenas os falcões mais radicais balbuciaram algumas críticas, alegando as incertezas que ainda pesam sobre o Brasil e a economia mundial como razão para uma redução menor da SELIC. Mas seu tom foi muito suave pois ninguém tem coragem de acusar publicamente a diretoria presidida por Ilan Goldfgn de irresponsável ou desenvolvimentista nesta altura de seu mandato. Para minha surpresa um destes falcoes com sotaque carioca chegou até a se manifestar positivamente na imprensa sobre a decisão tomada. Com os dados hoje disponíveis sobre a inflação nesta primeira metade do mês de janeiro este mutismo dos falcões vai aumentar ainda mais.

Um outro economista que costumo conversar sobre decisões do Banco Central me relatou uma expressão que gostei muito: “a grande maioria do mercado não acreditava no corte de 75 pontos mas esperava que ela acontecesse”.

O leitor de EXAME Hoje conhece minha posição sobre a necessidade de uma redução dos juros mais agressiva em função principalmente da intensidade da desinflação a partir de setembro do ano passado e do hiato do PIB de mais de 10% que temos hoje na economia brasileira. Esta posição tem sido defendida por outros economistas da minha geração, principalmente meu irmão Jose Roberto, a partir de uma análise econômica centrada nos fundamentos atuais de nossa economia. Déficit em conta corrente de 1% do PIB, taxa de desemprego mais amplo de quase 15% da população e normalização da produção agrícola para 2017 compõem um quadro de fundamentos que permitem uma ação como a que tomou o COPON na quarta-feira passada. Outra ancora importante para uma redução acelerada dos juros é o fato de que a equipe econômica do presidente Temer tem um compromisso claro e definitivo com uma gestão fiscal responsável e de longo prazo.

Em relação aos dois maiores riscos citados pelos opositores da redução mais agressiva da taxa SELIC – a operação Lava Jato no Brasil e a posse do presidente eleito Donald Trump nos Estados Unidos – tenho uma posição muito clara. Não se pode administrar a taxa de juros de uma economia olhando para riscos que não estão totalmente qualificados e quantificados. Esta tem sido a mensagem da presidente do FED que procura liderar as decisões desta instituição a partir de uma análise racional da conjuntura econômica atual. Vejam os leitores o que ocorreu no mercado de juros e de cambio no mundo todo depois que a primeira entrevista coletiva do novo presidente frustrou as expectativas dos analistas mais nervosos com seu governo.

Da mesma forma, impor um juro real altíssimo em uma economia em profunda recessão como é o caso do Brasil hoje, como defesa sobre eventuais impactos políticos de futuros vazamentos da Lava-Jato não faz o menor sentido econômico. Não se deve misturar a definição de cenários econômicos futuros com informações de baixo grau de conhecimento no momento atual como as delações premiadas. Os resultados desta combinação têm um grau elevadíssimo de incerteza e na grande maioria das vezes leva a desastres de previsão.

Mendonça de barros