O Copom e a opção pela ortodoxia
Na semana passada refleti neste espaço semanal sobre a recuperação econômica da Europa e a opção do BCE pela heterodoxia monetária, adotada também pelo FED para enfrentar a crise do sub prime em 2008. Os dois Bancos Centrais mais respeitados do mundo não tiveram medo de adotar terapias monetárias extremas quando os mecanismos tradicionais não […]
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2017 às 15h00.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h35.
Na semana passada refleti neste espaço semanal sobre a recuperação econômica da Europa e a opção do BCE pela heterodoxia monetária, adotada também pelo FED para enfrentar a crise do sub prime em 2008. Os dois Bancos Centrais mais respeitados do mundo não tiveram medo de adotar terapias monetárias extremas quando os mecanismos tradicionais não respondiam aos desafios criados pela deflação de preços.
Um dos pontos que destaquei naquela minha coluna foi a oposição do Bundesbank – liderada por seu jovem presidente – à política monetária adotada sob o comando de Mario Draghi. Hoje ninguém tem dúvida do acerto da implantação da política de expansão da liquidez na região do euro provocada pelo chamado QE e pela política de juros negativos do BCE.
No Brasil teremos nesta semana mais uma reunião do COPOM e o consenso do mercado aponta para uma redução de 100 pontos na taxa básica de juros. Apenas duas instituições financeiras consideram possível uma redução maior, de 125 pontos. Mas em ambos os casos a política monetária do Banco Central continua a se pautar pela leitura tradicional de uma recessão provocada por erros de política econômica do governo Dilma Rousseff. A intensidade da desinflação que vivemos, em função da recessão profunda que atinge a economia brasileira e a lenta redução da SELIC,tem feito o juro real aumentar e não diminuir rapidamente como exige a economia.
Não está no cenário do BC brasileiro o fato de que vivemos – como nos Estados Unidos e na Europa – os riscos do metabolismo de uma bolha de consumo provocada – ela sim – por erros de política econômica ao longo dos primeiros anos da década. E como não entendem o caráter particular desta recessão, não conseguem fugir do manual tradicional de um sistema de metas de inflação. Da mesma forma como a direção do Bundesbank defendia, quando Mário Draghi assumiu a presidência do BCE. Este é o dilema hoje no Brasil e que está tornando muito mais difícil a vida do presidente Temer e sua agenda de reformas no Congresso.
Se a economia já estivesse apresentando sinais mais claros da recuperação cíclica em função de juros bem mais baixos – o que vai ocorrer ao longo do segundo semestre de qualquer forma – a popularidade de Temer seria hoje mais elevada e o apoio a suas reformas no Congresso mais significativa. Mas ao optar por uma política tradicional, sem levar em conta o metabolismo de da ruptura de uma bolha artificial de consumo, o BC está retardando a recuperação e aumentando os riscos de uma agenda de reformas estruturais diluída e enfraquecida em função do baixo apoio popular do presidente Temer.
As lições que conhecemos hoje das ações de política monetária do FED e do BCE de Mario Draghi, no enfrentamento da crise de 2008 e 2010, estão sendo deixadas de lado por um grupo de economistas formados no espaço restrito da academia. E muito preocupados com críticas que certamente virão se o que precisa ser feito no Brasil fosse adotado pelo COPOM.
Na semana passada refleti neste espaço semanal sobre a recuperação econômica da Europa e a opção do BCE pela heterodoxia monetária, adotada também pelo FED para enfrentar a crise do sub prime em 2008. Os dois Bancos Centrais mais respeitados do mundo não tiveram medo de adotar terapias monetárias extremas quando os mecanismos tradicionais não respondiam aos desafios criados pela deflação de preços.
Um dos pontos que destaquei naquela minha coluna foi a oposição do Bundesbank – liderada por seu jovem presidente – à política monetária adotada sob o comando de Mario Draghi. Hoje ninguém tem dúvida do acerto da implantação da política de expansão da liquidez na região do euro provocada pelo chamado QE e pela política de juros negativos do BCE.
No Brasil teremos nesta semana mais uma reunião do COPOM e o consenso do mercado aponta para uma redução de 100 pontos na taxa básica de juros. Apenas duas instituições financeiras consideram possível uma redução maior, de 125 pontos. Mas em ambos os casos a política monetária do Banco Central continua a se pautar pela leitura tradicional de uma recessão provocada por erros de política econômica do governo Dilma Rousseff. A intensidade da desinflação que vivemos, em função da recessão profunda que atinge a economia brasileira e a lenta redução da SELIC,tem feito o juro real aumentar e não diminuir rapidamente como exige a economia.
Não está no cenário do BC brasileiro o fato de que vivemos – como nos Estados Unidos e na Europa – os riscos do metabolismo de uma bolha de consumo provocada – ela sim – por erros de política econômica ao longo dos primeiros anos da década. E como não entendem o caráter particular desta recessão, não conseguem fugir do manual tradicional de um sistema de metas de inflação. Da mesma forma como a direção do Bundesbank defendia, quando Mário Draghi assumiu a presidência do BCE. Este é o dilema hoje no Brasil e que está tornando muito mais difícil a vida do presidente Temer e sua agenda de reformas no Congresso.
Se a economia já estivesse apresentando sinais mais claros da recuperação cíclica em função de juros bem mais baixos – o que vai ocorrer ao longo do segundo semestre de qualquer forma – a popularidade de Temer seria hoje mais elevada e o apoio a suas reformas no Congresso mais significativa. Mas ao optar por uma política tradicional, sem levar em conta o metabolismo de da ruptura de uma bolha artificial de consumo, o BC está retardando a recuperação e aumentando os riscos de uma agenda de reformas estruturais diluída e enfraquecida em função do baixo apoio popular do presidente Temer.
As lições que conhecemos hoje das ações de política monetária do FED e do BCE de Mario Draghi, no enfrentamento da crise de 2008 e 2010, estão sendo deixadas de lado por um grupo de economistas formados no espaço restrito da academia. E muito preocupados com críticas que certamente virão se o que precisa ser feito no Brasil fosse adotado pelo COPOM.