O Brexit em sua complexidade
Atrasei a postagem desta minha coluna por 24 horas para permitir uma leitura mais detalhada das reações do povo do Reino Unido – ou melhor, da Inglaterra – ao chamado Brexit, e à experiencia de viver novamente sua condição de isolamento político. E aqui se faz necessária uma primeira qualificação para entender melhor o futuro […]
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2016 às 10h50.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h17.
Atrasei a postagem desta minha coluna por 24 horas para permitir uma leitura mais detalhada das reações do povo do Reino Unido – ou melhor, da Inglaterra – ao chamado Brexit, e à experiencia de viver novamente sua condição de isolamento político. E aqui se faz necessária uma primeira qualificação para entender melhor o futuro que esta condição reserva ao povo inglês.
A condição de isolamento anterior ocorreu por longo período de tempo, quando a Inglaterra era ainda uma potência e tinha uma presença de liderança na economia mundial. Foi a nova realidade que ocorreu depois da Segunda Grande Guerra, com o colapso do Império Britânico, que levou o Reino Unido a se aproximar do projeto de unidade europeia ainda no seu início. Uma economia inglesa já mais raquítica obrigava este orgulhoso país a buscar na Comunidade de Nações da Europa uma escala maior para vencer os desafios econômicos e políticos — principalmente nas questões de segurança — em um mundo sob a clara polarização entre a União Soviética e os Estados Unidos.
A partir da queda do Muro de Berlim, com o colapso do Imperio Sovietico, foram os desafios de natureza econômica em um mundo que se transformava em função da globalização que mantiveram os ingleses unidos em torno de uma Europa comunitária, apesar de ter uma oposição já crescente a este modelo. E aqui volto à qualificação citada no início desta coluna em relação a esta nova posição de isolamento do Reino Unido. É uma volta ao isolamento político em um mundo econômico globalizado, agora com um novo polo representado pela China, e no qual a economia inglesa representa uma parte muito pequena do todo. É uma situação diferente em relação ao isolamento vivido quando o Império Britânico liderava a economia mundial. Esta característica será muito importante para que se entenda as dificuldades econômicas que serão enfrentadas agora, e que terão importância decisiva na evolução do Brexit nos próximos anos. Se a Escócia decidir no futuro próximo ficar junto com a comunidade europeia, esta questão da pequena dimensão da economia inglesa será ainda mais deletéria.
E aqui desenvolvo um outro raciocínio sobre como vejo a evolução da política inglesa a partir do Brexit. A vitória no plebiscito foi fruto de um movimento populista, liderado por políticos de baixíssima qualificação, e que exploraram de maneira eficiente uma população empobrecida e com medo do futuro. Sabemos que em situações como esta, uma reflexão mais profunda sobre como tratar as espinhosas questões que vão emergir de uma separação tão complexa, não ocorreram. Como se diz em linguagem popular, ganharam o plebiscito no grito, mostrando apenas algumas poucas vantagens que a nova situação deve gerar para os que votaram pelo Brexit e esconderam de todos os reais problemas que serão enfrentados, principalmente na economia. Alem disto, não têm a menor ideia de como enfrentar os detalhes micro da separação de mercados e de contratos privados que estão em vigor.
Os custos desta vitoria só devem aparecer com clareza mais à frente, embora a desvalorização da libra, o rebaixamento da nota de crédito soberano do país e a queda das Bolsas de Valores que já ocorreram antecipem os problemas a serem enfrentados. E o comportamento do primeiro ministro demissionário David Cameron e dos principais líderes europeus mostram claramente um movimento na direção de tornar a vida dos vitoriosos do plebiscito nos próximos meses ainda mais difícil.
Não me parece descartada uma eventual volta atrás nos próximos meses se uma conjunção de fatores negativos como a saída Escocia e da Irlanda do Norte ocorrerem juntos a uma deterioração mais agressiva do ambiente econômico.
Atrasei a postagem desta minha coluna por 24 horas para permitir uma leitura mais detalhada das reações do povo do Reino Unido – ou melhor, da Inglaterra – ao chamado Brexit, e à experiencia de viver novamente sua condição de isolamento político. E aqui se faz necessária uma primeira qualificação para entender melhor o futuro que esta condição reserva ao povo inglês.
A condição de isolamento anterior ocorreu por longo período de tempo, quando a Inglaterra era ainda uma potência e tinha uma presença de liderança na economia mundial. Foi a nova realidade que ocorreu depois da Segunda Grande Guerra, com o colapso do Império Britânico, que levou o Reino Unido a se aproximar do projeto de unidade europeia ainda no seu início. Uma economia inglesa já mais raquítica obrigava este orgulhoso país a buscar na Comunidade de Nações da Europa uma escala maior para vencer os desafios econômicos e políticos — principalmente nas questões de segurança — em um mundo sob a clara polarização entre a União Soviética e os Estados Unidos.
A partir da queda do Muro de Berlim, com o colapso do Imperio Sovietico, foram os desafios de natureza econômica em um mundo que se transformava em função da globalização que mantiveram os ingleses unidos em torno de uma Europa comunitária, apesar de ter uma oposição já crescente a este modelo. E aqui volto à qualificação citada no início desta coluna em relação a esta nova posição de isolamento do Reino Unido. É uma volta ao isolamento político em um mundo econômico globalizado, agora com um novo polo representado pela China, e no qual a economia inglesa representa uma parte muito pequena do todo. É uma situação diferente em relação ao isolamento vivido quando o Império Britânico liderava a economia mundial. Esta característica será muito importante para que se entenda as dificuldades econômicas que serão enfrentadas agora, e que terão importância decisiva na evolução do Brexit nos próximos anos. Se a Escócia decidir no futuro próximo ficar junto com a comunidade europeia, esta questão da pequena dimensão da economia inglesa será ainda mais deletéria.
E aqui desenvolvo um outro raciocínio sobre como vejo a evolução da política inglesa a partir do Brexit. A vitória no plebiscito foi fruto de um movimento populista, liderado por políticos de baixíssima qualificação, e que exploraram de maneira eficiente uma população empobrecida e com medo do futuro. Sabemos que em situações como esta, uma reflexão mais profunda sobre como tratar as espinhosas questões que vão emergir de uma separação tão complexa, não ocorreram. Como se diz em linguagem popular, ganharam o plebiscito no grito, mostrando apenas algumas poucas vantagens que a nova situação deve gerar para os que votaram pelo Brexit e esconderam de todos os reais problemas que serão enfrentados, principalmente na economia. Alem disto, não têm a menor ideia de como enfrentar os detalhes micro da separação de mercados e de contratos privados que estão em vigor.
Os custos desta vitoria só devem aparecer com clareza mais à frente, embora a desvalorização da libra, o rebaixamento da nota de crédito soberano do país e a queda das Bolsas de Valores que já ocorreram antecipem os problemas a serem enfrentados. E o comportamento do primeiro ministro demissionário David Cameron e dos principais líderes europeus mostram claramente um movimento na direção de tornar a vida dos vitoriosos do plebiscito nos próximos meses ainda mais difícil.
Não me parece descartada uma eventual volta atrás nos próximos meses se uma conjunção de fatores negativos como a saída Escocia e da Irlanda do Norte ocorrerem juntos a uma deterioração mais agressiva do ambiente econômico.