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Mais um medo do mercado que cai

Mais uma incerteza do mercado caiu por terra com a eleição de Macron para presidente da França. Nos últimos tempos, os principais analistas financeiros têm vivido assustados com uma casa de fantasmas. Qualquer previsão feita com base em dados econômicos divulgados é sempre seguida de qualificações sobre os riscos que estão associados com o futuro. Ou seja, […]

PARIS: Emmanuel Macron é eleito presidente da França; mercado respira aliviado / Aurelien Meunier/Getty Images
PARIS: Emmanuel Macron é eleito presidente da França; mercado respira aliviado / Aurelien Meunier/Getty Images
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Luiz Carlos Mendonça de Barros

Publicado em 8 de maio de 2017 às, 14h54.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h22.

Mais uma incerteza do mercado caiu por terra com a eleição de Macron para presidente da França. Nos últimos tempos, os principais analistas financeiros têm vivido assustados com uma casa de fantasmas. Qualquer previsão feita com base em dados econômicos divulgados é sempre seguida de qualificações sobre os riscos que estão associados com o futuro. Ou seja, a credibilidade das previsões se dilui com a possibilidade da ocorrência de possíveis black swans no futuro próximo.

Vejamos alguns destes fantasmas que aparecem de tempos em tempos e que se evaporam antes de produzirem efeitos deletérios nos mercados financeiros mundiais mais importantes. Um fantasma que sempre reaparece é o colapso da União Europeia e o pânico que se seguiria nos mercados de câmbio em função do derretimento do euro.

Inicialmente, a crise na zona do euro viria pela saída da Grécia por conta do colapso de suas finanças públicas após o fim do suporte creditício estendido pela UE e o FMI. Dado como certo em algum tempo no passado, o arranjo atual sobreviveu até a eleição de um grupo radical de esquerda para o governo em Atenas. Deixando de lado suas promessas radicais de campanha, o governo do partido Sriza implementa hoje um duro programa de ajustes de cunho liberal, e as coisas seguem em frente sem colapso do euro. A razão principal deste aparente “conundrum” político é muito simples: apesar das dificuldades, a grande maioria do povo grego não quer romper com a União Europeia.

Mais recentemente, foi o aparente sucesso de um partido radical de direita na Holanda que trouxe de volta aos mercados o fantasma que ronda a UE. Este chilique durou pouco pois, nas eleições recentes, os holandeses ficaram claramente do lado do euro.

Passado o susto da Holanda, os defensores do colapso eminente do euro voltaram à carga com a vitória do Brexit no Reino Unido. Desta vez, foi a libra esterlina que sofreu o ataque especulativo dos afobados — e sempre perdedores — especuladores financeiros. A libra desabou no primeiro momento para se recuperar de forma importante na medida em que este choque para a União Europeia se dissipou com a evolução das negociações. Hoje, temos um consenso de que o Reino Unido vai sofrer um desgaste com a decisão tomada, mas que o cenário de catástrofe está muito longe.

Finalmente, nas últimas semanas, foi o fantasma tricolor francês que voltou a assustar os mercados. A vitória da candidata radical de direita, Marina Le Pen, levaria a França, grande parceira da Alemanha na construção do projeto do euro, a abandonar este projeto e jogar toda a região em um beco sem saída. Neste domingo, mais este fantasma imaginário se diluiu sob as luzes do palácio do Louvre em Paris.

As lições que ficam de todos estes eventos que ridicularizaram os criadores de pânico sobre o arranjo europeu são principalmente as seguintes:

o apoio da população ao projeto da União Europeia é muito sólido mesmo em um período de crise na economia que tem criado espaço para os demagogos de direita.

Em segundo lugar, o crescimento eleitoral dos defensores da volta da Europa ao passado é um sinal que precisa ser entendido pela liderança política do chamado Velho Continente. A concentração do poder político na região em entidades multinacionais localizadas em Bruxelas foi longe demais, distanciando o cidadão de decisões importantes para cada país.

Outro ponto que precisa ser reformulado é a coordenação das políticas econômicas nacionais, que afetam diretamente os eleitores, e das regras gerais estabelecidas para a região como um todo. Nesse caso, a existência de uma moeda única e as realidades microeconômicas em cada país precisam ser melhor entendidas e submetidas a regras mais homogêneas.

Se isso não acontecer, embora a recuperação econômica já em curso deva criar um ambiente econômico mais favorável no futuro, mais à frente os demagogos de direita voltarão a assustar os mercados.

Mendonça de barros