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Juros: como fica a sabedoria convencional?

Chamo a atenção do leitor do aplicativo EXAME Hoje para uma reportagem que foi postada no site de notícias econômicas Bloomberg no dia 12 de agosto de 2016. Nela é tratada uma questão que me intriga há bastante tempo e para a qual ainda não tenho convicções formadas e respostas que me satisfaçam. Como entender […]

MARIO DRAGHI: Banco Central Europeu, já sob o comando do italiano, e o BC japonês passaram a usar os juros quase zero como instrumento de estimulo à atividade econômica / Bloomberg / Getty Images
DR

Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2016 às 12h28.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h17.

Chamo a atenção do leitor do aplicativo EXAME Hoje para uma reportagem que foi postada no site de notícias econômicas Bloomberg no dia 12 de agosto de 2016. Nela é tratada uma questão que me intriga há bastante tempo e para a qual ainda não tenho convicções formadas e respostas que me satisfaçam. Como entender a política monetária de juros zero, resultado de uma maciça compra de títulos públicos, operada pelos Bancos Centrais de países importantes no cenário econômico mundial?

O último Banco Central tinha tradição conservadora na questão da influência dos juros na atividade econômica e no equilíbrio da inflação corrente – características também vistas no BoE. Como resposta às ameaças que o chamado Brexit deve trazer à economia do chamado Reino Unido, o Banco Central inglês iniciou uma agressiva compra de Gilts, nome de mercado para os títulos de dez anos de prazo emitidos pelo governo inglês. Em questão de dias os juros destes papéis caíram para pouco mais de 0,60% ao ano, juntando-se aos títulos europeus e aos do Japão negociados nos mercados financeiros internacionais.

Esta nova fase da política monetária nas maiores economias do mundo iniciou-se nos Estados Unidos há alguns anos, em resposta à ameaça de depressão econômica pós-bolha dos títulos hipotecários Sub Prime. Posteriormente o Banco Central Europeu, já sob o comando do italiano Mario Draghi, e o Banco Central japonês passaram também a usar os juros quase zero como instrumento de estimulo à atividade econômica.

Esta nova postura de autoridades monetárias com longa tradição de conservadorismo – nada parecido com o Banco Central do Brasil no governo Dilma Rousseff – tem levado os analistas mais ortodoxos a ameaçar o mundo com uma catástrofe inflacionaria caso ela seja mantida. O primeiro a liderar este movimento foi o jovem presidente do Bundesbank alemão – bastião do conservadorismo monetário e crítico agressivo do italiano Mario Draghi. Coitado, faz mais de três anos que isto aconteceu e a Europa continua flertando com a deflação. Por isto se calou e ninguém mais cita seu nome na mídia internacional.

A Bloomberg, na matéria citada acima, é o primeiro órgão da mídia internacional respeitado pelos mercados a tocar em verdadeiras vacas sagradas da análise econômica moderna e a sugerir claramente a possibilidade de que o velho paradigma que liga juros à inflação – via expectativas racionais – pode ter envelhecido e não funcionaria mais.

Cito uma parte das afirmações na matéria sobre esta questão: “Conventional Wisdom says actual inflation trends depend largely on inflation expectations, and to a lesser degree, the amount of slack in the economy”. A Bloomberg menciona um estudo recente do FED que afirma que a correlação entre expectativas de inflação e a inflação atual era muito alta até 1995, mas que esta relação se enfraqueceu, de forma expressiva, no período posterior. Afirma ainda em seu artigo que, quando a inflação é baixa, “movements in inflation expectations now appear inconsequential since no longer have any predictive contente for subsequent inflation realizations”.

Outro economista, George Akerlof, ganhador de um Prêmio Nobel, é mais contundente em suas afirmações ao dizer que “when inflation is low it may be at most a marginal factor in wage and price decisions, and decision makers may ignore it entirely”.

Outra voz influente, a do presidente do FED de Chicago, questiona publicamente a noção que tem dominado a política do FED desde que Milton Friedman realizou seus trabalhos sobre a política monetária em 1960. Para ele estes conceitos estão ultrapassados pois na economia de hoje não é ao aprendizado com o passado – base do conceito das expectativas racionais – que estão realmente condicionando as ações dos agentes econômicos.

Se isto ficar provado, será uma mudança fundamental no arcabouço teórico no qual se baseia a operação da política monetária nas economias de mercado mais avançadas. A conferir.

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Chamo a atenção do leitor do aplicativo EXAME Hoje para uma reportagem que foi postada no site de notícias econômicas Bloomberg no dia 12 de agosto de 2016. Nela é tratada uma questão que me intriga há bastante tempo e para a qual ainda não tenho convicções formadas e respostas que me satisfaçam. Como entender a política monetária de juros zero, resultado de uma maciça compra de títulos públicos, operada pelos Bancos Centrais de países importantes no cenário econômico mundial?

O último Banco Central tinha tradição conservadora na questão da influência dos juros na atividade econômica e no equilíbrio da inflação corrente – características também vistas no BoE. Como resposta às ameaças que o chamado Brexit deve trazer à economia do chamado Reino Unido, o Banco Central inglês iniciou uma agressiva compra de Gilts, nome de mercado para os títulos de dez anos de prazo emitidos pelo governo inglês. Em questão de dias os juros destes papéis caíram para pouco mais de 0,60% ao ano, juntando-se aos títulos europeus e aos do Japão negociados nos mercados financeiros internacionais.

Esta nova fase da política monetária nas maiores economias do mundo iniciou-se nos Estados Unidos há alguns anos, em resposta à ameaça de depressão econômica pós-bolha dos títulos hipotecários Sub Prime. Posteriormente o Banco Central Europeu, já sob o comando do italiano Mario Draghi, e o Banco Central japonês passaram também a usar os juros quase zero como instrumento de estimulo à atividade econômica.

Esta nova postura de autoridades monetárias com longa tradição de conservadorismo – nada parecido com o Banco Central do Brasil no governo Dilma Rousseff – tem levado os analistas mais ortodoxos a ameaçar o mundo com uma catástrofe inflacionaria caso ela seja mantida. O primeiro a liderar este movimento foi o jovem presidente do Bundesbank alemão – bastião do conservadorismo monetário e crítico agressivo do italiano Mario Draghi. Coitado, faz mais de três anos que isto aconteceu e a Europa continua flertando com a deflação. Por isto se calou e ninguém mais cita seu nome na mídia internacional.

A Bloomberg, na matéria citada acima, é o primeiro órgão da mídia internacional respeitado pelos mercados a tocar em verdadeiras vacas sagradas da análise econômica moderna e a sugerir claramente a possibilidade de que o velho paradigma que liga juros à inflação – via expectativas racionais – pode ter envelhecido e não funcionaria mais.

Cito uma parte das afirmações na matéria sobre esta questão: “Conventional Wisdom says actual inflation trends depend largely on inflation expectations, and to a lesser degree, the amount of slack in the economy”. A Bloomberg menciona um estudo recente do FED que afirma que a correlação entre expectativas de inflação e a inflação atual era muito alta até 1995, mas que esta relação se enfraqueceu, de forma expressiva, no período posterior. Afirma ainda em seu artigo que, quando a inflação é baixa, “movements in inflation expectations now appear inconsequential since no longer have any predictive contente for subsequent inflation realizations”.

Outro economista, George Akerlof, ganhador de um Prêmio Nobel, é mais contundente em suas afirmações ao dizer que “when inflation is low it may be at most a marginal factor in wage and price decisions, and decision makers may ignore it entirely”.

Outra voz influente, a do presidente do FED de Chicago, questiona publicamente a noção que tem dominado a política do FED desde que Milton Friedman realizou seus trabalhos sobre a política monetária em 1960. Para ele estes conceitos estão ultrapassados pois na economia de hoje não é ao aprendizado com o passado – base do conceito das expectativas racionais – que estão realmente condicionando as ações dos agentes econômicos.

Se isto ficar provado, será uma mudança fundamental no arcabouço teórico no qual se baseia a operação da política monetária nas economias de mercado mais avançadas. A conferir.

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