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Hora de o BC iniciar uma redução forte dos juros

O IPCA15 relativo ao mês de setembro pegou a maioria dos analistas de mercado de surpresa. A inflação medida por este indicador veio muito abaixo do piso das estimativas e colocou os ardorosos defensores da manutenção dos juros na defensiva. Alguns vestiram as sandálias da humildade e reconheceram que houve uma mudança significativa na dinâmica […]

INFLAÇÃO PERDE FORÇA: as forças deflacionistas provocadas pela intensa queda do consumo – e do investimento – do último ano ganham força /
DR

Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2016 às 12h58.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h31.

O IPCA15 relativo ao mês de setembro pegou a maioria dos analistas de mercado de surpresa. A inflação medida por este indicador veio muito abaixo do piso das estimativas e colocou os ardorosos defensores da manutenção dos juros na defensiva.

Alguns vestiram as sandálias da humildade e reconheceram que houve uma mudança significativa na dinâmica da inflação. Outros preferiram não visualizar no IPCA15 nenhuma mudança importante e mantiveram o discurso de que qualquer redução da taxa SELIC agora seria uma irresponsabilidade. Apontam para a taxa de inflação acumulada de 12 meses, muito acima do limite superior do sistema de metas de inflação, como a melhor prova de suas teses.

Mas a surpresa e as dúvidas sobre o acerto de suas previsões pessimistas atingiram a todos, mesmo os radicais mais extremados.

Faço parte de um grupo de analistas que acompanham a inflação no Brasil com um instrumental analítico diferente do consenso majoritário em vigor. Para estes a inflação futura responde basicamente às expectativas racionais dos agentes econômicos. Como acreditam que elas são construídas a partir de uma avaliação correta das principais variáveis econômicas, devem ser tomadas por seu valor de face e comandar as ações do BC.

No Brasil de hoje as expectativas racionais são disponibilizadas semanalmente no relatório FOCUS do Banco Central. E o FOCUS tem mostrado sistematicamente uma leitura muito negativa da inflação em 2017, com o número fechado ainda muito acima do centro de meta do Banco Central. Portanto defender uma redução dos juros a partir da reunião de outubro próximo seria, para os ardorosos defensores da manutenção dos juros, como disse acima, uma posição errada e irresponsável.

Penso diferente. Para mim a dinâmica da inflação, em momentos como os que estamos vivendo depois que a realidade econômica se impôs no início do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, precisa ser acompanhada de forma mais cuidadosa. Isto se faz colocando os movimentos de natureza microeconômica no centro do quadro analítico. Como exemplo citaria os choques de preços criados pela correção dos preços públicos, pela intensa desvalorização do real e – finalmente – pela elevação dos preços agrícolas provocada pelo fenômeno climático El Ninho. Aliás o IPCA15 recém-publicado foi afetado de forma intensa pela queda da inflação agrícola e espera-se para o IPCA fechado de setembro uma deflação neste grupo.

Com isto completa-se a correção de preços influenciados pelos três choques externos citados acima. Com as previsões para o clima no próximo verão e outono mostrando um quadro mais favorável para a agricultura é racional esperar um movimento mais duradouro para os voláteis preços dos alimentos nos próximos seis meses. Neste cenário as forças deflacionistas provocadas pela intensa queda do consumo – e do investimento – do último ano ganham força e devem prevalecer progressivamente sobre a inércia inflacionária que está instalada no sistema de preços no Brasil.

Um dos erros principais cometidos pelos analistas que ainda não visualizam uma mudança de rumo na inflação tem sido a utilização das taxas anuais como métrica principal. Se utilizados outros indicadores que mostram de forma mais clara a evolução nos meses recentes, o quadro de deflação em andamento fica mais nítido. No gráfico anexo apresento a deflação do IPCA acumulada até cada um dos meses de 2016 em relação ao mesmo período de 2015 para a comprovação desta afirmação. O número projetado mostra uma queda de mais de 3,5% entre o IPCA em 12 meses deste ano e o do ano passado. Mais do que isto, chama a atenção o aumento da intensidade da deflação nos últimos três meses de 2016.

Concluo: já está na hora de o BC agir de forma mais rápida na redução dos juros SELIC.

Mendonça de barros

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O IPCA15 relativo ao mês de setembro pegou a maioria dos analistas de mercado de surpresa. A inflação medida por este indicador veio muito abaixo do piso das estimativas e colocou os ardorosos defensores da manutenção dos juros na defensiva.

Alguns vestiram as sandálias da humildade e reconheceram que houve uma mudança significativa na dinâmica da inflação. Outros preferiram não visualizar no IPCA15 nenhuma mudança importante e mantiveram o discurso de que qualquer redução da taxa SELIC agora seria uma irresponsabilidade. Apontam para a taxa de inflação acumulada de 12 meses, muito acima do limite superior do sistema de metas de inflação, como a melhor prova de suas teses.

Mas a surpresa e as dúvidas sobre o acerto de suas previsões pessimistas atingiram a todos, mesmo os radicais mais extremados.

Faço parte de um grupo de analistas que acompanham a inflação no Brasil com um instrumental analítico diferente do consenso majoritário em vigor. Para estes a inflação futura responde basicamente às expectativas racionais dos agentes econômicos. Como acreditam que elas são construídas a partir de uma avaliação correta das principais variáveis econômicas, devem ser tomadas por seu valor de face e comandar as ações do BC.

No Brasil de hoje as expectativas racionais são disponibilizadas semanalmente no relatório FOCUS do Banco Central. E o FOCUS tem mostrado sistematicamente uma leitura muito negativa da inflação em 2017, com o número fechado ainda muito acima do centro de meta do Banco Central. Portanto defender uma redução dos juros a partir da reunião de outubro próximo seria, para os ardorosos defensores da manutenção dos juros, como disse acima, uma posição errada e irresponsável.

Penso diferente. Para mim a dinâmica da inflação, em momentos como os que estamos vivendo depois que a realidade econômica se impôs no início do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, precisa ser acompanhada de forma mais cuidadosa. Isto se faz colocando os movimentos de natureza microeconômica no centro do quadro analítico. Como exemplo citaria os choques de preços criados pela correção dos preços públicos, pela intensa desvalorização do real e – finalmente – pela elevação dos preços agrícolas provocada pelo fenômeno climático El Ninho. Aliás o IPCA15 recém-publicado foi afetado de forma intensa pela queda da inflação agrícola e espera-se para o IPCA fechado de setembro uma deflação neste grupo.

Com isto completa-se a correção de preços influenciados pelos três choques externos citados acima. Com as previsões para o clima no próximo verão e outono mostrando um quadro mais favorável para a agricultura é racional esperar um movimento mais duradouro para os voláteis preços dos alimentos nos próximos seis meses. Neste cenário as forças deflacionistas provocadas pela intensa queda do consumo – e do investimento – do último ano ganham força e devem prevalecer progressivamente sobre a inércia inflacionária que está instalada no sistema de preços no Brasil.

Um dos erros principais cometidos pelos analistas que ainda não visualizam uma mudança de rumo na inflação tem sido a utilização das taxas anuais como métrica principal. Se utilizados outros indicadores que mostram de forma mais clara a evolução nos meses recentes, o quadro de deflação em andamento fica mais nítido. No gráfico anexo apresento a deflação do IPCA acumulada até cada um dos meses de 2016 em relação ao mesmo período de 2015 para a comprovação desta afirmação. O número projetado mostra uma queda de mais de 3,5% entre o IPCA em 12 meses deste ano e o do ano passado. Mais do que isto, chama a atenção o aumento da intensidade da deflação nos últimos três meses de 2016.

Concluo: já está na hora de o BC agir de forma mais rápida na redução dos juros SELIC.

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