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E o COPOM conseguiu…

O COPOM, com sua postura cautelosa em excesso, conseguiu criar uma deflação de preços no setor produtivo brasileiro. ConsideradA por muitos um pecado capital para os gestores dos Bancos Centrais no mundo todo, ela nunca aconteceu na história brasileira com a intensidade de hoje. Com a publicação do IGP-M de maio finalmente o mercado reconheceu […]

COMITÊ DE POLÍTICA MONETÁRIA: pela sexta vez consecutiva, o Copom reduziu a taxa básica de juros no país / Marcelo Camargo/ Agência Brasil
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Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2017 às 12h11.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h16.

O COPOM, com sua postura cautelosa em excesso, conseguiu criar uma deflação de preços no setor produtivo brasileiro. ConsideradA por muitos um pecado capital para os gestores dos Bancos Centrais no mundo todo, ela nunca aconteceu na história brasileira com a intensidade de hoje. Com a publicação do IGP-M de maio finalmente o mercado reconheceu este fato e jogou os juros futuros dos contratos negociados na BMF para seu nível mais baixo na gestão Temer. Os contratos de dois anos de prazo terminaram o dia rendendo 8,93% ao ano e os títulos de 10 anos emitidos pelo Tesouro foram negociados a uma taxa de juros equivalentes a 9,92% ao ano.

Nos primeiros quatro meses de 2017 o índice de preços no atacado, que mede a inflação na chamada porta da fábrica, apresentou uma deflação de 0,52% em abril e de 1,22% agora em maio. No setor da construção civil apresentou o mesmo comportamento com redução nominal de preços de 0,31% em abril e 0,14% em maio. A queda nominal dos preços e a lentidão do COPOM em reduzir os juros tem provocado um aumento – e não uma redução – dos juros reais pagos por empresas e consumidores, um absurdo dado o nível de ociosidade que existe hoje no setor produtivo brasileiro.

Os últimos índices de inflação provocaram uma enxurrada de revisões para baixo da taxa de juros SELIC no fim do ciclo, previsto para dezembro deste ano. Na virada do ano a média dos analistas de mercado previa uma taxa SELIC de 10% na passagem de 2017 para 2018. Na medida em que a inflação mostrava uma velocidade crescente de queda, estas previsões foram sendo reduzidas chegando agora a valores entre 7,0 e 7,5%.

Mais importante ainda, a maioria dos analistas de mercado projetam uma inflação abaixo da meta do Banco Central em 2018 e na meta em 2019. Em linguagem técnica, isto revela que as expectativas estão ancoradas, ou seja, mostra uma grande confiança dos agentes econômicos na estabilidade dos preços no futuro próximo.

Nos últimos meses o mercado financeiro e os diretores do Banco Central têm errado sistematicamente em suas avaliações sobre o comportamento da inflação. O motivo principal deste erro coletivo tem sido uma falha de análise sobre a intensidade da recessão que atingiu nossa economia, quando a bolha de crédito criada pelo governo Dilma se rompeu. Não olharam com o devido cuidado para o que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa depois de 2008. E menos ainda para a forma como o FED, o banco central americano, e o Banco Central Europeu (BCE) agiram para lutar contra as forças deflacionárias que se instalaram neste conjunto de países.

Nos últimos anos, as duas autoridades monetárias mais importantes do mundo aplicaram instrumentos não ortodoxos que visavam criar um estímulo importante do lado dos juros na tentativa de recuperar o crescimento. Hoje, depois dos vários anos destes experimentos, as economias americana e europeia estão finalmente saindo da longa recessão. Os momentos mais críticos vividos pelo FED e pelo BCE ocorreram quando a deflação ameaçou se instalar no aparelho produtivo.

A direção do FED e, principalmente, a do BCE, foram vítimas de ataques violentos dos setores mais ortodoxos, que previram uma catástrofe monetária e cambial que nunca ocorreu. Agora no Brasil, com a recuperação cíclica ocorrendo, fica uma sensação muito forte de um grande erro de gestão na política oficial de juros no Brasil.

Mendonça de barros

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O COPOM, com sua postura cautelosa em excesso, conseguiu criar uma deflação de preços no setor produtivo brasileiro. ConsideradA por muitos um pecado capital para os gestores dos Bancos Centrais no mundo todo, ela nunca aconteceu na história brasileira com a intensidade de hoje. Com a publicação do IGP-M de maio finalmente o mercado reconheceu este fato e jogou os juros futuros dos contratos negociados na BMF para seu nível mais baixo na gestão Temer. Os contratos de dois anos de prazo terminaram o dia rendendo 8,93% ao ano e os títulos de 10 anos emitidos pelo Tesouro foram negociados a uma taxa de juros equivalentes a 9,92% ao ano.

Nos primeiros quatro meses de 2017 o índice de preços no atacado, que mede a inflação na chamada porta da fábrica, apresentou uma deflação de 0,52% em abril e de 1,22% agora em maio. No setor da construção civil apresentou o mesmo comportamento com redução nominal de preços de 0,31% em abril e 0,14% em maio. A queda nominal dos preços e a lentidão do COPOM em reduzir os juros tem provocado um aumento – e não uma redução – dos juros reais pagos por empresas e consumidores, um absurdo dado o nível de ociosidade que existe hoje no setor produtivo brasileiro.

Os últimos índices de inflação provocaram uma enxurrada de revisões para baixo da taxa de juros SELIC no fim do ciclo, previsto para dezembro deste ano. Na virada do ano a média dos analistas de mercado previa uma taxa SELIC de 10% na passagem de 2017 para 2018. Na medida em que a inflação mostrava uma velocidade crescente de queda, estas previsões foram sendo reduzidas chegando agora a valores entre 7,0 e 7,5%.

Mais importante ainda, a maioria dos analistas de mercado projetam uma inflação abaixo da meta do Banco Central em 2018 e na meta em 2019. Em linguagem técnica, isto revela que as expectativas estão ancoradas, ou seja, mostra uma grande confiança dos agentes econômicos na estabilidade dos preços no futuro próximo.

Nos últimos meses o mercado financeiro e os diretores do Banco Central têm errado sistematicamente em suas avaliações sobre o comportamento da inflação. O motivo principal deste erro coletivo tem sido uma falha de análise sobre a intensidade da recessão que atingiu nossa economia, quando a bolha de crédito criada pelo governo Dilma se rompeu. Não olharam com o devido cuidado para o que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa depois de 2008. E menos ainda para a forma como o FED, o banco central americano, e o Banco Central Europeu (BCE) agiram para lutar contra as forças deflacionárias que se instalaram neste conjunto de países.

Nos últimos anos, as duas autoridades monetárias mais importantes do mundo aplicaram instrumentos não ortodoxos que visavam criar um estímulo importante do lado dos juros na tentativa de recuperar o crescimento. Hoje, depois dos vários anos destes experimentos, as economias americana e europeia estão finalmente saindo da longa recessão. Os momentos mais críticos vividos pelo FED e pelo BCE ocorreram quando a deflação ameaçou se instalar no aparelho produtivo.

A direção do FED e, principalmente, a do BCE, foram vítimas de ataques violentos dos setores mais ortodoxos, que previram uma catástrofe monetária e cambial que nunca ocorreu. Agora no Brasil, com a recuperação cíclica ocorrendo, fica uma sensação muito forte de um grande erro de gestão na política oficial de juros no Brasil.

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