E agora, presidente Temer?
Com o fim do processo do impeachment de Dilma Rousseff – apesar dos questionamentos ainda pendentes no STF – temos um novo presidente com um mandato presidencial pleno em nosso país. Com pouco mais de dois anos de poder e com a responsabilidade de administrar os efeitos do colapso de uma longeva hegemonia política que […]
Publicado em 5 de setembro de 2016 às, 13h36.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 17h56.
Com o fim do processo do impeachment de Dilma Rousseff – apesar dos questionamentos ainda pendentes no STF – temos um novo presidente com um mandato presidencial pleno em nosso país. Com pouco mais de dois anos de poder e com a responsabilidade de administrar os efeitos do colapso de uma longeva hegemonia política que chegou ao fim, o presidente Temer terá como maior desafio a construção de uma nova maioria política para o futuro. Os anos do PT, que representaram claramente uma opção à esquerda da sociedade, devem ser substituídos agora por uma aliança de centro-direita, com cores de um liberalismo contido.
Não sabemos ainda os tons desta nova maioria liberal, pois o PMDB é um partido sem espinha dorsal ideológica clara e uma governabilidade heterogênea e difícil. Qual será o resultado final de sua aliança com o PSDB e os Democratas só as eleições de 2018 vão mostrar com maior clareza. Mas parece evidente para a maioria dos analistas – dos otimistas aos pessimistas com nosso futuro – que os valores de esquerda, representados pelo discurso petista, estarão enterrados por um longo período no Brasil.
Outra questão chave para avaliarmos o restante do mandato do presidente Temer é saber qual dos modelos, que ocorreram com vices-presidentes do PMDB que assumiram a presidência em momentos de crise, ele seguirá: Sarney ou Itamar Franco. A resposta inicial parece simples na medida em que o primeiro afundou o país em uma crise gravíssima, e saiu do Planalto repudiado pela opinião pública, e o segundo é considerado hoje um interino de sucesso. Mas entendo que a situação herdada agora por Temer – na economia e no Congresso – é mais complexa e mais difícil no contexto de uma situação política mais fluida e da necessidade de profundas reformas na economia.
Como ponto favorável para o governo Temer temos hoje um consenso maior sobre estas reformas e uma agenda de medidas legislativas e regulatórias mais detalhada. Com a recuperação cíclica da economia já em andamento – e que deve levar ao aumento do apoio popular ao governo em 2017 e 2018 – o Congresso pode ser menos reticente em tocar em pontos sensíveis do arcabouço de proteção social que existe hoje. Também conta a favor de Temer a situação fiscal de Estados e municípios e a possibilidade de se forjar uma aliança tática com deputados e senadores que almejam ser governadores – ou mesmo prefeitos – mais à frente.
Por outro lado, a economia brasileira poderá ser beneficiada pela conjuntura internacional favorável em função do colchão de liquidez que existe hoje no conjunto das economias mais avançadas e de uma verdadeira corrida por alternativas de investimento em alguns países emergentes. E o Brasil, sob nova direção e com um discurso de reformas liberais consistente, deve atrair muitos recursos tanto de portfólio como no setor produtivo. Uma prova deste movimento está clara no comportamento do Ibovespa e dos juros futuros nos dias que se seguiram a aprovação da perda de mandato da presidente Dilma Rousseff.
Por estas razões, creio que a probabilidade de sucesso do governo Temer em construir um período mais longo de crescimento sustentável no Brasil é maior do que a probabilidade associada a um fracasso. Talvez 60% contra 40%.