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Diário de uma visita à China

Estive na última semana na China para reuniões com a direção Foton Beiqi, a maior empresa de caminhões do mundo. Juntos estamos desenvolvendo, há mais de seis anos, um projeto de implantação de uma indústria de caminhões leves no Brasil. Neste período já fiz mais de dez viagens ao país de Mao Tse Tung, o […]

CHINA: o que impressiona o viajante nas cidades mais desenvolvidas do país é o grau de conectividade da vida do cidadão / Thomas Peter/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 3 de maio de 2017 às 12h48.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h24.

Estive na última semana na China para reuniões com a direção Foton Beiqi, a maior empresa de caminhões do mundo. Juntos estamos desenvolvendo, há mais de seis anos, um projeto de implantação de uma indústria de caminhões leves no Brasil. Neste período já fiz mais de dez viagens ao país de Mao Tse Tung, o que me permitiu ser um observador privilegiado do desenvolvimento deste gigantesco país.

Como a China vive já há mais de 20 anos um processo de transformação extraordinário, tanto do ponto de vista social como econômico, fica muito difícil para o analista externo acompanhá-lo apenas pelas estatísticas disponíveis. Não por outra razão o mercado financeiro mundial não consegue entender, na sua plenitude, o que ocorre lá.

Por este motivo, quando viajo a Pequim para minhas reuniões periódicas procuro manter os olhos abertos e a mente livre para sentir a intensidade das mudanças. A Foton Beiqi, minha sócia no Brasil, é um exemplo perfeito da velha China comunista. Trata-se de uma empresa estatal, controlada pelo partido comunista de Pequim, e com a vocação para ser um gigante em seu setor, com investimentos pesados em todo o setor automobilístico. Em apenas 20 anos de existência já produziu mais de 10 milhões de caminhões, ônibus e SUVs. Ela representa a velha China industrial especializada em bens de capital e que, no passado, chegou a mais de 70% do PIB. Hoje este setor tradicional não passa de 35% do PIB e foi superado recentemente pelo setor de serviços com uma participação de 45%.

Esta é a grande mudança em curso na China e que os analistas ocidentais teimam em não enxergar. E porque esta mudança é importante para entender a China do futuro? Porque no setor de serviços não existe a participação do estado através de suas grandes corporações. Ou seja, em pouco tempo mais de 50% do PIB chinês estará sendo gerado por empresas privadas, controladas por empresários jovens e para os quais a velha China comunista de Mao Tse Tung é apenas uma menção nos livros de História.

Outra mudança estrutural importante criada pela expansão do setor de serviços será a acumulação de capital no setor privado. Este sempre foi um grande limitador do crescimento econômico chinês pois até agora apenas o Estado tinha acesso ao investimento produtivo. Não havia capital acumulado fora do Estado e, portanto, apenas o investimento público podia acontecer, criando um ciclo vicioso deletério e limitador dos ganhos de produtividade. Em poucos anos isto será alterado e uma lufada de ar fresco vai empurrar e economia chinesa para outro patamar.

Um setor que deve lucrar com esta nova posição do capital privado será certamente o financeiro e que até agora é dominado totalmente pelos bancos públicos. Este processo já começou com as instituições financeiras não bancárias como corretoras de valores e gestores de Fundos de Investimentos. Mas certamente na próxima década já teremos os primeiros bancos privados lutando pela gestão da incrível massa de poupança privada que será gerada na China.

O setor de serviços da economia chinesa, em poucos anos, poderá se igualar aos padrões das maiores economias de mercado do mundo, ou seja, abocanhar 70% da totalidade do PIB. Com a diferença já citada acima que este setor será dominado apenas por empresários privados nacionais. Isto porque, apesar da dominância privada, o governo mantém estrito controle sobre a participação do capital estrangeiro. Não por outra razão as vendas da Apple na China amargam apenas um quarto lugar no setor de telefonia. O mesmo acontece com os setores ligados à Internet como o de pagamentos digitais e de comércio virtual.

O que impressiona o viajante nas cidades mais desenvolvidas da China é o grau de conectividade da vida do cidadão, principalmente os mais jovens. Isto acaba por criar mercados de tamanho gigantes e que dão às empresas chinesas do setor uma competitividade extraordinária em função da escala de suas atividades.

Minha convicção é de que ainda não visualizamos o que será a sociedade chinesa dez anos à frente com a continuidade deste processo de privatização da atividade econômica e a dimensão da plataforma digital que está sendo criada.

Mendonça de barros

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Estive na última semana na China para reuniões com a direção Foton Beiqi, a maior empresa de caminhões do mundo. Juntos estamos desenvolvendo, há mais de seis anos, um projeto de implantação de uma indústria de caminhões leves no Brasil. Neste período já fiz mais de dez viagens ao país de Mao Tse Tung, o que me permitiu ser um observador privilegiado do desenvolvimento deste gigantesco país.

Como a China vive já há mais de 20 anos um processo de transformação extraordinário, tanto do ponto de vista social como econômico, fica muito difícil para o analista externo acompanhá-lo apenas pelas estatísticas disponíveis. Não por outra razão o mercado financeiro mundial não consegue entender, na sua plenitude, o que ocorre lá.

Por este motivo, quando viajo a Pequim para minhas reuniões periódicas procuro manter os olhos abertos e a mente livre para sentir a intensidade das mudanças. A Foton Beiqi, minha sócia no Brasil, é um exemplo perfeito da velha China comunista. Trata-se de uma empresa estatal, controlada pelo partido comunista de Pequim, e com a vocação para ser um gigante em seu setor, com investimentos pesados em todo o setor automobilístico. Em apenas 20 anos de existência já produziu mais de 10 milhões de caminhões, ônibus e SUVs. Ela representa a velha China industrial especializada em bens de capital e que, no passado, chegou a mais de 70% do PIB. Hoje este setor tradicional não passa de 35% do PIB e foi superado recentemente pelo setor de serviços com uma participação de 45%.

Esta é a grande mudança em curso na China e que os analistas ocidentais teimam em não enxergar. E porque esta mudança é importante para entender a China do futuro? Porque no setor de serviços não existe a participação do estado através de suas grandes corporações. Ou seja, em pouco tempo mais de 50% do PIB chinês estará sendo gerado por empresas privadas, controladas por empresários jovens e para os quais a velha China comunista de Mao Tse Tung é apenas uma menção nos livros de História.

Outra mudança estrutural importante criada pela expansão do setor de serviços será a acumulação de capital no setor privado. Este sempre foi um grande limitador do crescimento econômico chinês pois até agora apenas o Estado tinha acesso ao investimento produtivo. Não havia capital acumulado fora do Estado e, portanto, apenas o investimento público podia acontecer, criando um ciclo vicioso deletério e limitador dos ganhos de produtividade. Em poucos anos isto será alterado e uma lufada de ar fresco vai empurrar e economia chinesa para outro patamar.

Um setor que deve lucrar com esta nova posição do capital privado será certamente o financeiro e que até agora é dominado totalmente pelos bancos públicos. Este processo já começou com as instituições financeiras não bancárias como corretoras de valores e gestores de Fundos de Investimentos. Mas certamente na próxima década já teremos os primeiros bancos privados lutando pela gestão da incrível massa de poupança privada que será gerada na China.

O setor de serviços da economia chinesa, em poucos anos, poderá se igualar aos padrões das maiores economias de mercado do mundo, ou seja, abocanhar 70% da totalidade do PIB. Com a diferença já citada acima que este setor será dominado apenas por empresários privados nacionais. Isto porque, apesar da dominância privada, o governo mantém estrito controle sobre a participação do capital estrangeiro. Não por outra razão as vendas da Apple na China amargam apenas um quarto lugar no setor de telefonia. O mesmo acontece com os setores ligados à Internet como o de pagamentos digitais e de comércio virtual.

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Minha convicção é de que ainda não visualizamos o que será a sociedade chinesa dez anos à frente com a continuidade deste processo de privatização da atividade econômica e a dimensão da plataforma digital que está sendo criada.

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