Curto prazo ruim, mas longo prazo positivo
Há uma percepção generalizada de que a economia está avançando em ritmo mais lento do que se esperava. De fato, alguns indicadores sinalizam isso, como o PIB do terceiro trimestre, ainda envolto com as questões políticas da saída da ex-presidente Dilma. Passada essa turbulência restrita ao governo anterior, o quarto trimestre apontava recuperação na margem, […]
Da Redação
Publicado em 5 de dezembro de 2016 às 11h12.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h06.
Há uma percepção generalizada de que a economia está avançando em ritmo mais lento do que se esperava. De fato, alguns indicadores sinalizam isso, como o PIB do terceiro trimestre, ainda envolto com as questões políticas da saída da ex-presidente Dilma. Passada essa turbulência restrita ao governo anterior, o quarto trimestre apontava recuperação na margem, mesmo que pequena. Tudo seguia o esperado.
Como sói acontecer em nosso sempre surpreendente mundo, dois fatos jogaram incertezas adicionais para o fim de ano e começo de 2017. Primeiro, a eleição de Trump adiciona um cenário de aceleração de aumento de juros nos EUA pela piora quase contratada do cenário fiscal por lá. Essa aceleração não estava na conta e acaba afetando o país pela percepção de que fazer investimento de longo prazo agora pode ser mais arriscado, sem falar que os capitais de curto prazo voltaram para os EUA por arbitragem de juros. Consequência imediata é a depreciação do câmbio e postergação de uma possível queda mais forte da Selic agora. Dada a expectativa de piora na atividade por conta desse impacto haveria espaço para um BC mais agressivo com queda de juros, mas isso fica para o próximo ano apenas, com efeitos mais concretos na economia mais para o final de 2017 e todo 2018. Lá fora não podemos esquecer os riscos na Europa. A Itália já se encontra em recessão com fuga de capitais recorde.
Aqui dentro, a reação esperada da classe política contra a Lava-Jato se juntou ao escândalo do episódio Geddel para trazer incertezas no mercado sobre a aprovação das medidas fiscais. Há receio de que, por retaliação ao Executivo pela necessária demonstração de repúdio a qualquer medida contrária a Lava-Jato, o Congresso possa atrasar votações importantes para o governo, especialmente reforma da Previdência em 2017. O risco político, assim, volta à tona com discussões sobre a capacidade política do Executivo de ser a pinguela que FHC espera que seja até 2018.
Tudo isso é fato e joga contra a recuperação da economia neste momento. Mas também mata a recuperação de longo prazo? Longe disso.
Primeiro, o isolacionismo de Trump reforça a busca por países que queiram manter o livre comércio. Ficará claro em pouco tempo que a conjunção de corte de impostos da população mais rica com tentativa de renegociar acordos comerciais vai apenas aumentar mais rapidamente a desigualdade de renda. Algo que vimos acontecer lentamente nas últimas décadas poderá ser acelerada em poucos anos, ficando claro o engodo de querer fechar a economia. Abrir a economia — como fizemos localmente no setor agrícola— traz amplos benefícios para o país. Ao mesmo tempo, reforça a posição desse setor com a China pelo fato dos EUA serem nossos competidores diretos. O mundo se engessando abre espaço para os países que querem se flexibilizar.
Aqui dentro, as turbulências políticas fazem parte da trajetória do país desde 2005 com o Mensalão, pelo menos. Estando o PMDB no poder não se poderia esperar um mar de tranquilidade nessa seara. Mas a questão relevante a se colocar é se as reformas econômicas estão em risco. Concretamente, se Temer sair há risco de tudo desmoronar? Creio que isso só aconteceria se a regra do teto não fosse aprovada, o que parece longe de ser o caso agora. A medida está bem avançada no Senado, que não é o foco maior de divergência em relação à questão da anistia ao caixa 2. Sendo aprovada em dezembro, a regra do teto praticamente exige que se faça a reforma da previdência na sequência. Os números falam mais alto do que qualquer presidente que esteja no poder em 2017 e não haverá alternativa de nada fazer se Temer cair. Pode atrasar, mas a reforma terá que acontecer, no mais tardar com quem ganhar em 2018. Só como exemplo, caso a regra do teto seja aprovada e a da previdência não, então, em 2030, os gastos com previdência chegarão a 97% do gasto público federal total, sobrando 3% para educação, saúde, etc. Ou seja, não há alternativa. Essa questão chegou ao ponto em que terá que ser tratada de qualquer forma.
Assim, as questões econômicas avançaram nos dois itens que acreditamos que o governo conseguirá emplacar: a regra do teto e a reforma da previdência. E isso não é pouca coisa. O impacto americano no exterior será mais em questões de geopolítica, que estamos fora, e, se fecharem a economia, os Estados Unidos abrirão espaço para o setor agrícola expandir ainda mais. Tudo isso leva a crer que há apenas um freada de arrumação, mas não um desmonte da trajetória positiva que a “pinguela” do momento está criando. Há que se tomar cuidado, dessa forma, com leituras apressadas de que não tem recuperação, que não tem política monetária e fiscal suficiente, etc. A questão atual é buscar soluções que sejam positivas para o longo prazo. Como sempre acontece, os resultados de curto prazo são pífios, pois dependem de ajustes, especialmente considerando os estragos que o governo anterior fez.
Com isso em mente, para as empresas segue sendo verdade que é necessário se preparar para uma recuperação que virá ao longo do tempo e que como nunca antes terá a égide da responsabilidade fiscal como grande foco de estabilidade. Presidentes que considerem gasto público como “vida” ou que tachem ajustes fiscais como neoliberais terão pouco espaço de manobra, tanto real quanto por parte de apoio na população.
As condições positivas para a recuperação continuam sendo montadas. Não se pode entrar no frenesi errôneo do curto prazo, assim como no governo Dilma entrou também erroneamente no frenesi de que seu governo estava fazendo políticas econômicas responsáveis. Quem der tempo ao tempo aproveitará a recuperação que virá.
Há uma percepção generalizada de que a economia está avançando em ritmo mais lento do que se esperava. De fato, alguns indicadores sinalizam isso, como o PIB do terceiro trimestre, ainda envolto com as questões políticas da saída da ex-presidente Dilma. Passada essa turbulência restrita ao governo anterior, o quarto trimestre apontava recuperação na margem, mesmo que pequena. Tudo seguia o esperado.
Como sói acontecer em nosso sempre surpreendente mundo, dois fatos jogaram incertezas adicionais para o fim de ano e começo de 2017. Primeiro, a eleição de Trump adiciona um cenário de aceleração de aumento de juros nos EUA pela piora quase contratada do cenário fiscal por lá. Essa aceleração não estava na conta e acaba afetando o país pela percepção de que fazer investimento de longo prazo agora pode ser mais arriscado, sem falar que os capitais de curto prazo voltaram para os EUA por arbitragem de juros. Consequência imediata é a depreciação do câmbio e postergação de uma possível queda mais forte da Selic agora. Dada a expectativa de piora na atividade por conta desse impacto haveria espaço para um BC mais agressivo com queda de juros, mas isso fica para o próximo ano apenas, com efeitos mais concretos na economia mais para o final de 2017 e todo 2018. Lá fora não podemos esquecer os riscos na Europa. A Itália já se encontra em recessão com fuga de capitais recorde.
Aqui dentro, a reação esperada da classe política contra a Lava-Jato se juntou ao escândalo do episódio Geddel para trazer incertezas no mercado sobre a aprovação das medidas fiscais. Há receio de que, por retaliação ao Executivo pela necessária demonstração de repúdio a qualquer medida contrária a Lava-Jato, o Congresso possa atrasar votações importantes para o governo, especialmente reforma da Previdência em 2017. O risco político, assim, volta à tona com discussões sobre a capacidade política do Executivo de ser a pinguela que FHC espera que seja até 2018.
Tudo isso é fato e joga contra a recuperação da economia neste momento. Mas também mata a recuperação de longo prazo? Longe disso.
Primeiro, o isolacionismo de Trump reforça a busca por países que queiram manter o livre comércio. Ficará claro em pouco tempo que a conjunção de corte de impostos da população mais rica com tentativa de renegociar acordos comerciais vai apenas aumentar mais rapidamente a desigualdade de renda. Algo que vimos acontecer lentamente nas últimas décadas poderá ser acelerada em poucos anos, ficando claro o engodo de querer fechar a economia. Abrir a economia — como fizemos localmente no setor agrícola— traz amplos benefícios para o país. Ao mesmo tempo, reforça a posição desse setor com a China pelo fato dos EUA serem nossos competidores diretos. O mundo se engessando abre espaço para os países que querem se flexibilizar.
Aqui dentro, as turbulências políticas fazem parte da trajetória do país desde 2005 com o Mensalão, pelo menos. Estando o PMDB no poder não se poderia esperar um mar de tranquilidade nessa seara. Mas a questão relevante a se colocar é se as reformas econômicas estão em risco. Concretamente, se Temer sair há risco de tudo desmoronar? Creio que isso só aconteceria se a regra do teto não fosse aprovada, o que parece longe de ser o caso agora. A medida está bem avançada no Senado, que não é o foco maior de divergência em relação à questão da anistia ao caixa 2. Sendo aprovada em dezembro, a regra do teto praticamente exige que se faça a reforma da previdência na sequência. Os números falam mais alto do que qualquer presidente que esteja no poder em 2017 e não haverá alternativa de nada fazer se Temer cair. Pode atrasar, mas a reforma terá que acontecer, no mais tardar com quem ganhar em 2018. Só como exemplo, caso a regra do teto seja aprovada e a da previdência não, então, em 2030, os gastos com previdência chegarão a 97% do gasto público federal total, sobrando 3% para educação, saúde, etc. Ou seja, não há alternativa. Essa questão chegou ao ponto em que terá que ser tratada de qualquer forma.
Assim, as questões econômicas avançaram nos dois itens que acreditamos que o governo conseguirá emplacar: a regra do teto e a reforma da previdência. E isso não é pouca coisa. O impacto americano no exterior será mais em questões de geopolítica, que estamos fora, e, se fecharem a economia, os Estados Unidos abrirão espaço para o setor agrícola expandir ainda mais. Tudo isso leva a crer que há apenas um freada de arrumação, mas não um desmonte da trajetória positiva que a “pinguela” do momento está criando. Há que se tomar cuidado, dessa forma, com leituras apressadas de que não tem recuperação, que não tem política monetária e fiscal suficiente, etc. A questão atual é buscar soluções que sejam positivas para o longo prazo. Como sempre acontece, os resultados de curto prazo são pífios, pois dependem de ajustes, especialmente considerando os estragos que o governo anterior fez.
Com isso em mente, para as empresas segue sendo verdade que é necessário se preparar para uma recuperação que virá ao longo do tempo e que como nunca antes terá a égide da responsabilidade fiscal como grande foco de estabilidade. Presidentes que considerem gasto público como “vida” ou que tachem ajustes fiscais como neoliberais terão pouco espaço de manobra, tanto real quanto por parte de apoio na população.
As condições positivas para a recuperação continuam sendo montadas. Não se pode entrar no frenesi errôneo do curto prazo, assim como no governo Dilma entrou também erroneamente no frenesi de que seu governo estava fazendo políticas econômicas responsáveis. Quem der tempo ao tempo aproveitará a recuperação que virá.