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Como olhar para 2017

Os analistas das coisas da economia e da política precisam de muito cuidado para levar com sucesso sua tarefa de desenhar o ano de 2017. Para isto devem separar os acontecimentos que têm uma dinâmica previsível em função do arrasto de tendências estruturais construídas ao longo do último ano, dos fatores de elevado grau de […]

MICHEL TEMER: para analisar 2017 é preciso separar os acontecimentos que têm uma dinâmica previsível dos fatores de elevado grau de imprevisibilidade que devem ocorrer / Reuters
DR

Da Redação

Publicado em 9 de janeiro de 2017 às 12h17.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h32.

Os analistas das coisas da economia e da política precisam de muito cuidado para levar com sucesso sua tarefa de desenhar o ano de 2017. Para isto devem separar os acontecimentos que têm uma dinâmica previsível em função do arrasto de tendências estruturais construídas ao longo do último ano, dos fatores de elevado grau de imprevisibilidade que devem ocorrer ao longo de 2017 e que não são poucos. A continuidade do crescimento econômico nos Estados Unidos e da desinflação no Brasil são dois exemplos importantes do primeiro grupo. Já o desenho do primeiro ano do governo Trump na maior democracia do mundo serve como modelo do segundo.

A melhor maneira de fracassar nas previsões para 2017 será certamente combinar elementos de maior previsibilidade com os ainda muito incertos do segundo grupo na construção de cenários possíveis, principalmente na economia. Estas lições estão presentes no livro Superforecasting – The Art and Science of Prediction de Philip Tetlock.

Um dos exemplos deste risco é o que associa a dinâmica da economia americana herdada de 2016 com eventuais medidas econômicas que se especulam serão tomadas – ou não – pelo novo presidente americano. Em função desta superposição de eventos, com graus diferentes de probabilidade, muitos já dão como certo o aparecimento de graves problemas para o Brasil em função da elevação agressiva dos juros pelo FED.

Alguns mais aloprados vão ainda mais longe e já colocam em seus cenários o aparecimento de eventos ainda menos previsíveis com as informações de hoje – verdadeiros Black Swans para usar uma imagem bastante conhecida – em suas considerações sobre o futuro. É o caso de uma crise terminal na Comunidade Europeia com vitórias sucessivas de candidatos populistas como aconteceu na Inglaterra e nos Estados Unidos e o colapso do euro nos mercados de câmbio. Fazem parte também em algumas análises mais catastróficas um eventual colapso da economia chinesa como resultado da retaliação de Donald Trump em função do déficit comercial americano com a China.

No Brasil também são citados eventos possíveis de ocorrer e que criariam condições objetivas para o agravamento da governabilidade de Temer e da crise econômica. A continuidade das investigações da Operação Lava-Jato traria, em 2017, revelações bombásticas capazes de comprometer o núcleo duro do governo Temer e de criar uma crise no Congresso. Sem apoio para levar adiante sua agenda de reformas o governo perderia uma de suas ancoras no processo de recolocar a economia nos eixos.

Prefiro construir meu cenário a partir de informações mais seguras trazidas pela dinâmica da economia pós bolha que existe hoje no Brasil e a reação de uma equipe econômica competente e com um Plano de Voo que acredito ser correto.

Em função disto não trabalho com a hipótese de uma crise de confiança e com uma recuperação ainda que lenta da atividade econômica amparada pela redução de juros e por uma posição confortável nas contas externas. O real deve continuar como uma moeda forte mesmo que o FED eleve os juros americanos pelo menos três vezes no correr de 2017. Os preços das commodities devem se fortalecer moderadamente ao longo do ano em função de uma economia mundial – inclusive a chinesa – moderadamente mais expansionista.

No campo de política interna acredito na continuidade de uma ação parlamentar positiva, inclusive com a aprovação de uma primeira etapa da Reforma na Previdência. Na medida em que a economia mostrar sinais de melhora, o apoio ao presidente Temer deve aumentar, facilitando o cumprimento de sua agenda parlamentar. Se isto ocorrer podemos trabalhar com a hipótese de que as eleições de 2018 possma trazer um novo mandato presidencial em que a racionalidade econômica e a continuidade do processo de reformas estruturais sejam ancoras importantes para o futuro.

Mas por enquanto, seguindo as lições de Philip Tetlock, vamos ficar apenas com a mensagem de que 2017 deve ser um ano mais positivo para nós brasileiros.

Mendonça de barros

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Os analistas das coisas da economia e da política precisam de muito cuidado para levar com sucesso sua tarefa de desenhar o ano de 2017. Para isto devem separar os acontecimentos que têm uma dinâmica previsível em função do arrasto de tendências estruturais construídas ao longo do último ano, dos fatores de elevado grau de imprevisibilidade que devem ocorrer ao longo de 2017 e que não são poucos. A continuidade do crescimento econômico nos Estados Unidos e da desinflação no Brasil são dois exemplos importantes do primeiro grupo. Já o desenho do primeiro ano do governo Trump na maior democracia do mundo serve como modelo do segundo.

A melhor maneira de fracassar nas previsões para 2017 será certamente combinar elementos de maior previsibilidade com os ainda muito incertos do segundo grupo na construção de cenários possíveis, principalmente na economia. Estas lições estão presentes no livro Superforecasting – The Art and Science of Prediction de Philip Tetlock.

Um dos exemplos deste risco é o que associa a dinâmica da economia americana herdada de 2016 com eventuais medidas econômicas que se especulam serão tomadas – ou não – pelo novo presidente americano. Em função desta superposição de eventos, com graus diferentes de probabilidade, muitos já dão como certo o aparecimento de graves problemas para o Brasil em função da elevação agressiva dos juros pelo FED.

Alguns mais aloprados vão ainda mais longe e já colocam em seus cenários o aparecimento de eventos ainda menos previsíveis com as informações de hoje – verdadeiros Black Swans para usar uma imagem bastante conhecida – em suas considerações sobre o futuro. É o caso de uma crise terminal na Comunidade Europeia com vitórias sucessivas de candidatos populistas como aconteceu na Inglaterra e nos Estados Unidos e o colapso do euro nos mercados de câmbio. Fazem parte também em algumas análises mais catastróficas um eventual colapso da economia chinesa como resultado da retaliação de Donald Trump em função do déficit comercial americano com a China.

No Brasil também são citados eventos possíveis de ocorrer e que criariam condições objetivas para o agravamento da governabilidade de Temer e da crise econômica. A continuidade das investigações da Operação Lava-Jato traria, em 2017, revelações bombásticas capazes de comprometer o núcleo duro do governo Temer e de criar uma crise no Congresso. Sem apoio para levar adiante sua agenda de reformas o governo perderia uma de suas ancoras no processo de recolocar a economia nos eixos.

Prefiro construir meu cenário a partir de informações mais seguras trazidas pela dinâmica da economia pós bolha que existe hoje no Brasil e a reação de uma equipe econômica competente e com um Plano de Voo que acredito ser correto.

Em função disto não trabalho com a hipótese de uma crise de confiança e com uma recuperação ainda que lenta da atividade econômica amparada pela redução de juros e por uma posição confortável nas contas externas. O real deve continuar como uma moeda forte mesmo que o FED eleve os juros americanos pelo menos três vezes no correr de 2017. Os preços das commodities devem se fortalecer moderadamente ao longo do ano em função de uma economia mundial – inclusive a chinesa – moderadamente mais expansionista.

No campo de política interna acredito na continuidade de uma ação parlamentar positiva, inclusive com a aprovação de uma primeira etapa da Reforma na Previdência. Na medida em que a economia mostrar sinais de melhora, o apoio ao presidente Temer deve aumentar, facilitando o cumprimento de sua agenda parlamentar. Se isto ocorrer podemos trabalhar com a hipótese de que as eleições de 2018 possma trazer um novo mandato presidencial em que a racionalidade econômica e a continuidade do processo de reformas estruturais sejam ancoras importantes para o futuro.

Mas por enquanto, seguindo as lições de Philip Tetlock, vamos ficar apenas com a mensagem de que 2017 deve ser um ano mais positivo para nós brasileiros.

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