A recuperação ganha força entre os analistas
Depois de muito relutar, um grupo importante de analistas de mercado embarcou na tese desta coluna de que a economia brasileira já vive uma recuperação cíclica. Os números publicados semanalmente pelo boletim Focus do Banco Central mostram – embora ainda timidamente – que a inflação caminha para fechar o ano próximo de 7% e […]
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2016 às 16h10.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h03.
Depois de muito relutar, um grupo importante de analistas de mercado embarcou na tese desta coluna de que a economia brasileira já vive uma recuperação cíclica. Os números publicados semanalmente pelo boletim Focus do Banco Central mostram – embora ainda timidamente – que a inflação caminha para fechar o ano próximo de 7% e que o PIB no último trimestre já apresentará um crescimento modesto. Para 2017 as previsões de aumento do PIB estão no intervalo de 1% a 2%, com a inflação convergindo para perto do centro da meta.
Antes de refletir sobre a demora destes analistas para entender a dinâmica que tomou conta da economia após a troca de governo, vamos qualificar os riscos – pelo menos os reais – que ainda existem para que este cenário ocorra. O primeiro e o mais importante é a votação do impeachment no Senado, com a consolidação do mandato do presidente Temer. Em segundo lugar, temos que acompanhar as investigações da Lava Jato e os riscos que correm elementos importantes do PMDB e que representam o core da sustentação política do governo.
Um outro grupo de riscos está associado às decisões da equipe do governo no trato da questão fiscal e da convergência da inflação para o centro da meta, estabelecida pelo CMN e gerida pelo BC. Embora os sinais que estamos tendo do ministro Meirelles apontem para uma postura cuidadosa no ajuste fiscal e um plano de médio prazo para reequilibrar as contas públicas, ainda existem os defensores de uma bala de prata de alto poder explosivo no parlamento.
Outro risco para a recuperação da economia pode vir de uma política monetária ultraconservadora, com os juros Selic permanecendo por longo tempo nos patamares elevados dos últimos meses. Com isto o lado da oferta pode perder folego, dada a situação financeira das empresas brasileiras e da tendência de apreciação do real.
Definidos os riscos que ainda pesam na economia nesta segunda metade de 2016, gostaria de refletir um pouco sobre a resistência dos mercados – e de sua força auxiliar na mídia – em aceitar a recuperação da economia como um fato concreto. A principal razão deste conflito de expectativas está associada a duas formas distintas de acompanhar uma economia de mercado como a brasileira. O velho e interessante conflito ante a forma oposta de Keynes e Hayek de entenderem o comportamento do chamado Homem Econômico. Coisa de mais de 80 anos, mas que volta com toda força agora no Brasil.
Ao fazer esta afirmação corro o risco de ser associado ao grupo da Unicamp que desenvolveu a chamada Nova Matriz Macroeconômica, e que nos levou ao desastre de hoje. Mas não me importo porque aqueles que me acompanham no debate dos últimos anos conhecem a intensidade da minha crítica ao que foi feito e que caminho devemos percorrer para trazer a economia de volta ao crescimento sustentado.
Voltando ao velho debate Keynes/Hayek, o que divide estas duas formas de acompanhar o metabolismo econômico de um país como o Brasil é a visão messiânica de um versus a visão mundana – talvez até cínica – do outro. O quadro teórico de Hayek é tão radical como o pensamento moral dos primeiros pastores da Igreja Protestante que pregavam não haver salvação fora dos valores estabelecidos por Calvino e sua Reforma.
Já o arcabouço teórico de Keynes também foi construído com os mesmos valores do liberalismo econômico, apenas com a visão de que os mercados não são perfeitos e que estão sujeitos a valores negativos do ser humano, como a ambição, e às restrições políticas de uma democracia como a nossa.
Pois este conflito tão velho está hoje presente com toda força no governo Temer, seja na avaliação da economia como na definição de um verdadeiro programa de Reconstrução Nacional. Quem tiver dúvidas sobre esta questão sugiro a leitura, na edição da Folha de S.Paulo do dia 11 de julho, da entrevista de Marcos Lisboa, um hayeckiano de qualidade.
Depois de muito relutar, um grupo importante de analistas de mercado embarcou na tese desta coluna de que a economia brasileira já vive uma recuperação cíclica. Os números publicados semanalmente pelo boletim Focus do Banco Central mostram – embora ainda timidamente – que a inflação caminha para fechar o ano próximo de 7% e que o PIB no último trimestre já apresentará um crescimento modesto. Para 2017 as previsões de aumento do PIB estão no intervalo de 1% a 2%, com a inflação convergindo para perto do centro da meta.
Antes de refletir sobre a demora destes analistas para entender a dinâmica que tomou conta da economia após a troca de governo, vamos qualificar os riscos – pelo menos os reais – que ainda existem para que este cenário ocorra. O primeiro e o mais importante é a votação do impeachment no Senado, com a consolidação do mandato do presidente Temer. Em segundo lugar, temos que acompanhar as investigações da Lava Jato e os riscos que correm elementos importantes do PMDB e que representam o core da sustentação política do governo.
Um outro grupo de riscos está associado às decisões da equipe do governo no trato da questão fiscal e da convergência da inflação para o centro da meta, estabelecida pelo CMN e gerida pelo BC. Embora os sinais que estamos tendo do ministro Meirelles apontem para uma postura cuidadosa no ajuste fiscal e um plano de médio prazo para reequilibrar as contas públicas, ainda existem os defensores de uma bala de prata de alto poder explosivo no parlamento.
Outro risco para a recuperação da economia pode vir de uma política monetária ultraconservadora, com os juros Selic permanecendo por longo tempo nos patamares elevados dos últimos meses. Com isto o lado da oferta pode perder folego, dada a situação financeira das empresas brasileiras e da tendência de apreciação do real.
Definidos os riscos que ainda pesam na economia nesta segunda metade de 2016, gostaria de refletir um pouco sobre a resistência dos mercados – e de sua força auxiliar na mídia – em aceitar a recuperação da economia como um fato concreto. A principal razão deste conflito de expectativas está associada a duas formas distintas de acompanhar uma economia de mercado como a brasileira. O velho e interessante conflito ante a forma oposta de Keynes e Hayek de entenderem o comportamento do chamado Homem Econômico. Coisa de mais de 80 anos, mas que volta com toda força agora no Brasil.
Ao fazer esta afirmação corro o risco de ser associado ao grupo da Unicamp que desenvolveu a chamada Nova Matriz Macroeconômica, e que nos levou ao desastre de hoje. Mas não me importo porque aqueles que me acompanham no debate dos últimos anos conhecem a intensidade da minha crítica ao que foi feito e que caminho devemos percorrer para trazer a economia de volta ao crescimento sustentado.
Voltando ao velho debate Keynes/Hayek, o que divide estas duas formas de acompanhar o metabolismo econômico de um país como o Brasil é a visão messiânica de um versus a visão mundana – talvez até cínica – do outro. O quadro teórico de Hayek é tão radical como o pensamento moral dos primeiros pastores da Igreja Protestante que pregavam não haver salvação fora dos valores estabelecidos por Calvino e sua Reforma.
Já o arcabouço teórico de Keynes também foi construído com os mesmos valores do liberalismo econômico, apenas com a visão de que os mercados não são perfeitos e que estão sujeitos a valores negativos do ser humano, como a ambição, e às restrições políticas de uma democracia como a nossa.
Pois este conflito tão velho está hoje presente com toda força no governo Temer, seja na avaliação da economia como na definição de um verdadeiro programa de Reconstrução Nacional. Quem tiver dúvidas sobre esta questão sugiro a leitura, na edição da Folha de S.Paulo do dia 11 de julho, da entrevista de Marcos Lisboa, um hayeckiano de qualidade.