A oposição à queda dos juros
A grande maioria dos analistas espera que o COPON inicie a redução dos juros em sua próxima reunião a ser realizada nesta semana. As dúvidas ficam por conta da intensidade do corte a ser realizado. O movimento recente dos índices de inflação mostra claramente que a tão esperada desinflação finalmente chegou à economia. E não […]
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2016 às 11h12.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h09.
A grande maioria dos analistas espera que o COPON inicie a redução dos juros em sua próxima reunião a ser realizada nesta semana. As dúvidas ficam por conta da intensidade do corte a ser realizado. O movimento recente dos índices de inflação mostra claramente que a tão esperada desinflação finalmente chegou à economia. E não se trata apenas da acomodação dos preços dos alimentos e dos serviços administrados pelo governo. A inflação dos serviços, o setor mais afetado pela cultura da indexação à inflação passada, também está se desacelerando sob o peso da recessão e da queda do poder de compra do cidadão médio. Afinal a renda média do consumidor caiu quase 10% nos últimos dois anos. Qualquer manual de economia trata desta questão, mesmo no caso de uma economia com elevado grau de indexação ao passado.
Mas as críticas ao Banco Central, se este movimento se confirmar, vão aparecer com força na mídia e nos relatórios de instituições financeiras que seguem a bíblia calvinista das chamadas expectativas racionais. Para estes, a redução dos juros só deve ocorrer de forma responsável quando as expectativas para a inflação em 2017 apontarem claramente para um número menor do que o centro da meta perseguido pelo BC.
Como já escrevi neste espaço semanal existe hoje um debate – ainda em seu início – sobre a eficiência e validade do movimento ligado às expectativas racionais no mundo contemporâneo. Alguns analistas têm citado que nos Estados Unidos, durante os anos que se seguiram à crise de 2008, as expectativas futuras da inflação têm ficado sistematicamente acima dos números efetivamente medidos. Algo acima dos 2% ao ano. Talvez a teoria das expectativas racionais esteja sofrendo do envelhecimento natural de arcabouços teóricos que já atingiram o keynesianismo clássico e o monetarismo de Milton Friedman. Afinal as sociedades e os mercados mudam estruturalmente ao longo dos anos e acabam por alterar o comportamento dos principais agentes econômicos e dos mercados.
No caso da política monetária as expectativas em relação às ações dos Bancos Centrais são peças fundamentais sobre a dinâmica dos preços e da inflação. No caso da teoria das expectativas racionais a sua grande força no passado foi exatamente exercer pressão sobre as autoridades monetárias em momentos de dúvida sobre o seu real compromisso com a inflação futura.
Mais recentemente a percepção de que existe nos sistemas de metas de inflação um forte comprometimento da autoridade monetária fez com que a ancoragem das expectativas tenha uma componente estrutural muito forte. Como resultado a questão da inflação perdeu muito de sua importância como balizador de curto prazo do comportamento dos agentes econômicos, com exceção ainda dos agitados especuladores do mercado financeiro.
Este enfraquecimento de um arcabouço teórico, com o passar do tempo, devido a mudanças de metabolismo das economias de mercado, já aconteceu duas vezes nos últimos 70 anos. No pós-guerra, até o início da década de oitenta do século passado, o sucesso dos princípios do keynisianismo acabou sendo comprometido pela questão da inflação e da forma como o FED operava sua política de juros. O monetarismo de Milton Friedman apareceu como alternativa, mostrando a fragilidade do modelo anterior e abrindo espaço para que as expectativas dos agentes econômicos passassem a se guiar em função do crescimento da massa monetária corrente. Nos vinte anos seguintes a teoria
quantitativa da moeda teve seu período de ouro.
A partir da década dos noventa do século passado uma verdadeira revolução nos contratos e mercados financeiros tornou a teoria monetarista clássica um instrumento ultrapassado. Quando os agregados monetários mais amplos começaram a ser usados no lugar da base monetária clássica, os ensinamentos de Friedman caíram em desuso. A teoria das expectativas racionais tomou o lugar como principal referência dos agentes econômicos para julgar a economia no futuro a partir de uma cesta de indicadores de natureza macroeconômicos e passou então a ser usada como referência para o julgamento das ações dos Bancos Centrais.
Mas o analista, mesmo levando em conta as expectativas embutidas nas previsões do mercado sobre o futuro, nunca pode deixar de acompanhar – e entender – os sinais vitais da economia a cada momento que se vive. É o que está acontecendo agora no Brasil.
A grande maioria dos analistas espera que o COPON inicie a redução dos juros em sua próxima reunião a ser realizada nesta semana. As dúvidas ficam por conta da intensidade do corte a ser realizado. O movimento recente dos índices de inflação mostra claramente que a tão esperada desinflação finalmente chegou à economia. E não se trata apenas da acomodação dos preços dos alimentos e dos serviços administrados pelo governo. A inflação dos serviços, o setor mais afetado pela cultura da indexação à inflação passada, também está se desacelerando sob o peso da recessão e da queda do poder de compra do cidadão médio. Afinal a renda média do consumidor caiu quase 10% nos últimos dois anos. Qualquer manual de economia trata desta questão, mesmo no caso de uma economia com elevado grau de indexação ao passado.
Mas as críticas ao Banco Central, se este movimento se confirmar, vão aparecer com força na mídia e nos relatórios de instituições financeiras que seguem a bíblia calvinista das chamadas expectativas racionais. Para estes, a redução dos juros só deve ocorrer de forma responsável quando as expectativas para a inflação em 2017 apontarem claramente para um número menor do que o centro da meta perseguido pelo BC.
Como já escrevi neste espaço semanal existe hoje um debate – ainda em seu início – sobre a eficiência e validade do movimento ligado às expectativas racionais no mundo contemporâneo. Alguns analistas têm citado que nos Estados Unidos, durante os anos que se seguiram à crise de 2008, as expectativas futuras da inflação têm ficado sistematicamente acima dos números efetivamente medidos. Algo acima dos 2% ao ano. Talvez a teoria das expectativas racionais esteja sofrendo do envelhecimento natural de arcabouços teóricos que já atingiram o keynesianismo clássico e o monetarismo de Milton Friedman. Afinal as sociedades e os mercados mudam estruturalmente ao longo dos anos e acabam por alterar o comportamento dos principais agentes econômicos e dos mercados.
No caso da política monetária as expectativas em relação às ações dos Bancos Centrais são peças fundamentais sobre a dinâmica dos preços e da inflação. No caso da teoria das expectativas racionais a sua grande força no passado foi exatamente exercer pressão sobre as autoridades monetárias em momentos de dúvida sobre o seu real compromisso com a inflação futura.
Mais recentemente a percepção de que existe nos sistemas de metas de inflação um forte comprometimento da autoridade monetária fez com que a ancoragem das expectativas tenha uma componente estrutural muito forte. Como resultado a questão da inflação perdeu muito de sua importância como balizador de curto prazo do comportamento dos agentes econômicos, com exceção ainda dos agitados especuladores do mercado financeiro.
Este enfraquecimento de um arcabouço teórico, com o passar do tempo, devido a mudanças de metabolismo das economias de mercado, já aconteceu duas vezes nos últimos 70 anos. No pós-guerra, até o início da década de oitenta do século passado, o sucesso dos princípios do keynisianismo acabou sendo comprometido pela questão da inflação e da forma como o FED operava sua política de juros. O monetarismo de Milton Friedman apareceu como alternativa, mostrando a fragilidade do modelo anterior e abrindo espaço para que as expectativas dos agentes econômicos passassem a se guiar em função do crescimento da massa monetária corrente. Nos vinte anos seguintes a teoria
quantitativa da moeda teve seu período de ouro.
A partir da década dos noventa do século passado uma verdadeira revolução nos contratos e mercados financeiros tornou a teoria monetarista clássica um instrumento ultrapassado. Quando os agregados monetários mais amplos começaram a ser usados no lugar da base monetária clássica, os ensinamentos de Friedman caíram em desuso. A teoria das expectativas racionais tomou o lugar como principal referência dos agentes econômicos para julgar a economia no futuro a partir de uma cesta de indicadores de natureza macroeconômicos e passou então a ser usada como referência para o julgamento das ações dos Bancos Centrais.
Mas o analista, mesmo levando em conta as expectativas embutidas nas previsões do mercado sobre o futuro, nunca pode deixar de acompanhar – e entender – os sinais vitais da economia a cada momento que se vive. É o que está acontecendo agora no Brasil.