A bola agora está com o Copom
Além do monstruoso hiato do produto criado pela recessão dos últimos dois anos, a produção agrícola deste ano é outro elemento decisivo para a ancoragem da inflação em 2017 e 2018. As últimas informações captadas junto aos agricultores nas várias Feiras Agrícolas que ocorrem no Brasil são ainda mais positivas. Além dos números da produção […]
Publicado em 13 de março de 2017 às, 13h04.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h21.
Além do monstruoso hiato do produto criado pela recessão dos últimos dois anos, a produção agrícola deste ano é outro elemento decisivo para a ancoragem da inflação em 2017 e 2018. As últimas informações captadas junto aos agricultores nas várias Feiras Agrícolas que ocorrem no Brasil são ainda mais positivas. Além dos números da produção agrícola prevista pelo governo, principalmente de grãos, o aumento no volume de credito à disposição dos produtores – para custeio da produção e investimentos – tem também surpreendido os analistas do setor.
Com o movimento de queda dos juros promovido pelo BC, os bancos procuram travar os empréstimos ao setor com as taxas ainda em vigor. Este aumento da oferta, recebida com entusiasmo pelos tomadores de recursos, tem resultado em um volume de transações não vistas nos últimos anos. A indústria de máquinas e equipamentos agrícola já não consegue atender a demanda e, infelizmente, daqui a pouco vamos ter novamente a figura do ágio no mercado. Mas o resultado é a volta dos investimentos ao campo e às indústrias de insumos agrícolas.
Com a safra que está sendo colhida teremos com certeza uma inflação de alimentos muito baixa neste ano. Com esta combinação de preços agrícolas bem-comportados e uma capacidade ociosa no setor industrial e de serviços de quase 10%, não existe espaço para uma surpresa negativa na inflação. Para os pessimistas de carteirinha sobra apenas o discurso de problemas na aprovação das reformas, principalmente a da previdência social. Mas como o Copom deve responder a fatos econômicos e não hipóteses não há outro caminho em sua próxima reunião senão reduzir os juros em mais 100 pontos.
Uma outra questão importante que vem sendo discutida pelos analistas diz respeito ao juro Selic ao final deste ano de 2017. Muito se especula sobre o chamado juro de equilíbrio em uma economia como a brasileira. Aprendi da teoria econômica e do imenso debate que esta questão sempre provocou entre nós que devemos, no caso brasileiro, falar de pelo menos três juros de equilíbrio. Cada um deles associado à fase do ciclo econômico que vivemos.
Com a economia crescendo próxima de seu potencial, a ação da autoridade monetária deve buscar juros reais neutros em relação à atividade econômica. Quando o ciclo econômico está em sua fase de baixa, ou seja, com a economia em recessão, o Banco Central deve operar sua política de juros com uma margem negativa que permita estimular a atividade econômica. Pelo contrário, quando o ciclo econômico está em sua fase de expansão, com crescimento acima da média, os juros reais devem incorporar um prêmio positivo.
Temos no Brasil algumas lições passadas em relação a estes números. É preciso para este exercício escolher períodos quando existe uma certa racionalidade na política econômica do governo de plantão e descartar os momentos de crise por erros grave de gestão. Quando se realiza esta filtragem podemos identificar os prêmios dos juros reais em relação a um número médio, quase de caráter estrutural. Minha sensibilidade é de que estaremos hoje próximo da verdade com um juro real de 5% ao ano nos períodos de crescimento próximo do potencial, com um prêmio negativo de 2% ao ano para baixo e 3 a 4% para cima.
Se minha sensibilidade e experiência com o passado estiverem certas, estaremos falando neste ano de 2017 de um juro real de 3% mais uma expectativa de inflação de 4,5%, ou seja, uma taxa Selic no final destes anos próximo dos 8% ao ano.