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No agro e na mineração, batemos recordes que correm risco de não serem escoados

Sem investimentos parrudos em infraestrutura, Brasil sofrerá gargalos que podem comprometer eficiência que estamos conquistando no agronegócio e mineração

Vista do Tecon Santos, terminal de contêineres no Porto de Santos, sob gestão da Santos Brasil (Santos Brasil/Divulgação)
Vista do Tecon Santos, terminal de contêineres no Porto de Santos, sob gestão da Santos Brasil (Santos Brasil/Divulgação)

Por Luis Henrique Guimarães *

Os recordes que o Brasil bate a cada ano no agronegócio e na produção de minérios são motivo de orgulho por um lado, e de preocupação por outro. Se investimentos maciços em infraestrutura não forem feitos, em algum momento não conseguiremos dar vazão a todo esse universo de lavras e lavouras. As causas de tudo isso são os gargalos portuários e de armazenamento. E as consequências serão o aumento de custos e a perda da eficiência inigualável que conquistamos nos últimos anos.

Leia mais: No campo, Brasil terá uma safra recorde e... um gargalo recorde?

A maioria dos portos do Brasil já opera no limite, e as projeções de aumento nas exportações das principais commodities afligem o mercado. Segundo estimativas do setor produtivo, para acompanhar o crescimento agrícola será necessário levantar por ano pelo menos 400 novas unidades de armazenagem e construir um novo berço portuário com capacidade para exportar 8 milhões de toneladas/ano.

Este mês, empresas do segmento portuário lançaram um documento chamado “Manifesto pela Inovação no Setor Marítimo e Portuário”, que compara o desempenho dos portos brasileiros com o dos Estados Unidos e o de países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto nos Estados Unidos o tempo médio para atracação é de dois dias, no Brasil a média é de 5,5 dias. O desembaraço aduaneiro leva aqui em média 49 horas, contra 12,7 horas na OCDE.

Essas médias são ruins para nossa economia, mas são fichinha perto de alguns picos de congestionamento que registramos aqui e ali. No ano passado, chegamos a ter cerca de 70 navios, em Santos, esperando mais de 20 dias para conseguir atracar e carregar cerca de 3 milhões de toneladas de açúcar.

Minérios e grãos

A situação também não é nada boa nos portos do Norte. A produção de minério de ferro com alto grau de pureza e de metais básicos tende a crescer na região, e dificilmente os portos no Maranhão conseguirão escoar, se grandes investimentos não forem feitos.

Essa dificuldade salta aos olhos no caso dos grãos. O Brasil produziu no ano passado 295 milhões de toneladas de soja e milho, mas só exportou 157 milhões, ou seja 53% do total. Parte considerável dessa produção ocorreu no chamado Matopiba, região que compreende áreas de quatro estados brasileiros, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. No Matopiba, a produção de soja e milho cresceu quase 80% em seis anos – de 27,6 milhões de toneladas em 2017 para 49,6 milhões de toneladas em 2023. No porto de Itaqui, em São Luís, a capacidade total de embarque cresceu muito e atingiu 15 milhões de toneladas no ano passado, ou seja, apesar do enorme avanço, ainda está longe de atender toda a capacidade produtiva da região.

Os investimentos que estão sendo feitos em diferentes modais de transporte, sobretudo o ferroviário, no futuro deixarão o Brasil inteiro conectado, dando ao produtor a opção de escolher o melhor frete e o caminho mais rápido para o porto mais próximo. O importante é que esse porto exista e seja eficiente, que tenha capacidade para operar com grandes volumes de carga, sem gargalos, e condições de receber grandes navios, que possam atracar rapidamente, carregar e partir para o mundo.

* Luis Henrique Guimarães é conselheiro da Cosan e da Vale