Investimentos inteligentes para o Brasil decolar
Com pandemia chegando ao fim e novos desafios globais, onde alocar capital com garantia de competitividade e contribuição para desenvolvimento sustentável?
Publicado em 11 de outubro de 2022 às, 15h18.
Por Luis Henrique Guimarães *
Num mundo ideal, deveríamos estar já há um bom tempo remando juntos para reverter a derrocada econômica deixada no rastro da pandemia, cujo fim deve ser decretado pela OMS a qualquer momento. Porém, na prática, vimos muitos outros desafios surgirem, como a guerra na Ucrânia, o custo de capital nas alturas e uma possível recessão mundial nos próximos meses. As oportunidades no Brasil, contudo, estão postas na mesa. E as coisas aqui estão fluindo, apesar das dificuldades globais e, internamente, do cenário eleitoral acirradíssimo.
Em 2021, o Brasil voltou a ocupar a quarta posição no ranking da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de investimento externo direto, após ter caído para sétimo lugar em 2020. E outro dado interessante: ficamos em primeiro lugar no ano passado entre as 15 maiores economias do mundo no índice que mede a quantidade de investimentos externos recebidos em proporção ao PIB. Nosso percentual foi de 3,15%. Em segundo lugar, veio o Canadá, com 3,03%.
Nos próximos dez anos, já há a garantia de R$ 925 bilhões em investimentos por meio de privatizações e concessões. Esse número pode chegar a R$ 2,9 trilhões se todos os projetos nessas áreas forem destravados, de acordo com dados do Monitor de Investimentos, plataforma digital que é fruto de uma parceria entre o Ministério da Economia e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Tudo isso é muito bom, sobretudo pelo fato de esses investimentos estarem, como nunca antes, envoltos por escrutínios de riscos ambientais, sociais e de governança. Embora a sigla ESG exista desde 2004, a importância que ela recebeu durante a pandemia alterou para sempre o ambiente de negócios e cristalizou a certeza de que as empresas precisam também cuidar do planeta e das pessoas.
Isso só faz aumentar a janela de oportunidades para o Brasil, que não podemos perder de jeito nenhum. É preciso aportar muita inteligência nos nossos investimentos para que possamos aproveitar todo o potencial de nos tornar um grande líder mundial na guinada a uma economia de baixo carbono.
Temos investidores e empreendedores altamente qualificados, comprometidos com a construção do desenvolvimento sustentável. São pessoas que formam times diversos, de alta performance, com foco e disciplina para alocar capital e gerar bons frutos para toda a sociedade.
Aí vem a pergunta: onde investir? Naturalmente, todos os setores da economia são importantes, mas uma parcela significativa de nós precisa estar atenta às áreas em que o Brasil tem condições melhores do que os demais países e uma vantagem competitiva capaz de alçá-lo à liderança global.
Somos insuperáveis na capacidade de produzir alimentos e de gerar energia limpa, temos recursos naturais que ninguém mais possui e uma biodiversidade única no planeta. O uso racional, responsável e sustentável dessas fortalezas reposicionará o Brasil como uma potência verde, com contribuição inestimável para a descarbonização da economia mundial.
Na produção de alimentos, atingimos um nível imbatível de produtividade. E temos enorme capacidade de expansão, sem afetar a preservação de nossos biomas. Também somos invejáveis em energia limpa, seja com biocombustível, bioenergia, biogás, sol, vento, água ou hidrogênio verde.
Pode parecer uma contradição, mas outra oportunidade está no setor de óleo e gás. O mundo não pode abrir mão deles, são combustíveis fundamentais durante a transição. E aqui temos a vantagem de possuir grande produtividade no Pré-Sal e um teor de enxofre muito menor no petróleo que lá está, além de muito gás associado.
Aí vem nossa riqueza mineral. O uso do aço será cada vez mais imprescindível no mundo, e temos no Brasil jazidas de ferro com teor de pureza superior ao encontrado em outros países. Este nosso minério mais puro demanda muito menos energia para ser transformado em aço, reduzindo as emissões de carbono. Sem falar que temos condições de, cada vez mais, usar energia renovável nos processos siderúrgicos e assim chegar muito mais perto do aço verde.
Uma outra avenida de oportunidade é nossa capacidade de gerar créditos de carbono. Eu diria que nosso potencial deve ser o dobro de todo o resto do mundo junto. Para isso, contamos com a maior floresta do planeta e o maior programa já realizado no setor de mobilidade, com créditos gerados a partir do uso de biocombustíveis.
Sem dúvida precisamos avaliar todos esses ativos sem esquecer da infraestrutura necessária para que os investimentos sejam realizados e da governança de altíssima qualidade para os devidos direcionamentos estratégicos. Mas nada disso terá valor se não tivermos dos nossos governantes e órgãos de controle uma robusta segurança jurídica e uma sólida previsibilidade regulatória, duas coisas indispensáveis para investimentos vultosos de longo prazo.
E deixei para o fim a coisa mais importante. Para qualquer investimento que venha a ser feito, não podemos nunca, jamais, nem por um milésimo de segundo, abrir mão da segurança total das pessoas e das operações. Conclamo nossos muitos empreendedores e investidores a nos debruçar sobre isso.
* Luis Henrique Guimarães é presidente da Cosan