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Brasil tem resiliência para crescer e três áreas com enorme potencial

Agronegócio, infraestrutura e biodiversidade podem pavimentar o caminho do Brasil para o grupo dos países altamente desenvolvidos

Agro, biodiversidade e infraestrutura podem pavimentar caminho do Brasil (Getty Images/Getty Images)
Agro, biodiversidade e infraestrutura podem pavimentar caminho do Brasil (Getty Images/Getty Images)
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Luis Henrique Guimarães

Publicado em 1 de agosto de 2022 às, 17h23.

Outro dia um leitor desta coluna me perguntou onde eu via possibilidade de o Brasil crescer com esses juros nas alturas. Respondi a ele que temos uma tríade com enorme potencial de crescimento e resiliência para enfrentar momentos que dificultam os investimentos, como o atual. A tríade é esta: agronegócio, infraestrutura e biodiversidade.

Claro que os juros altos atrapalham bastante. No caso do agronegócio, eles afetam sobretudo os pequenos e médios produtores. Mas o empreendedor brasileiro “é, antes de tudo, um forte”. Um ninja. Já enfrentou situações muito mais adversas. Quem não se lembra da antiga hiperinflação e das recessões mais recentes? Temos empresas no país capazes de entregar resultados consistentes ao longo dos anos, independentemente dos percalços econômicos globais ou locais.

Prova dessa resiliência é o período promissor que estamos vivendo para o desenvolvimento da nossa infraestrutura. Os investimentos estão acontecendo e só tendem a crescer. Em relatório divulgado há duas semanas pelo Branco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela revista The Economist, o Brasil aparece como melhor lugar para realização de parcerias público-privadas (PPPs) entre os 26 países da América Latina e Caribe. Mais de 40% dos investimentos feitos sob esta modalidade entre 2011 e 2020 na região ocorreram no Brasil.

O relatório é baseado numa pesquisa que leva em conta indicadores que medem a qualidade da regulação e das instituições do país, as condições de financiamento, a sustentabilidade e o gerenciamento de riscos financeiros, sociais e ambientais, além da performance. O Brasil ficou com a maior nota, de 76,3, seguido do Chile, com 75,3. Nenhum país, contudo, pontuou no intervalo que poderia classificá-lo como maduro, entre 80 e 100.

Vamos a alguns números. O Ministério da Infraestrutura (Minfra) prevê leiloar ainda neste ano 38 ativos, que devem representar investimentos na ordem de R$ 100 bilhões. Uma parceria do governo com o BID no mês passado prevê investimentos de US$ 1,3 bilhão em projetos sustentáveis na área de infraestrutura, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Cabe destacar também parcerias entre empresas e governos estaduais, como a realizada pela Rumo com o governo do Mato Grosso para a construção, com investimento 100% privado, da extensão que ligará a rede ferroviária nacional ao “coração do agronegócio”, na região médio-norte do estado.

E também as parcerias entre empresas, como a da Compass com a Mitsui para a criação da Commit, após a decisão de desinvestimento da Petrobras na Gaspetro. A nova empresa certamente levará o desenvolvimento da indústria de gás natural — e também de gás natural renovável — no Brasil a um outro patamar. A extensão da rede de distribuição de gás canalizado no país mais do que dobrou entre 2010 e 2021, chegando a 40.282 quilômetros, segundo dados da associação do setor, a Abegás. Mas ainda é pouco diante do potencial que este insumo possui e quando comparamos nossa rede com a de outros países.

Agora, o agronegócio. Balanço divulgado no último dia 11 de Julho pelo Ministério da Agricultura dá conta de que foram desembolsados R$ 293,41 bilhões por instituições financeiras em crédito rural na safra 2021/22. O montante foi 16,8% maior do que o programado e 19% acima do valor da safra anterior.

Já escrevi neste espaço sobre o poder incomensurável que nosso agronegócio, um dos mais modernos do mundo, tem com o uso cada vez maior da tecnologia no campo e de como isso é capaz de aumentar eficiência sem a necessidade de expandir as áreas plantadas.

Em relação à biodiversidade, temos o maior tesouro do mundo em nossas mãos e precisamos avançar muito não apenas na sua preservação, mas também na restauração e no uso econômico sustentável.

Estudo recente e inédito realizado pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (Sobre), Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Aliança para a Restauração da Amazônia e Coalizão Brasileira sobre Clima, Floresta e Agricultura, com apoio do The Nature Conservancy (TNC) e do World Resources Institute (WRI), relaciona a capacidade de crescimento do país com a recuperação de áreas degradadas.

Segundo o estudo, que foi publicado no Journal People and Nature, da British Ecological Society, podemos gerar 2,5 milhões de empregos na cadeia de suprimentos de restauração de ecossistemas, caso o país cumpra a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030. Isso sem falar nos ganhos ambientais, naturalmente. E, acredito eu, no potencial disso tudo para os mercados de carbono.

Nosso Código Florestal é a legislação mais avançada do mundo, porém enfrenta lentidão em sua implementação, embora tenha sido aprovado há exatos dez anos. Estamos atrasados na validação dos cadastros rurais e ainda mais defasados no programa de regularização, que pressupõe a recuperação de passivos em Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal.

Precisamos avançar com isso. Os benefícios econômicos, sociais e ambientais da preservação da biodiversidade são enormes. Assim como precisamos continuar investindo na eficiência do agronegócio. E preencher lacunas históricas que temos em saneamento, mobilidade, redes de distribuição e outras áreas da infraestrutura.

O foco nessa tríade, obviamente conjugado com um esforço sem precedentes para diminuição das desigualdades, pavimentará o caminho do Brasil para o grupo de países altamente desenvolvidos. E os juros? Ah, em algum momento eles vão baixar.

*Luis Henrique Guimarães é presidente da Cosan