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Brasil tem pressa por mais infraestrutura

País avançou muito nos últimos anos, com maciços investimentos da iniciativa privada, mas ainda há muito por fazer

O tamanho da nossa malha ferroviária é muito menor do que, por exemplo, nos Estados Unidos. (Ricardo Botelho/Minfra/Agência Brasil)
GG

Gilson Garrett Jr.

Publicado em 21 de janeiro de 2022 às 11h39.

Sempre digo que aqui no Brasil estamos muito à frente dos outros países em algumas áreas, mas é inegável que por aqui temos também uma superabundância de carências. Na visão de um otimista como eu, elas podem ser vistas como uma superabundância de oportunidades para empreendedores e investidores dispostos a enfrentar alguns dos principais problemas do país.

Uma das áreas em que isso ocorre é a de infraestrutura e logística. Temos um longo caminho para chegar ao patamar de países desenvolvidos do mesmo porte que o nosso. A boa notícia é que muita coisa importante para transformar este cenário está sendo feita e muitas outras devem acontecer agora em 2022 e nos próximos anos.

Temos muitos avanços em ferrovias, rodovias, hidrovias, portos e aeroportos. De acordo com informação do MInfra, no ano passado, 22 aeroportos foram arrematados em leilões, com estimativa de receberem R$ 6,1 bilhões em investimentos privados, e 13 terminais portuários foram arrendados. Na primeira semana de 2022, foi sancionada a lei que cria a BR do Mar, cujo objetivo é fomentar o transporte por cabotagem e elevar de 11% para 30% a sua participação na matriz logística nacional.

Na seara ferroviária, é emblemático o trabalho da Rumo, maior e mais diversificada empresa ferroviária do Brasil, e o quanto isso está contribuindo para o ultracompetitivo agronegócio brasileiro. No ano passado, na Malha Central, foram inaugurados dois terminais de grãos e farelo de soja, o de São Simão (GO), e o de Rio Verde (GO), que juntos têm capacidade para 16,5 milhões de toneladas por ano. Até o final do primeiro semestre de 2022 devem ser concluídas as obras do Terminal de Iturama, em parceria com a Usina Coruripe, para movimentar 2 milhões de toneladas de açúcar VHP por ano, com destino ao Porto de Santos. E estudos estão sendo feitos para novos terminais de cargas no sul de Tocantins e no norte de Goiás.

Foram investidos R$ 230 milhões na expansão do Complexo Multimodal de Rondonópolis, aumentando em cerca de 50% a capacidade de atendimento. O complexo agora pode receber até 2 mil caminhões por dia e conta com três tulhas ferroviárias que permitem carregar três trens simultaneamente.

Outros R$ 700 milhões foram investidos num novo modelo de operação, apresentado em março do ano passado, com trens de 120 vagões. Essas composições transportam até 11.500 toneladas, contra 7.600 toneladas dos trens de 80 vagões. A economia de combustível é notável, trazendo grande benefício ao meio ambiente.

Há muito mais coisa para acontecer. O Trecho 3 da Malha Central, com 280 km entre Rio Verde e Ouro Verde de Goiás, dever ser concluído até o final do primeiro semestre, ligando finalmente o Brasil de Norte a Sul por uma linha férrea que foi planejada nos anos 1980, porém só saiu do papel e está sendo concluída em tempo recorde após a concessão para a iniciativa privada, em 2019.

Em setembro de 2021, a Rumo assinou com o governo do Mato Grosso o contrato para a construção da primeira ferrovia privada sob o modelo de autorização estadual. Serão 730 km de trilhos que vão conectar Rondonópolis, no sul do estado, a Cuiabá e aos municípios de Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, ambos no norte do estado. Além de colocar a produção agrícola mato-grossense diretamente no Porto de Santos, a nova ferrovia permitirá a circulação de produtos industriais e bens de consumo para todo o estado, em especial para a capital Cuiabá.

Há ainda projetos em Santos para aprimorar o acesso ao porto pelo modal ferroviário. Dois projetos de aumento da capacidade ferroviária já foram recentemente entregues, a Terceira Linha do Paquetá, em operação desde setembro, e o Adensamento do Macuco, que trouxe uma nova configuração de linhas férreas na região, com o objetivo de aumentar a movimentação de 6,5 milhões para 21 milhões de toneladas por ano.

Com tantos investimentos, o Brasil está finalmente trazendo para o transporte a eficiência que nosso agro já tem da porteira para dentro. E mais: está contribuindo com a redução de carbono globalmente. É fato que o tamanho da nossa malha ferroviária e a participação deste modal na matriz de transporte ainda são muito menores do que, por exemplo, nos Estados Unidos, mas hoje o frete no corredor Mato Grosso-São Paulo é 40% mais competitivo do que a média das cinco principais rotas das três ferrovias que escoam commodities agrícolas dos Estados Unidos para a China.

Muitos avanços têm sido feitos também para a distribuição de insumos como combustíveis e gás natural. Em relação aos combustíveis, o Brasil já atingiu há um bom tempo sua maturidade, graças a décadas de investimentos privados. No ano passado, houve a inauguração de dois importantes terminais: o de Miritituba (PA), por meio de consórcio entre Raízen, Ipiranga e Vibra, e o Terminal de São Luis (MA), a maior base já construída e operada pela Raízen e que deve se tornar ponto primário de importação de derivados e de exportação de etanol, interligando refinadores privados do Brasil e do exterior.

Quanto ao gás natural canalizado, em cinco anos, de acordo com dados da Abegás (associação das distribuidoras), a rede de distribuição saltou de 31.628,5 km de extensão para 40.189,1 km, um crescimento de 27%. Atualmente, são 479 municípios atendidos, fruto dos investimentos das empresas com concessões estaduais em todas as regiões do país. Já o número de clientes teve um crescimento de 31,4%, com um incremento de mais de 950 mil pontos ligados à rede de gás.

Para resumir numa frase, fizemos muito e temos muito a fazer. Infraestrutura demanda investimentos parrudos, e já está comprovado que, sem a iniciativa privada, a coisa não anda. E também já está comprovado que, sem segurança jurídica e estabilidade regulatória, a iniciativa privada não entra. O Brasil já viu muitas empresas e investidores deixarem o país por não encontrarem previsibilidade para trabalhar e alocar capital. Isso precisa acabar. Ainda hoje temos poucas empresas dispostas a fazer investimentos maciços para desenvolver nossa infraestrutura. Isso precisa aumentar.

* Luis Henrique Guimarães é presidente da Cosan

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Sempre digo que aqui no Brasil estamos muito à frente dos outros países em algumas áreas, mas é inegável que por aqui temos também uma superabundância de carências. Na visão de um otimista como eu, elas podem ser vistas como uma superabundância de oportunidades para empreendedores e investidores dispostos a enfrentar alguns dos principais problemas do país.

Uma das áreas em que isso ocorre é a de infraestrutura e logística. Temos um longo caminho para chegar ao patamar de países desenvolvidos do mesmo porte que o nosso. A boa notícia é que muita coisa importante para transformar este cenário está sendo feita e muitas outras devem acontecer agora em 2022 e nos próximos anos.

Temos muitos avanços em ferrovias, rodovias, hidrovias, portos e aeroportos. De acordo com informação do MInfra, no ano passado, 22 aeroportos foram arrematados em leilões, com estimativa de receberem R$ 6,1 bilhões em investimentos privados, e 13 terminais portuários foram arrendados. Na primeira semana de 2022, foi sancionada a lei que cria a BR do Mar, cujo objetivo é fomentar o transporte por cabotagem e elevar de 11% para 30% a sua participação na matriz logística nacional.

Na seara ferroviária, é emblemático o trabalho da Rumo, maior e mais diversificada empresa ferroviária do Brasil, e o quanto isso está contribuindo para o ultracompetitivo agronegócio brasileiro. No ano passado, na Malha Central, foram inaugurados dois terminais de grãos e farelo de soja, o de São Simão (GO), e o de Rio Verde (GO), que juntos têm capacidade para 16,5 milhões de toneladas por ano. Até o final do primeiro semestre de 2022 devem ser concluídas as obras do Terminal de Iturama, em parceria com a Usina Coruripe, para movimentar 2 milhões de toneladas de açúcar VHP por ano, com destino ao Porto de Santos. E estudos estão sendo feitos para novos terminais de cargas no sul de Tocantins e no norte de Goiás.

Foram investidos R$ 230 milhões na expansão do Complexo Multimodal de Rondonópolis, aumentando em cerca de 50% a capacidade de atendimento. O complexo agora pode receber até 2 mil caminhões por dia e conta com três tulhas ferroviárias que permitem carregar três trens simultaneamente.

Outros R$ 700 milhões foram investidos num novo modelo de operação, apresentado em março do ano passado, com trens de 120 vagões. Essas composições transportam até 11.500 toneladas, contra 7.600 toneladas dos trens de 80 vagões. A economia de combustível é notável, trazendo grande benefício ao meio ambiente.

Há muito mais coisa para acontecer. O Trecho 3 da Malha Central, com 280 km entre Rio Verde e Ouro Verde de Goiás, dever ser concluído até o final do primeiro semestre, ligando finalmente o Brasil de Norte a Sul por uma linha férrea que foi planejada nos anos 1980, porém só saiu do papel e está sendo concluída em tempo recorde após a concessão para a iniciativa privada, em 2019.

Em setembro de 2021, a Rumo assinou com o governo do Mato Grosso o contrato para a construção da primeira ferrovia privada sob o modelo de autorização estadual. Serão 730 km de trilhos que vão conectar Rondonópolis, no sul do estado, a Cuiabá e aos municípios de Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, ambos no norte do estado. Além de colocar a produção agrícola mato-grossense diretamente no Porto de Santos, a nova ferrovia permitirá a circulação de produtos industriais e bens de consumo para todo o estado, em especial para a capital Cuiabá.

Há ainda projetos em Santos para aprimorar o acesso ao porto pelo modal ferroviário. Dois projetos de aumento da capacidade ferroviária já foram recentemente entregues, a Terceira Linha do Paquetá, em operação desde setembro, e o Adensamento do Macuco, que trouxe uma nova configuração de linhas férreas na região, com o objetivo de aumentar a movimentação de 6,5 milhões para 21 milhões de toneladas por ano.

Com tantos investimentos, o Brasil está finalmente trazendo para o transporte a eficiência que nosso agro já tem da porteira para dentro. E mais: está contribuindo com a redução de carbono globalmente. É fato que o tamanho da nossa malha ferroviária e a participação deste modal na matriz de transporte ainda são muito menores do que, por exemplo, nos Estados Unidos, mas hoje o frete no corredor Mato Grosso-São Paulo é 40% mais competitivo do que a média das cinco principais rotas das três ferrovias que escoam commodities agrícolas dos Estados Unidos para a China.

Muitos avanços têm sido feitos também para a distribuição de insumos como combustíveis e gás natural. Em relação aos combustíveis, o Brasil já atingiu há um bom tempo sua maturidade, graças a décadas de investimentos privados. No ano passado, houve a inauguração de dois importantes terminais: o de Miritituba (PA), por meio de consórcio entre Raízen, Ipiranga e Vibra, e o Terminal de São Luis (MA), a maior base já construída e operada pela Raízen e que deve se tornar ponto primário de importação de derivados e de exportação de etanol, interligando refinadores privados do Brasil e do exterior.

Quanto ao gás natural canalizado, em cinco anos, de acordo com dados da Abegás (associação das distribuidoras), a rede de distribuição saltou de 31.628,5 km de extensão para 40.189,1 km, um crescimento de 27%. Atualmente, são 479 municípios atendidos, fruto dos investimentos das empresas com concessões estaduais em todas as regiões do país. Já o número de clientes teve um crescimento de 31,4%, com um incremento de mais de 950 mil pontos ligados à rede de gás.

Para resumir numa frase, fizemos muito e temos muito a fazer. Infraestrutura demanda investimentos parrudos, e já está comprovado que, sem a iniciativa privada, a coisa não anda. E também já está comprovado que, sem segurança jurídica e estabilidade regulatória, a iniciativa privada não entra. O Brasil já viu muitas empresas e investidores deixarem o país por não encontrarem previsibilidade para trabalhar e alocar capital. Isso precisa acabar. Ainda hoje temos poucas empresas dispostas a fazer investimentos maciços para desenvolver nossa infraestrutura. Isso precisa aumentar.

* Luis Henrique Guimarães é presidente da Cosan

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