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A COP26 e a hora de agir

Precisamos trabalhar para colocar logo em funcionamento o tão esperado mercado global de carbono, cujas regras foram aprovadas na conferência do clima

Clima: as empresas brasileiras já estão se mexendo, em ações conjuntas. (Christoph Soeder/Getty Images)
Clima: as empresas brasileiras já estão se mexendo, em ações conjuntas. (Christoph Soeder/Getty Images)
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Luis Henrique Guimarães

Publicado em 29 de novembro de 2021 às, 16h29.

Por Luis Henrique Guimarães*

Após o Acordo de Paris, em 2015, foram necessárias cinco edições da conferência do clima das Nações Unidas para que fosse batido o martelo no intrincado artigo 6, que estabelece regras para o comércio mundial de créditos de carbono. O tão esperado acordo relacionado a este tema finalmente saiu na COP26, que terminou na semana passada, em Glasgow, no Reino Unido.

Foi sem dúvida uma conferência histórica, que porém deixou a desejar para muitos especialistas no assunto, sobretudo no que diz respeito à produção de energia com carvão no planeta. Na última hora, foi trocado o verbo “eliminar” por um mais suave, “reduzir” gradualmente a sua utilização.

Infelizmente, as nações mais ricas impediram a criação de um financiamento para os países mais vulneráveis adotarem medidas de adaptação aos impactos das mudanças climáticas.

O próprio presidente da COP26, Alok Sharma, definiu o acordo como “uma vitória frágil”. E disse também que “o trabalho duro começa agora”. Nisso eu concordo totalmente. Temos muito trabalho pela frente, especialmente aqui no Brasil, dado o enorme potencial de o país ser referência mundial em transição energética e gerar créditos de carbono, contribuindo assim no combate às mudanças.

Já escrevi isso aqui, mas nunca é demais repetir: temos a matriz energética mais limpa do planeta, a maior floresta e a agricultura mais eficiente. Nossos gestores públicos precisam arregaçar as mangas e aperfeiçoar as políticas que coloquem o país no seu devido lugar de protagonismo rumo a uma economia mundial de net-zero até 2050.

Acabar com o desmatamento é prioridade total, já que é a maior fonte emissora do país. O CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) já estimou que os créditos de carbono oriundos da preservação da Amazônia podem render US$ 10 bilhões ao ano para o Brasil.

Precisamos ainda aprovar a criação de um mercado nacional regulado de carbono – o projeto de lei que o estabelece (PL 528) anda a passos lentos no Congresso – e aprimorar a confiabilidade da comercialização que já ocorre no mercado voluntário.

Nosso setor produtivo também tem muito o que fazer. As empresas brasileiras devem começar a calcular a sua capacidade de gerar créditos, seja por meio de projetos de redução de emissões, seja por captura de carbono. Assim, quando o mercado global aprovado em Glasgow entrar em funcionamento e a lei do mercado nacional estiver regulamentada, o setor privado brasileiro estará pronto para realizar transações internacionais.

Prevejo que haverá grandes mudanças no nosso ambiente de negócios, para melhor, com parcerias e ações conjuntas que antes pareciam impensáveis. O poder de atuação de uma grande companhia é relevante, mas atuando sozinha ela encontra limitações. As empresas precisam se unir para dar escala aos impactos positivos que são capazes de causar à sociedade.

Já há muitas coisas sendo feitas neste sentido no Brasil. A pandemia de Covid-19 revelou muitas dessas parcerias e, indo além delas, já estamos construindo várias outras que não visam o enfrentamento imediato do vírus, mas sim o desenvolvimento sustentável de longo prazo. Posso citar alguns exemplos sobre os quais tenho bastante conhecimento, por envolverem a Cosan.

A empresa acaba de firmar uma parceria com a Braskem para juntas investirem em ações que alavanquem a economia circular e a neutralidade de carbono. Serão encontradas novas oportunidades em produtos de origem renovável e desenvolvidas outras iniciativas para fortalecer ainda mais a agenda ESG das duas companhias e o impacto positivo sobre a sociedade.

A Cosan também deu um importante passo rumo ao seu objetivo de contribuir com iniciativas que estimulem a descarbonização da economia mundial ao se tornar a primeira empresa do setor de energia da América Latina a investir no Climate Tech Fund, administrado pela Fifth Wall, maior empresa de venture capital especializada em inovação tecnológica para o setor imobiliário global.

A Shell e a Volkswagen do Brasil firmaram uma parceria inédita para acelerar a descarbonização do setor automotivo. Há uma série de iniciativas, como desenvolver uma nova fórmula mais eficiente do etanol e fornecer energia renovável em geração distribuída para a rede de concessionárias e biometano para as fábricas da Volkswagen, além de diversas outras frentes, como eletropostos e a integração de plataformas de tecnologia.

As parcerias disruptivas chegaram também ao universo esportivo. Shell e Ferrari firmaram um contrato para levar para as pistas da Fórmula 1 o etanol de segunda geração produzido pela Raízen. Na temporada do ano que vem, os carros da Scuderia Ferrari serão os únicos com esse biocombustível avançado misturados à gasolina. O E2G é produzido a partir do bagaço de cana-de-açúcar e gera 86% menos emissões do que os combustíveis fósseis.

São quatro exemplos de muitos que estão ocorrendo no Brasil e no mundo. E que ajudam a manter acesa a esperança de que podemos, sim, desenvolver a economia, focar nas pessoas e conter o aquecimento global.

*Luis Henrique Guimarães é presidente da Cosan.