É hora de reposicionar a marca Brasil
Diante do desprestígio mundial, 2021 se aproxima com a urgência de reposicionar a marca Brasil a partir do respeito ao meio ambiente e às pessoas
isabelarovaroto
Publicado em 19 de novembro de 2020 às 11h42.
2020 será lembrado pela pandemia. O ano em que lidamos com este inimigo sem rosto, que levou vidas e escancarou as mazelas do nosso país. 2020 é também o ano em que a imagem e a reputação do Brasil foram severamente abaladas, desencadeando uma desconfiança generalizada que afeta diretamente negócios e investimentos. A inação ou as decisões questionáveis do governo federal em relação a questões fundamentais, vinculadas tanto ao meio ambiente quanto à forma como conduzimos a nação neste momento de crise, geraram graves impactos na nossa imagem internacional.É frustrante assistir a mais um capítulo desta novela do Brasil como o país de um futuro que nunca chega.
Os efeitos das mensagens desencontradas da marca Brasil são concretos, a ponto de organizações internacionais, indignadas, nos cobrarem novos compromissos sob o risco de perdermos capital essencial para transformações. Foi o caso de 29 instituições financeiras, que gerenciam mais de US$ 3,7 trilhões em ativos totais, pedindo do governo federal ações, não palavras, pelo fim das queimadas na Amazônia.
Estamos expondo o Brasil a dias ainda mais sombrios. Nossa apatia diante de absurdos pode afugentar investimentos e serviços financeiros. Atuo no mercado de Private Equity há mais de uma década e nunca senti tamanha desconfiança de investidores internacionais em relação ao futuro do país. Ou agimos a partir de novos acordos de longo prazo com o planeta e com a sociedade ou perderemos mais uma oportunidade.
A tolerância do mundo diminuiu com a pandemia, já que todos perceberam que não há tempo sobrando. No mundo de hoje, quem insiste em dançar com passos antigos é convidado a deixar a festa. Como nós, brasileiros, sociedade civil, vamos seguir daqui para frente? Queremos estar entre os convidados para dançar em 2021 ou aceitaremos, passivos, ficar de fora? Mesmo que seja para tropeçar no começo, trocar os passos, é preciso entrar na roda com a intenção clara de apresentar soluções para um futuro em que todos caibam.
Este é um momento ímpar para investidores e empresários que podem (e devem!) assumir um papel de liderança para implementar as inúmeras transformações necessárias. E é também o momento de se comunicar com o mundo. Há muitas boas ações a compartilhar, e tantas outras para se construir. Não podemos fingir que os problemas deixaram de existir, mas precisamos olhar também para o que fazemos bem e inspirar ações semelhantes.
E, neste aspecto, o Brasil tem sido nota zero em comunicação. A partir de um governo que gera com robustez notícias negativas, iniciativas positivas são ofuscadas. Precisamos nos reposicionar. Reposicionar a marca Brasil a partir de exemplos concretos que já existem e inspiram mais ações conjuntas.
O país tem a maior reserva de água doce do mundo e é um dos que mais produzem energia limpa, com possibilidade para expandir e diversificar ainda mais. No último mês, por exemplo, a Raízen inaugurou a maior usina de biogás a partir de matéria-prima agrícola do mundo, no interior de São Paulo. Uma fonte limpa de energia, com potencial para zero produção de carbono. Apesar das críticas, o país é também uma força no agronegócio, que busca se reinventar para caber nesse novo mundo, em que cuidar do planeta e das pessoas é a melhor forma de fazer negócios.
A Suzano, que faz muito tempo se preocupa com os temas de sustentabilidade, tem sido um exemplo a se seguir no âmbito mundial. Com ações reconhecidas por organizações de conservação internacionais, como a WWF, a Suzano sabe a origem de cada madeira com que trabalha, assegurando que não veio de áreas desmatadas. E exercita um comportamento base para a nossa transformação como sociedade. A colaboração para resolver grandes problemas. Ofereceu sua tecnologia de rastreamento a produtores de soja e carne, os mais pressionados a comprovar a origem de seus negócios.
Os exemplos são fortes. Inspiram. E há muitas outras oportunidades a serem exploradas para que tenhamos uma retomada verdadeiramente verde e social. Somos o país com a segunda maior área de florestas do mundo, atrás apenas da Rússia. E a floresta em pé é um dos grandes ativos do Brasil, com possibilidade de geração de emprego e renda baseada numa economia de cuidado. A Amazônia, por exemplo, representa 5% da superfície terrestre. É a maior reserva de biodiversidade biológica do planeta e atrai produtores de café, cosméticos e chocolate. Sem falar na Mata Atlântica, no Pantanal, no Cerrado, na Caatinga, nos Pampas. O que falta então para desfrutarmos da nossa riqueza e posição de liderança? Conectar as pontas. A dos interesses político e financeiro com a da responsabilidade com futuro.
Esses desafios não são exclusivos do Brasil, mas poucos países refutaram de forma tão contundente a realidade em 2020. Ninguém espera que os negócios e a política mudem de um dia para noite. Mas se espera compromisso com a mudança. E essa comunicação funciona porque é nesse estágio que o mundo se encontra.
A marca Brasil tem uma vocação verde natural, aos olhos do mundo desperdiçada. Há muito sendo feito, mas muito mais a se concretizar. Este papel de protagonismo na agenda verde, na agenda da retomada, é a grande oportunidade brasileira. O que fazer para tornar esta oportunidade uma realidade concreta? Mais diálogo, mais união, mais coalizões entre setores privados para acelerar transformações e comunicar que a marca Brasil é bonita por natureza e, acima de tudo, sábia em suas decisões.
2020 será lembrado pela pandemia. O ano em que lidamos com este inimigo sem rosto, que levou vidas e escancarou as mazelas do nosso país. 2020 é também o ano em que a imagem e a reputação do Brasil foram severamente abaladas, desencadeando uma desconfiança generalizada que afeta diretamente negócios e investimentos. A inação ou as decisões questionáveis do governo federal em relação a questões fundamentais, vinculadas tanto ao meio ambiente quanto à forma como conduzimos a nação neste momento de crise, geraram graves impactos na nossa imagem internacional.É frustrante assistir a mais um capítulo desta novela do Brasil como o país de um futuro que nunca chega.
Os efeitos das mensagens desencontradas da marca Brasil são concretos, a ponto de organizações internacionais, indignadas, nos cobrarem novos compromissos sob o risco de perdermos capital essencial para transformações. Foi o caso de 29 instituições financeiras, que gerenciam mais de US$ 3,7 trilhões em ativos totais, pedindo do governo federal ações, não palavras, pelo fim das queimadas na Amazônia.
Estamos expondo o Brasil a dias ainda mais sombrios. Nossa apatia diante de absurdos pode afugentar investimentos e serviços financeiros. Atuo no mercado de Private Equity há mais de uma década e nunca senti tamanha desconfiança de investidores internacionais em relação ao futuro do país. Ou agimos a partir de novos acordos de longo prazo com o planeta e com a sociedade ou perderemos mais uma oportunidade.
A tolerância do mundo diminuiu com a pandemia, já que todos perceberam que não há tempo sobrando. No mundo de hoje, quem insiste em dançar com passos antigos é convidado a deixar a festa. Como nós, brasileiros, sociedade civil, vamos seguir daqui para frente? Queremos estar entre os convidados para dançar em 2021 ou aceitaremos, passivos, ficar de fora? Mesmo que seja para tropeçar no começo, trocar os passos, é preciso entrar na roda com a intenção clara de apresentar soluções para um futuro em que todos caibam.
Este é um momento ímpar para investidores e empresários que podem (e devem!) assumir um papel de liderança para implementar as inúmeras transformações necessárias. E é também o momento de se comunicar com o mundo. Há muitas boas ações a compartilhar, e tantas outras para se construir. Não podemos fingir que os problemas deixaram de existir, mas precisamos olhar também para o que fazemos bem e inspirar ações semelhantes.
E, neste aspecto, o Brasil tem sido nota zero em comunicação. A partir de um governo que gera com robustez notícias negativas, iniciativas positivas são ofuscadas. Precisamos nos reposicionar. Reposicionar a marca Brasil a partir de exemplos concretos que já existem e inspiram mais ações conjuntas.
O país tem a maior reserva de água doce do mundo e é um dos que mais produzem energia limpa, com possibilidade para expandir e diversificar ainda mais. No último mês, por exemplo, a Raízen inaugurou a maior usina de biogás a partir de matéria-prima agrícola do mundo, no interior de São Paulo. Uma fonte limpa de energia, com potencial para zero produção de carbono. Apesar das críticas, o país é também uma força no agronegócio, que busca se reinventar para caber nesse novo mundo, em que cuidar do planeta e das pessoas é a melhor forma de fazer negócios.
A Suzano, que faz muito tempo se preocupa com os temas de sustentabilidade, tem sido um exemplo a se seguir no âmbito mundial. Com ações reconhecidas por organizações de conservação internacionais, como a WWF, a Suzano sabe a origem de cada madeira com que trabalha, assegurando que não veio de áreas desmatadas. E exercita um comportamento base para a nossa transformação como sociedade. A colaboração para resolver grandes problemas. Ofereceu sua tecnologia de rastreamento a produtores de soja e carne, os mais pressionados a comprovar a origem de seus negócios.
Os exemplos são fortes. Inspiram. E há muitas outras oportunidades a serem exploradas para que tenhamos uma retomada verdadeiramente verde e social. Somos o país com a segunda maior área de florestas do mundo, atrás apenas da Rússia. E a floresta em pé é um dos grandes ativos do Brasil, com possibilidade de geração de emprego e renda baseada numa economia de cuidado. A Amazônia, por exemplo, representa 5% da superfície terrestre. É a maior reserva de biodiversidade biológica do planeta e atrai produtores de café, cosméticos e chocolate. Sem falar na Mata Atlântica, no Pantanal, no Cerrado, na Caatinga, nos Pampas. O que falta então para desfrutarmos da nossa riqueza e posição de liderança? Conectar as pontas. A dos interesses político e financeiro com a da responsabilidade com futuro.
Esses desafios não são exclusivos do Brasil, mas poucos países refutaram de forma tão contundente a realidade em 2020. Ninguém espera que os negócios e a política mudem de um dia para noite. Mas se espera compromisso com a mudança. E essa comunicação funciona porque é nesse estágio que o mundo se encontra.
A marca Brasil tem uma vocação verde natural, aos olhos do mundo desperdiçada. Há muito sendo feito, mas muito mais a se concretizar. Este papel de protagonismo na agenda verde, na agenda da retomada, é a grande oportunidade brasileira. O que fazer para tornar esta oportunidade uma realidade concreta? Mais diálogo, mais união, mais coalizões entre setores privados para acelerar transformações e comunicar que a marca Brasil é bonita por natureza e, acima de tudo, sábia em suas decisões.