De boom à bomba: mais um capítulo das oportunidades perdidas pelo Brasil
A pandemia torna ainda mais desafiador endereçar soluções para que o Brasil se beneficie da sua imensa população em idade ativa, hoje desempregada
marianamartucci
Publicado em 20 de abril de 2021 às 16h49.
A população em idade ativa no Brasil, que inclui pessoas dos 15 aos 64 anos, está na casa dos 70% da população total. A maioria tem entre 15 e 44 anos. Essa modelagem etária é considerada ideal porque significa mão de obra em abundância e que, se bem aproveitada, oferece ao país níveis sem precedentes de crescimento e progresso social, comumente chamado de “boom demográfico”. A realidade, no entanto, é que essa janela de oportunidade etária está aberta há muito tempo, desde que começou a reduzir o número de nascimentos e aumentou a longevidade, e pouco nos beneficiamos da força geracional para gerar riqueza coletiva. Com a pandemia, nos afastamos ainda mais do que poderia ser um caminho de grande prosperidade inclusiva. E seguimos escalando problemas para um futuro nem tão distante, quando esses jovens, que não recebem a atenção necessária hoje, irão envelhecer e em condições piores que a das gerações anteriores.
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Aumentar a produtividade é a principal forma de gerar riqueza para um país e por isso o boom demográfico é estratégico. O aumento populacional oferece quantidade – uma riqueza de pessoas disponíveis para trabalhar e gerar crescimento econômico. Entretanto, não basta a quantidade, é fundamental também a qualidade. Ou seja, é fundamental que a mão de obra disponível: a) receba treinamento, para que possa ser empregada nos setores que representam crescimento; b) seja de fato empregada, para que possam gerar valor a partir de seu trabalho.
Vivemos e aproveitamos um pouco do potencial de produtividade etário entre 2011 e 2014, quando o número de vagas para atender a população em idade ativa cresceu em relação à população total. Depois disso, mergulhamos num looping de desemprego crescente que se agravou como tantos outros problemas a partir de 2020. Essa explosão demográfica em vez de desencadear prosperidade sucumbiu, silenciosa, aos desencontros, incertezas e visão de curto prazo do nosso país.
O boom demográfico, para ser sinônimo de riqueza, precisa ser cultivado ao longo de décadas. E alguns países aproveitaram com inteligência esse momento, crescendo economicamente, caso do Japão, Tailândia, Coréia do Sul e, mais recentemente, a China. Como eles conseguiram? Basicamente, investiram em proporcionar um ecossistema saudável e em políticas inclusivas para crianças e jovens. Investiram com estratégia e comprometimento em educação e qualificação profissional. Tanto que hoje a Coréia do Sul aparece como um dos sistemas de ensino mais respeitados do mundo.
Está claro, então, que só nos resta investir em educação, qualificação, empreendedorismo, em pessoas com capacidade de criar, inovar, apresentar soluções, se reinventar. Esta é a ação urgente e necessária para aproveitar o bônus demográfico. Mas esbarramos na complexidade do cenário atual, com escolas fechadas, crianças que podem nem mesmo aprender a ler, jovens sem acesso à Internet para seguir aulas remotas. E, assim, a bomba demográfica começa a acelerar os ponteiros para explodir em algum momento breve do futuro.
É o bônus se transformando em ônus demográfico, quando aumenta o número de pessoas dependentes na economia! É o principal risco de não aproveitar o formato da pirâmide enquanto ainda é benéfico e gerar prosperidade a partir dele. Em 2060, daqui breves 39 anos, o número de pessoas acima dos 65 anos será de 25,48%. Para ter uma ideia, essa população hoje é de 10,15%. Idosos que são jovens hoje e sem oportunidades.
A consequência dessa série de desperdícios é a desilusão, principalmente entre os mais jovens, também os mais afetados pelo desemprego. Como se pudéssemos nos dar a esse luxo num momento de reconstruir a economia, mas com novos olhares. E trazer a oportunidade do boom demográfico para a lupa estratégica de políticas públicas e investimentos privados, porque ainda temos tempo. Segundo projeções do IBGE, a queda na população em idade ativa irá se acentuar na década de 2040, quando começa a seguir abaixo dos 66%. Claro, é preciso aguardar as modificações demográficas da pandemia. O que é certo é que caminhamos, como já ocorre em vários outros países, para sermos um país idoso.
Se aceitarmos a condição de que milhões de jovens seguirão à margem das oportunidades sociais, de educação, e da cadeia produtiva, veremos uma geração mais pobre como nunca no Brasil e quem sabe, mais revoltada. Elemento propulsor de conflitos e de instabilidade social. O senso comum é que, ao envelhecer, o patrimônio aumenta ao longo dos anos e você poderia desfrutar da longevidade com tranquilidade. O que salta aos olhos, no entanto, é que nossos idosos, e em vários outros países, dependem cada vez mais de um sistema previdenciário incapaz de atender às expectativas de outrora.
Tenho conversado com várias empresas e existe, sim, capital privado efervescente por qualificar, treinar crianças e jovens para o amanhã. Falta é um movimento coordenado, como está claro no combate à pandemia no país. É urgente uma política nacional independente de partido porque o Brasil seguirá com seus problemas ao final de cada mandato e com bombas prontas para explodir.
A população em idade ativa no Brasil, que inclui pessoas dos 15 aos 64 anos, está na casa dos 70% da população total. A maioria tem entre 15 e 44 anos. Essa modelagem etária é considerada ideal porque significa mão de obra em abundância e que, se bem aproveitada, oferece ao país níveis sem precedentes de crescimento e progresso social, comumente chamado de “boom demográfico”. A realidade, no entanto, é que essa janela de oportunidade etária está aberta há muito tempo, desde que começou a reduzir o número de nascimentos e aumentou a longevidade, e pouco nos beneficiamos da força geracional para gerar riqueza coletiva. Com a pandemia, nos afastamos ainda mais do que poderia ser um caminho de grande prosperidade inclusiva. E seguimos escalando problemas para um futuro nem tão distante, quando esses jovens, que não recebem a atenção necessária hoje, irão envelhecer e em condições piores que a das gerações anteriores.
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Aumentar a produtividade é a principal forma de gerar riqueza para um país e por isso o boom demográfico é estratégico. O aumento populacional oferece quantidade – uma riqueza de pessoas disponíveis para trabalhar e gerar crescimento econômico. Entretanto, não basta a quantidade, é fundamental também a qualidade. Ou seja, é fundamental que a mão de obra disponível: a) receba treinamento, para que possa ser empregada nos setores que representam crescimento; b) seja de fato empregada, para que possam gerar valor a partir de seu trabalho.
Vivemos e aproveitamos um pouco do potencial de produtividade etário entre 2011 e 2014, quando o número de vagas para atender a população em idade ativa cresceu em relação à população total. Depois disso, mergulhamos num looping de desemprego crescente que se agravou como tantos outros problemas a partir de 2020. Essa explosão demográfica em vez de desencadear prosperidade sucumbiu, silenciosa, aos desencontros, incertezas e visão de curto prazo do nosso país.
O boom demográfico, para ser sinônimo de riqueza, precisa ser cultivado ao longo de décadas. E alguns países aproveitaram com inteligência esse momento, crescendo economicamente, caso do Japão, Tailândia, Coréia do Sul e, mais recentemente, a China. Como eles conseguiram? Basicamente, investiram em proporcionar um ecossistema saudável e em políticas inclusivas para crianças e jovens. Investiram com estratégia e comprometimento em educação e qualificação profissional. Tanto que hoje a Coréia do Sul aparece como um dos sistemas de ensino mais respeitados do mundo.
Está claro, então, que só nos resta investir em educação, qualificação, empreendedorismo, em pessoas com capacidade de criar, inovar, apresentar soluções, se reinventar. Esta é a ação urgente e necessária para aproveitar o bônus demográfico. Mas esbarramos na complexidade do cenário atual, com escolas fechadas, crianças que podem nem mesmo aprender a ler, jovens sem acesso à Internet para seguir aulas remotas. E, assim, a bomba demográfica começa a acelerar os ponteiros para explodir em algum momento breve do futuro.
É o bônus se transformando em ônus demográfico, quando aumenta o número de pessoas dependentes na economia! É o principal risco de não aproveitar o formato da pirâmide enquanto ainda é benéfico e gerar prosperidade a partir dele. Em 2060, daqui breves 39 anos, o número de pessoas acima dos 65 anos será de 25,48%. Para ter uma ideia, essa população hoje é de 10,15%. Idosos que são jovens hoje e sem oportunidades.
A consequência dessa série de desperdícios é a desilusão, principalmente entre os mais jovens, também os mais afetados pelo desemprego. Como se pudéssemos nos dar a esse luxo num momento de reconstruir a economia, mas com novos olhares. E trazer a oportunidade do boom demográfico para a lupa estratégica de políticas públicas e investimentos privados, porque ainda temos tempo. Segundo projeções do IBGE, a queda na população em idade ativa irá se acentuar na década de 2040, quando começa a seguir abaixo dos 66%. Claro, é preciso aguardar as modificações demográficas da pandemia. O que é certo é que caminhamos, como já ocorre em vários outros países, para sermos um país idoso.
Se aceitarmos a condição de que milhões de jovens seguirão à margem das oportunidades sociais, de educação, e da cadeia produtiva, veremos uma geração mais pobre como nunca no Brasil e quem sabe, mais revoltada. Elemento propulsor de conflitos e de instabilidade social. O senso comum é que, ao envelhecer, o patrimônio aumenta ao longo dos anos e você poderia desfrutar da longevidade com tranquilidade. O que salta aos olhos, no entanto, é que nossos idosos, e em vários outros países, dependem cada vez mais de um sistema previdenciário incapaz de atender às expectativas de outrora.
Tenho conversado com várias empresas e existe, sim, capital privado efervescente por qualificar, treinar crianças e jovens para o amanhã. Falta é um movimento coordenado, como está claro no combate à pandemia no país. É urgente uma política nacional independente de partido porque o Brasil seguirá com seus problemas ao final de cada mandato e com bombas prontas para explodir.