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PT abalado pela fragilidade de Lula

É alto o risco de o PT não só ver Lula inelegível, mas também encolher em número de governadores, senadores e deputados eleitos

MANIFESTAÇÃO PRÓ-LULA: “insistência do PT em uma narrativa que emociona militantes mas não convence o eleitorado é errada”  / Paulo Whitaker/ Reuters
MANIFESTAÇÃO PRÓ-LULA: “insistência do PT em uma narrativa que emociona militantes mas não convence o eleitorado é errada” / Paulo Whitaker/ Reuters
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Lucas de Aragão

Publicado em 31 de janeiro de 2018 às, 11h42.

Mesmo estando inelegível e com poucos recursos disponíveis para alterar o quadro de sua condenação na esfera criminal, o ex-presidente Lula foi lançado na quinta-feira 25 pelo PT como pré-candidato ao Palácio do Planalto nas eleições deste ano. O movimento visa explorar a estratégia de “vitimização” de Lula, usada desde o início das investigações da Operação Lava-Jato.

Lula e o PT têm apelado para a radicalização do discurso também como forma de manter a militância mobilizada e criar um clima de comoção nas ruas. Justamente por isso o partido passou a pregar a “desobediência” a decisões judiciais. Tais ações sinalizam que a legenda avalia como remota a reversão da inelegibilidade do ex-presidente nos tribunais superiores. Nas rodas de Brasília, deputados do PT já falam abertamente dos cenários pós-Lula.

Mais do que isso, o PT emite sinais de preocupação com a possibilidade de prisão de Lula. Além de a Justiça Federal do Distrito Federal ter determinado a apreensão de seu passaporte, o partido se mobiliza para tentar alterar no Supremo Tribunal Federal (STF) o entendimento de que o cumprimento da pena (em regime fechado) já deve ocorrer após a condenação em segunda instância.

A presidente do STF, ministra Carmen Lúcia, deixou Lula e seus advogados preocupados com a recente declaração de que revisar prisão após 2ª instância por Lula seria apequenar STF. A consequência imediata veio com o pedido de habeas corpus preventivo enviado ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Como previsto, não deu certo.

A não ser que o ex-presidente seja preso antes do prazo-limite de registro de sua candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou seja, até 15 de agosto, o PT deverá continuar insistindo em seu nome como opção eleitoral. Mas nos bastidores os petistas consideram a inelegibilidade irreversível. Por isso a ideia é utilizar o que resta do capital político de Lula para alavancar o “plano B”, que hoje se concentra no ex-governador da Bahia Jaques Wagner. Outra opção seria Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e coordenador do programa de governo do ex-presidente. A dúvida é o timing. Parte do PT acredita que a melhor estratégia é a vitimização de Lula até o final, enquanto outros começam a perder a paciência e querem uma posição firme do partido o quanto antes.

Mesmo que Lula alongue pelo maior tempo possível sua pré-campanha, o PT deve viver um clima interno de grande incerteza diante do cenário “pós-Lula” que se apresenta para o partido, independentemente da prisão ou não do ex-presidente. Além de inexistência de um nome alternativo a Lula com peso político similar (Wagner e Haddad são lideranças políticas regionais), ao abraçar incondicionalmente a defesa do ex-presidente o PT ficou sem discurso e refém da vitimização.

A insistência do PT em uma narrativa que emociona militantes mas não convence o eleitorado é errada. Enquanto o partido esfacela na base, com perda de quadros em quase todos os postos eletivos, seu principal grupo político parece se preocupar na improvável tese de que Lula será candidato e eleito nos braços do povo. Pode até acontecer, mas sua alta improbabilidade transforma o plano em wishful thinking, não em estratégia. Deveriam estar pensando na base da pirâmide petista, não no topo.

É alto o risco de o partido não só ver Lula inelegível, mas também encolher em número de governadores, senadores e deputados eleitos, conforme já ocorreu nas eleições municipais de 2016, para prefeito e vereador.

Tudo isso afetará negativamente não apenas o partido, mas a própria esquerda brasileira, que assiste ao desmonte da força política que hegemonizava o setor.