Crise aumenta questionamentos no MDB e no PSDB
A greve dos caminhoneiros criou um fato novo na agenda política, enfraquecendo o governo Temer e pré-candidaturas ao Palácio do Planalto
Publicado em 5 de junho de 2018 às, 17h33.
Última atualização em 5 de junho de 2018 às, 18h00.
A paralisação dos caminhoneiros em todo o país (21/05 a 31/05), mesmo contornada após diversas ações do governo, como a redução do preço do diesel, criou um fato novo na agenda política com potencial para desgastar ainda mais o chamado establishment. Somando a tal fato a saída de Pedro Parente da presidência da Petrobras, o impacto desse contexto sobre a economia retarda a recuperação do emprego e do poder de consumo da população.
Além do enfraquecimento ainda maior do governo Temer (MDB) e, como consequência, de seu partido, a atual crise aumenta os questionamentos no PSDB em torno da pré-candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência nas eleições de outubro. Assim, com os dois principais polos de centro atingidos (MDB e PSDB), cresce o temor sobre a inviabilidade eleitoral do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, opção do MDB, e de Alckmin.
No MDB, acredita-se que Meirelles deverá enfrentar ainda mais obstáculos, podendo até mesmo ser derrotado em julho na convenção nacional que definirá o destino do partido na sucessão presidencial. Embora Meirelles disponha de recursos para bancar sua candidatura, o fato de não possuir militância no partido num cenário em que seu principal ativo eleitoral (a economia) foi fortemente comprometido pode inviabilizá-lo.
Interessados em seus projetos regionais de poder, os caciques emedebistas buscarão intensificar seu afastamento do governo Temer. Não por acaso, e para dificultar ainda mais o caminho de Meirelles, setores do MDB começam a especular sobre o nome do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim (MDB) como presidenciável.
No PSDB, cresce a pressão sobre Alckmin. Com menos de 10% das intenções de voto nas pesquisas e sequer liderando a corrida presidencial em São Paulo, seu reduto eleitoral, os argumentos do pré-candidato de que ele crescerá no momento certo são vistos cada vez com mais ceticismo no ninho tucano. De forma tímida, sua substituição já é aventada nos bastidores. O ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB), hoje pré-candidato a governador, é citado como alternativa. Porém, como é Alckmin quem controla o diretório nacional, a troca de candidato hoje ainda é remota.
Quem ganha com o enfraquecimento do centro são os extremos. Pelo campo da direita, Jair Bolsonaro (PSL). E, pela esquerda, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), que lutam para, além de atrair o eleitor lulista, se credenciarem como opção num cenário de grande turbulência e instabilidade.
Ciro parece ter mais fôlego do que Marina. Possui maior estrutura partidária e capilaridade em centros estratégicos, como o Nordeste. Precisará contornar o seu temperamento impulsivo e uma imensa desconfiança do mercado, ainda que este último não o afete eleitoralmente. Já em agosto também batalhará contra o real candidato petista, provavelmente Fernando Haddad.
Já Bolsonaro mostra fôlego, mas precisará provar sua resistência. Sua resiliência e narrativa eleitoral impressionam, mas em um país onde amarras políticas ainda contam pontos, ele precisará aglutinar apoio para manter a força.
As eleições estão em aberto e assim continuarão até as últimas semanas. Serão, sem duvida, as eleições presidenciais mais emocionantes dos últimos ciclos. Acredito que apenas na reta final saberemos se o candidato do centro, seja ele quem for, conseguirá ir ao segundo turno, bem como qual candidato de esquerda também estará lá.